Escritas do cotidiano na educação infantil: modos de estar atentos a si e aos outros

Organização: Keila Santos Pinto, Laura Noemi Chaluh

R$35.00

PREFÁCIO

Para não dizerem que falei só de
narrativas de professoras!

Guilherme do Val Toledo Prado[1]

Foi com muita emoção que aceitei prefaciar esta obra, organizada pelas colegas Laura Noemi Chaluh e Keila Santos Pinto, com o expressivo título “Escritas do Cotidiano na Educação Infantil: modos de estar atentos a si e aos outros”.

Penso eu que um primeiro destaque a fazer é o compromisso estabelecido que se anuncia nas plurais palavras “modos de estar”. “Modos de estar” que, assumidos e vividos por suas organizadoras de maneira intensa e atentas, verdadeiras militantes na profissão que, em atos pedagógicos realizados em diferentes propostas de formação, possibilitaram que as vozes de outros – autoras e autores dessa obra – também constituídos de múltiplas vozes de si (pelos compromissos assumidos em diversas instâncias sociais), inscrevam também, em suas breves narrativas, as vozes de seus interlocutores mais próximos – seus outros (estudantes e colegas), constituindo nesta plêiade narrativa plural, uma dimensão transformadora necessária no e ao campo educacional.

As breves narrativas presentes nesta obra, que nós do GEPEC – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada – desde 2008, temos chamado de “pipocas pedagógicas”, evidenciam a dimensão transformada e transformadora, referida nas diversas palavras, acontecimentos e situações cotidianas vividas, que cada uma das narrativas apresenta e que possibilita, aos diversos leitores que as saboreiam, rememorar e viajar nos percursos discursivos a produzir novas possibilidades de pensamento-ação ou, como diria o Mestre Paulo Freire, verdadeiros inéditos viáveis no campo do cotidiano escolar educativo.

E os percursos apresentados levam-nos – seus leitores e leitoras – pelas paisagens das escolas de diversas regiões do interior do Estado de São Paulo, por histórias das pessoas que pelas escolas passaram ou que pelas escolas lutaram, e lutam, nos diversos contextos formativos da profissão docente; paisagens que revelam as marcas históricas das pessoas que construíram práticas em um tempo outro ou que, em um outro tempo, produziram novas possibilidades de percorrer as mesmas – mas sempre outras – paisagens contemporâneas no âmbito da educação, notadamente aquelas orientadas para as prática educativas com a/na Infância.

Percursos pedagógicos reveladores do esforço de preservar e dar novos sentidos ao cotidiano escolar – passado ou presente, mas que apontam para um futuro porvir, ineditamente viável, no dia a dia da população caipira do estado de São Paulo e seus profissionais da educação.

As vozes presentes em cada uma das narrativas pedagógicas, escritas por estudantes da Pedagogia e estagiários na Educação Infantil, que compõem esta obra coletiva, tomam os pequenos outros, em uma dimensão singular de alteridade, constitutiva da produção de sentidos acerca das questões educacionais, possibilitando que o diálogo entre o local e o global, tão bem apresentado por Milton Santos e Boaventura Santos, seja produzido a partir do diálogo entre as pessoas e os diversos coletivos de que participam, em diferentes instâncias formativas.

À medida que a leitura de cada um dos textos se encerra, podemos compreender que o compromisso assumido em apresentar os percursos e paisagens das diferentes vozes neles inscritos cria uma dimensão formativa que transcende o contexto educacional e nos convida, enquanto pessoas e cidadãos do mundo, a não só acreditar nas micromudanças sociais, mas a visualizar possibilidades de transformação e justiça social na educação de crianças.

Este conjunto de “pipocas pedagógicas”, profundamente necessária e original no tratamento das temáticas educacionais porquê da perspectiva de seus produtores mais diretos – estudantes/estagiários, em diálogo com outras “pipocas pedagógicas”, produzidas por professores e profissionais da escola, que acontecem em outras instâncias discursivas, apresenta-nos uma outra forma de pensar as práticas de formação escolares, situadas e comprometidas com o desenvolvimento humano de todos os seus participantes, com especial destaque aos alunos e alunas da escola básica. Afinal, como diz o poeta, Geraldo Vandré, “…caminhando e cantando, seguindo a canção,/ somos todos iguais, braços dados ou não,/ nas escolas, nas ruas, campos, construções…”

É um registro singular e reconfortante que, ao revelar a precariedade das condições materiais e simbólicas a que estão sujeitas as instituições educacionais, principalmente as públicas, apresenta a possibilidade de avançar nas conquistas – com o conhecimento, com a cultura, com a união de forças sociais, só possíveis de agregar pela partilha e pelo diálogo, em princípios solidários e igualitários.

Nesse sentido, essas potentes narrativas podem tornar-se leitura obrigatória não só por sua dimensão singular, como também por sua dimensão utópica, tão necessária nestes tempos de individuação e meritocracia.

Em cursos de formação inicial de professores, ou mesmo de formação continuada, aqueles que conhecem as “pipocas pedagógicas”, bem como outras narrativas da escola, ampliam os sentidos delas, agregando-os aos conhecimentos da formação ou da experiência e, surpreendentemente, se veem também inspirados a produzirem suas breves narrativas da escola e na escola, suas próprias “pipocas pedagógicas”, colecionando novos e outros modos de ensinar e aprender.

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber,/ quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Para encerrar esta apresentação, não posso deixar de lembrar do poema de Manoel de Barros, no livro “Cantigas por um passarinho à toa”, que nos questiona: “O saber não vem das fontes?” Pelas palavras do poeta, digo a todos, nomeando Laura e Keila, que as fontes da formação são diálogos entre as raízes e as folhas que colhemos em nossos quintais – seja em Rio Claro, Campinas… e em outros mais que possamos trilhar.

Santos, março de 2019.

[1] Professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas e Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC).

Ano de lançamento

2019

ISBN

978-85-7993-679-1

Número de páginas

95

Organização

Keila Santos Pinto, Laura Noemi Chaluh

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