A narrativa como formação não é um movimento simples. Narrar a própria prática profissional exige do autor coragem e humildade para revê-la, interrogá-la, a fim de dar sentido ao que foi realizado, refletir sobre ela para, assim, projetar sua prática futura. Karine Rodrigues Ramos, por meio de sua pesquisa de doutorado, apresenta para seu leitor a narrativa de sua prática, como coordenadora e formadora de um grupo de professoras da Educação Infantil. Esta publicação, fruto de sua tese, é oportuna ao apresentar toda sua experiência na área da educação e, especialmente, no campo da formação continuada de professores.
Como poderá ser percebido na leitura deste livro, a formação para Karine não deve ser feita de maneira isolada, mas sim passar por um grupo, um grupo de estudo que suscite o processo de reflexão da e na prática dos professores envolvidos. Trata-se de proporcionar aos docentes a oportunidade para que narrem suas dúvidas, angústias e experiências, seus desejos de aprofundamento teórico como trajetos formativos entre pares. Nesse processo, o objeto de reflexão contínua é a prática, cuja intenção é desenvolver nos professores a consciência crítica dela, no sentido de proporcionar uma transformação do seu olhar de como educar as crianças e suas infâncias, por meio das relações que se estabelecem no processo educativo, a fim de torná-la uma prática ética.
Frente à esta concepção de prática formativa e, como formadora, desenvolveu os seguintes questionamentos: quais marcas e contribuições a participação de professores em uma formação continuada na modalidade grupo de estudos pode deixar no processo de desenvolvimento profissional? Como essa participação revela um pensar, refletir e transformar? Seu objetivo foi tornar visível as marcas e as contribuições da participação de professores de educação infantil em formação continuada na modalidade grupo de estudos. Para tal percepção e compreensão dessas marcas, sua escuta ativa se manifestou, considerando seus professores como protagonistas deste grupo, como atores e autores reconhecidos por todos.
Apoiada em estudos que versam sobre narrativas, formação continuada e grupos de estudos a formação aqui apresentada também se baseou nos estudos que realizou em Reggio Emilia e na publicação de Carla Rinaldi, “Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender”, cuja obra nos apresenta uma experiência de formação que considera a comunidade, o grupo, como elo para uma educação inclusiva, coletiva, humanista, que ouve a voz de todos os que dela participam.
Sem querer apresentar os resultados deste belo estudo, os depoimentos das professoras revelam inúmeros aspectos que uma formação centrada nas suas necessidades, na consciência de grupo como também na escuta das infâncias é capaz de promover, especialmente no que diz respeito ao pensar, ao refletir e ao transformar ações vividas na prática profissional das participantes. As documentações pedagógicas apresentadas neste livro, nos permite visualizar a capacidade de concretização do conhecimento que foi adquirido no processo da formação pelas docentes. A pesquisa sugere que os professores de educação infantil, ao pensarem e dialogarem juntos sobre o cotidiano vivido na prática, refletem sobre suas teorias, questionam certezas e pensam criticamente sobre novas teorias e abordagens que surgem no dia a dia do cenário educacional brasileiro.
Como amiga e colega de profissão, me sinto feliz por apresentar Karine que oferece sua pesquisa para ser compartilhada. Com esta alegria, felicito o leitor pela escolha.
São Paulo, março de 2021.
Adriana Teixeira Reis
Professora, pós-doutoranda no
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação:
Psicologia da Educação,
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
