APRESENTAÇÃO
Em 2016, o Grupo de Estudos do Gênero do Discurso se lançou a novo desafio: pensar nossas reuniões como colóquios, realizadas uma vez ao mês. Assim, ao longo do primeiro semestre deste ano, nos sentamos em roda em encontros mensais, para discutir temas e questões que ainda nos inquietavam em nossos estudos acerca dos pensamentos do Círculo de Bakhtin.
As discussões mensais ocorriam ao longo de um dia inteiro, com conversadores convidados, que se propunham a trazer e provocar questões, dentro dos temas propostos. No encontro de maio, organizamos “XXII Colóquio bakhtiniano: a leitura como modo”. Neste momento, nos empenhamos em pensar a leitura por um olhar bakhtiniano. O Círculo de Bakhtin não pensou sobre a ato de ler propriamente dito, mas muito se refletiu no interior daquele grupo sobre o processo ativo de compreensão, no caráter ativo-responsivo do enunciado e, sobretudo, sobre o encontro Eu-Outro que se dá na interação verbal. Os trabalhos que aqui se apresentam são inspirados pelo encontro de maio e buscam pensar a leitura com Bakhtin, tomando pedaços singulares do mundo para empreender essas compreensões.
Assim, o GEGe vai circulando, juntando e somando vozes, pesquisas, trabalhos, compreensões, que passam por meio de gegelianos espalhados por Marília, Chapecó, Ribeirão Preto, Recife, Bari, São Carlos, Barequeçaba, São Paulo, Cerro Largo, Piracicaba, Vitória, Bauru, Araraquara, Pau dos Ferros, Cascavel, Bagé, Passos de Minas… empenhados na troca, escrita, escuta, fazendo circular os dizeres e pensares de Bakhtin, em suas atuações profissionais, na sala de aula ou em outros espaços, no fazer científico, no fazer um mundo melhor, mais humano e não-indiferente ao Outro. Além de tantos outros livros que já publicamos, esse é o oitavo volume da série “Palavras e contrapalavras”. Ainda é um livro para iniciantes, no sentido de levar nossas vozes, os sentidos de nossos estudos bakhtinianos, a outros companheiros de estrada; é nosso jeito de nos colocarmos na escuta; e de colocar nossas palavras pra andar. Liberdade da palavra! Dessa maneira, podemos dizer que a leitura e a compreensão dialógica se tornam, ao longo de toda a história desse grupo de estudos, o próprio motor para nossas discussões, que se propõem a alargar cada vez mais nossas compreensões em nossos trabalhos, buscando acolher vozes outras e leituras outras. Portanto, aqui se apresentam nossas leituras sobre a leitura, contrapalavras sobre contrapalavras, compreensões acerca da compreensão.
Convidamos, então, às leituras responsivas e respondentes dos textos que compõem este volume, com compreensões que dialogam com: as fronteiras de espaço e de tempo da leitura na relação com a docência; a leitura nos diálogos entre gêneros, entre diferentes vozes e entre a arte e a vida; a dialética da alteridade; leituras dialógicas acerca das mudanças climáticas; leituras translógicas e decolonizadas para além das palavras; dez teses acerca da leitura a partir do pensamento bakhtiniano; notas sobre leituras de Bakhtin no diálogo com Marx; leituras em enunciados musicais e o sujeito caipira; rodas de leitura e leituras construídas sobre o mundo com Bakhtin; leituras da heterociência bakhtiniana; pensares sobre leitura e seus encaminhamentos; leituras e releituras de pedaços do mundo mediadas pela palavra; leituras da estética do cotidiano na relação com o empoderamento da mulher negra; as relações entre linguagem, leitura e surdez; as formas de ser e de estar mediadas pela leitura; o documentário como porta de entrada de leituras do cotidiano; a palavra de Marx como palavra outra em Bakhtin; a leitura como compreensão ativa e responsiva e seus sentidos para Bakhtin.
Todos esses textos escritos por sujeitos que, de dentro das especificidades de suas áreas de formação e de atuação, propuseram-se a um exercício de ausculta de possibilidades outras de construir sentidos e compreensões. Somos professores nos diversos níveis e instituições de ensino, alunos de mestrado e de doutorado, pós-doutorandos, enfim, somos sujeitos que se propõem a estudar o pensamento de Mikhail Bakhtin e do Círculo e que, aqui, neste volume do Palavras e Contrapalavras, se colocam no movimento de ler pedaços singulares de mundo com Bakhtin. Acreditamos que todas essas leituras sobre leituras convergem para uma principal questão bakhtiniana: aquela que versa sobre a necessidade de se olhar para o mundo e para a vida enquanto singularidade, povoados por outras vozes, reconhecendo as relações de alteridade e o mundo como ação humana responsável, considerando outras leituras e compreensões sobre um mesmo objeto, outros modos de olhar.
Continuamos firmemente interessados na vida. Na vida singular, única. E a vida sempre foi e sempre será dialógica por natureza, como nos diz Bakhtin, e continua dialógica na sua natureza social.
