Patrimônio Amoipirá-Tupinambá

Celito Kestering

INTRODUÇÃO

Bem havia eu chegado em Juazeiro da Bahia, na primeira quinzena de março de 1977, quando se fechavam as comportas da Barragem de Sobradinho cujos efeitos traumáticos à população ribeirinha justificaram minha nserção em trabalhos de preventiva organização popular nas terras do Sertão de Francisco Pereira Rodelas. Antes mesmo de apresentar-me aos funcionários da secretaria da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF), Josefina Prado Lemos, então agente pastoral da Diocese, convidou-me a testemunhar com ela a invasão que a água represada do Rio São Francisco impunha às ruas da velha cidade de Casa Nova.

Mal chegados ao povoado de Papagaio, próximo ao distrito de Santana do Sobrado, populares informavam que os restos da velha aldeia sagrada Amoipirá, onde se edificara a antiga cidade dos Viana não mais se poderia ver porque o Riacho do Mosquito inundara a estrada que lhe dava acesso. Disse-se a nós que agricultores de Sobradinho, Sento Sé e Casa Nova estavam a surpreender-se também com a água do lago artificial a invadir seu patrimônio material (posses, propriedades e benfeitorias) sem que lhes houvesse sido paga indenização justa qualquer. Havia um conflito homérico entre o que era conveniente ressarcir. Aos prepostos da empresa responsável pela construção da Barragem, quinquilharias seriam mais que suficientes para calar a voz dos insubordinados agricultores justafluviais. Dizia-se que, naquele contexto (lugar e momento) melhor seria não estarem a ocupar as terras das quais o progresso exigia melhor usufruto e rentabilidade econômica, pelo represamento compulsório das águas do sempre pródigo Velho Chico. Argumentava-se que era necessário o sacrifício dos ribeirinhos frente à premência de se gerar muita energia para consumo de um seleto rol de eletro intensivas multinacionais cujas matrizes sediavam-se majoritariamente no Hemisfério Norte.

Ano de lançamento

2021

Autoria

Celito Kestering

ISBN

978-65-5869-501-1

ISBN [e-book]

978-65-5869-899-9

Número de páginas

246

Formato