Existem livros que permitem observar fenômenos conhecidos segundo perspectivas inesperadas. O trabalho de Leila Tabosa sobre Soror Juana pertence sem nenhuma dúvida à essa categoria. É uma pesquisa que subverte clichês, questiona conhecimentos acriticamente recebidos. A concepção do barroco que prevalece ainda hoje no senso comum remete a caraterísticas quais redundância, exagero, grandiloquência. Lendo o trabalho de Leila Tabosa o leitor persuade-se de que é necessário reconsiderar tal ideia estereotipada: as reflexões sobre o papel da matemática na obra de Soror Juana são de admirável relevância, assim como as considerações acerca da emblemática, permitindo entender que o barroco de Neptuno alegórico representa antes de qualquer outra coisa um extraordinário desafio conceitual. Folheando as paginas escritas por Leila Tabosa entendemos claramente que o trabalho de Soror Juana constitui uma “repetição diferente” do barroco da Espanha metropolitana: uma reinvenção não apenas de um estilo, mas de um paradigma. A autora estuda a peculiaridade de uma literatura, “cuja arte – são palavras da própria Leila Tabosa – “revela uma expressão que reflete o Barroco
produzido na América de maneira a agregar arte e ciência em seus escritos”. O impressionante rigor teórico da pesquisa de Leila Tabosa é a melhor introdução possível a originalidade incomum de Neptuno alegórico.
Yuri Brunello
(PPGLetras/UFC)
