Docência e Educação de Jovens e Adultos

Emanuela de Souza Cordeiro, Izanete Marques Souza, Natalino Neves da Silva

APRESENTAÇÃO

Prefaciar um livro fruto de produções acadêmicas realizadas por educadores e educadoras que se ocupam da Educação de Jovens e Adultos tem pra mim sabor de afeto. Logo depois de receber o convite e dar o meu festivo aceite, fiquei a me imaginar no IF Baiano Campus Itapetinga, e nele, em diálogo com diferentes professores/as em formação continuada que deram corpo e forma ao curso de Especialização em Leitura e Produção Textual aplicadas à EJA. Fiquei a imaginá-los/as na labuta cotidiana da (auto)formação e da sala de aula com os sujeitos da aprendizagem; e tentei identificar qual desafio impulsionou cada um/a à buscar saber mais sobre estes sujeitos e os desafios que encontram no processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

Reconhecendo ser este o lugar de início do fazer didáticopedagógico, quase consegui ouvir as suas vozes na leitura dos artigos e, neste momento, o meu esperançar se fez mais forte. Aprendemos tanto ouvindo os/as nossos/as! Daí, mais uma vez, o meu reconhecimento à assertividade do Professor Miguel Arroyo, quando nos disse que, por seu caráter político-pedagógico, a EJA é a oferta educacional que mais tem a ensinar a todas as outras. Para mim, isto é fato!

Os artigos que dão forma ao livro expressam a diversidade de temas pertinentes à condição de vida de estudantes da EJA. Os/As autores/as a reconhecem enquanto modalidade da Educação Básica destinada a coletivos considerados “outros” ou “diversos”. Pessoas marcadas socialmente por conta de sua raça/etnia, gênero, classe social, cultura, idade e território que habita. Àqueles/as que herdam do perverso processo de colonização do nosso país o peso histórico de, sistematicamente, serem empurrados para as margens da sociedade por não representarem a cultura branca e patriarcal, a qual insiste em organizar os países colonizados e, consequentemente, as nossas escolas. Desta forma, nos chama a atenção o fato de encontramos nesta produção científica o compromisso com a Educação Popular, revelada através da produção saberes científicos de forma solidária aos estudantes da EJA. Aqui, fez-se a opção pelos “esfarrapados do mundo”, como nos ensinou Paulo Feire.

A posição política anunciada já nos temas trabalhados, é ponto que merece destaque, especialmente porque a produção se deu no contexto pandêmico da Covid-19 e, neste, uma série de desafios precisaram ser enfrentados: existenciais, sociais, econômicos… Para além, nós, educadoras/es, precisamos lidar também com desafios técnicos e tecnológicos no processo de ensino. O tele-trabalho se instalou em nossas vidas, exigindo de nós novas e urgentes aprendizagens; assim como o investimento em equipamentos. Tudo isto, em meio a crises política, econômica, social, cultural, ética e estética, iniciadas, ou ao menos aprofundadas, em 2016, quando o golpe políticojudiciário e midiático aparelhou o estado brasileiro segundo a lógica da iniciativa privada. Assim, este tempo histórico tem resultado na perda de direitos civis, precarização do trabalho, sucateamento da educação e da cultura, empobrecimento das famílias, fechamento de escolas e militarização de outras e, ainda, a diminuição de bolsas para estudo, iniciação à docência e residência pedagógica. Enfim, vivemos tempos de inúmeras crises e, assim, nada melhor que o enfrentamento delas para que possamos garantir maiores e melhores possibilidades educacionais a trabalhadores e trabalhadoras que estudam a EJA. O acesso aos saberes formais, precisa ser capaz de emancipar!

Fruto da ação-reflexão-ação de educadores e educadoras que problematizam as teorias, interrogam as suas práticas e atribuem significado a práxis pedagógica, é a materialização desta produção. Que possamos, pois, nos permitir sentar-se à sombra das suas mangueiras e nela dialogar acerca dos temas que nos apresentam. O convite perpassa pela postura amorosa de acolhimento à diversidade de sujeitos apresentada nos diferentes capítulos; mas, também, pelo reconhecimento do direito, que lhes é próprio, de acessar a escola básica pública, laica, democrática e de qualidade social e de nela permanecer até a conclusão dos estudos. O tema central, portanto, são as possibilidades de emancipação humana através do processo educacional que reconhece que condições difíceis de vida e de sobrevivência do/a estudante repercutem na sua condição de acesso a escola e de possíveis aprendizagens.

Assim, ler a práxis que nos apresentam, significa refazer caminhos, percorrer vielas da formação e (re)significar nossas próprias “escrevivências” – expressão tomada por empréstimo de Conceição Evaristo. Os escritos se colocam a disposição, tanto da denúncia de situações que tentam negar existências e singularidades, quanto da sinalização de caminhos didáticos para superação da condição opressora. A literatura ajuda nessa tarefa! Também encontramos reflexões acerca dos desafios digitais que fazem parte da formação docente e abordagem acerca do letramento digital de educadores/as e dos/das próprios/as estudantes. Os desafios históricos enfrentados pela EJA tornam-se, por sua vez, fonte de reflexão ativa. Afinal, é pensando o vivido e ressignificando a existência que construiremos um novo amanhã.

Cada capítulo do livro é de importância ímpar para o reconhecimento do direito que têm as pessoas jovens, adultas e idosas à educação; especialmente no que concerne ao dever que tem a escola de garantir a trabalhadores/as que estudam na escola básica o acesso a saberes historicamente produzidos pela humanidade, visando possibilidades para um viver melhor – seu, da sua família e dos seus coletivos.

Enfim, na obra, os/as autores/as se ocupam de analisar situações relevantes que envolvem o processo de aprendizagem escolar de sujeitos populares da Educação de Jovens e Adultos, a partir do olhar solidário à realidade identitária e sócio, econômico-cultural na qual os/as estudantes estão imersos. As análises que resultam deste processo, portanto, certamente irão contribuir para se pensar a escolaridade na EJA a partir do diálogo, empatia e humanização, princípios da educação como prática de liberdade.

Que nos sirva, pois, de inspiração!

Arlene Andrade Malta
Professora EBTT, IF Baiano.
Membro do Fórum EJA Bahia

Ano de lançamento

2022

Número de páginas

261

ISBN

978-65-5869-859-3

ISBN [e-book]

978-65-5869-860-9

Organização

Emanuela de Souza Cordeiro, Izanete Marques Souza, Natalino Neves da Silva

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