Livro didático na prática docente alfabetizadora: usos elaborados/reelaborados

Francisco Marcos Pereira Soares

PREFÁCIO

[…] podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescreve-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente. (FREIRE, 2011, p. 29-30)

O convite para escrever o prefácio do livro de Marcos me levou a refletir a respeito da importância da alfabetização na sociedade em que vivemos e no quanto saber ler e escrever transforma a vida das pessoas, seja em suas relações com os outros, seja em suas relações e intervenções no mundo. Ao pensar sobre como a alfabetização amplia nossos modos de ser e de estar no mundo, lembrei-me as ideias de Paulo Freire e de suas provocações na defesa de uma educação problematizadora. Razão por que, apresento na abertura deste prefácio o pensamento freireano, alertando que a leitura “[…] não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescreve-lo”.

As ideias de Freire sobre a leitura e seu poder no desenvolvimento da consciência dos leitores, no processo de humanização decorrente do ato de ler como processo reflexivo e crítico e como forma de reescrita do mundo, me inspiram na leitura da obra de Marcos, por sua posição diante da utilização do livro didático na prática docente alfabetizadora. O autor questiona os usos do livro didático na alfabetização, particularmente quando figura como única fonte de leituras oferecidas às crianças, bem como por predominar como único norte para a organização e o desenvolvimento da prática docente alfabetizadora. Marcos adverte a respeito dos usos mecânicos do livro didático e sugere que, no processo de alfabetização, as crianças têm direito de acessar diferentes gêneros discursivos e de viver a leitura e a escrita como práticas socioculturais com diferentes usos e funções no âmbito da sociedade letrada.

O livro, tem a singularidade de apresentar narrativas de alfabetizadoras sobre suas relações com o livro didático na prática docente alfabetizadora, abordando os usos elaborados e reelaborados nas complexas e dinâmicas situações de ensino. A abordagem do tema pelo autor denota a importância da autoria docente na tessitura do ensino da linguagem escrita, bem como reconhece as alfabetizadoras como profissionais criativas, com potencial para desenvolverem a reflexão crítica sobre suas práticas, na perspectiva de transformá-las.

Denota, de modo similar, que a leitura e a escrita no processo de alfabetização envolvem processos cognitivos de produção de sentidos, de fruição e de criatividade, o que se contrapõe à ideia de ler e escrever como práticas mecanicistas, reduzidas à decodificação e codificação. Entendo que a obra interessa aos professores, por abordar o tema, explicitando que existem diferentes posições relativas ao que o livro didático representa na alfabetização de crianças e quanto ao lugar que pode ocupar nas práticas de leitura e de escrita oferecidas às crianças.

Entendo que a leitura do livro de Marcos interessa aos professores, alfabetizadores ou não, aos gestores escolares e demais profissionais da educação, haja vista expressar o entendimento de que a prática docente alfabetizadora é afetada por diferentes determinantes e, portanto, pelas condições objetivas e subjetivas de desenvolvimento da profissão professor. Em face dessa singularidade da produção de Marcos, percebo em seu livro a abertura para o diálogo, para revisitação de seu saber fazer e para a vivência de novas experiências na produção de conhecimentos.

Expresso minha satisfação em prefaciar o livro de Marcos por ter acompanhado sua trajetória acadêmica, por perceber sua abertura para aprender, para ressignificar seus conceitos sobre alfabetização, prática docente alfabetizadora e, especialmente, pelo reconhecimento que expressa em relação às dimensões cognitivas e políticas da alfabetização. Ademais, minha satisfação nesta tarefa, resulta, também, de sua defesa de uma alfabetização contextualizada, que não se resume às finalidades didáticas do ensino da linguagem escrita. Marcos reconhece as demandas da sociedade em relação à leitura e à escrita e se posiciona em defesa de uma alfabetização que possibilite às crianças diferentes experiências de leitura e escrita para que se fortaleçam como leitores e escritores proficientes.

Enfim, espero que a leitura do livro de Marcos sirva de provocação aos leitores para desafiá-los na busca pela ampliação de seus conhecimentos sobre o tema abordado, que sirva de referência para novos estudos e pesquisas e que constitua uma fonte de diálogo entre os interessados pela temática.

Com afeto,

Antonia Edna Brito
Doutora em Educação (UFRN)
Professora Titular da Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Teresina (PI), 28 de abril de 2022.

Ano de lançamento

2022

ISBN

978-65-5869-853-1

ISBN [e-book]

978-65-5869-854-8

Número de páginas

175

Autoria

Francisco Marcos Pereira Soares

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