O dialeto caipira de Amadeu Amaral e suas reminiscências na linguagem de regiões rurais da zona da mata mineira

Francisco de Assis Moreira

PREFÁCIO

Foi com grande satisfação que recebi o convite do Professor Francisco de Assis Moreira, para prefaciar a presente obra, que constituirá, sem dúvida, importante contribuição para o enriquecimento das noções sobre o português do Brasil.

Nos capítulos, que comprovam a permanência do assim chamado “dialeto caipira” na linguagem de regiões da zona rural da mata mineira, especificamente nos municípios de Silveirânia e Dores do Turvo, o autor da tese ora publicada parte de itens lexicais registrados em O dialeto caipira, que completou 100 anos de publicação em 2020. A obra, escrita por Amadeu Amaral, nas palavras do seu autor, pretendia “caracterizar o dialeto “caipira”., mas foi muito além, pois desencadeou um movimento científico que está longe de esgotar-se. Refiro-me aos estudos dialetológicos do Português, nos quais a presente tese se insere.

Partindo de concepções teóricas modernas, O professor Francisco comprova que o referido dialeto está presente em uma área geográfica bem maior do que supunha Amadeu Amaral, que o considerava um aspecto da dialetação portuguesa em São Paulo.

Com o suporte teórico da Sociolinguística, cujo tema central é o estudo da variação linguística e os fatores socioculturais e linguísticos que a condicionam, a pesquisa aprofundou a análise dos dialetos das localidades objeto da investigação. Esse mergulho nas comunidades propiciou não só o registro de variados usos linguísticos referentes à cultura da região, mas, como consequência, permitiu delinear a identidade dessas comunidades isoladas durante longo tempo, com suas peculiaridades, que se manifestam no léxico empregado.

Para essa tarefa, uma vez que trata do registro e da sistematização dos traços linguísticos dos dialetos bem como procura interpretá-los, a tese recorreu igualmente aos princípios da Dialectologia, que lhe propiciou o desenvolvimento de generalizações e conclusões.

Partindo do léxico coligido na obra de Amadeu Amaral, a pesquisa se ocupou da descrição e posterior interpretação do vocabulário falado pelas comunidades linguísticas dos municípios mineiros referidos, não só por meio da leitura de material teórico sobre o método da pesquisa mas também pelo trabalho de campo, levado a cabo nas comunidades de fala em estudo.

Muitos conceitos essencias das teorias abraçadas foram discutidos e notas sobre a história dos estudos dialectológicos no Brasil foram apresentados, o que faz da presente obra uma referência bibliográfica importante para outros estudos de natureza semelhante, especialmente porque a Dialectologia, apesar de sua relevância para o conhecimento do português do Brasil, hoje parece não atrair tanto os jovens cientistas da liguagem.

A metodologia do trabalho teve como suporte bibliografia farta e atualizada e seguiu os procedimentos adotados na elaboração do Projeto do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Dessa forma, aplicaram-se questionários compostos de 200 vocábulos, dentre os compilados por Amadeu Amaral, a 30 informantes, distribuídos por três faixas etárias com dez entrevistados, divididos equitativamente entre homens e mulheres, com a finalidade de verificar a permanência das palavras e expressões ditas “caipiras” no falar das regiões selecionadas para a pesquisa.

Após a recolha das 6000 respostas, devidamente analisadas, a pesquisa demonstrou que o dialeto caipira ainda resiste, embora sofra, como é natural, a influência das mudanças culturais e econômicas, que ocasionam a perda de muitos aspectos da cultura local e consequentemente o desaparecimento do léxico que os designa.

Trata-se de um trabalho de fôlego, importante entre os estudos das falares brasileiros, que a par de rigorosa pesquisa é vazado em texto de leitura agradável, que recomendo. Finalizando essas palavras de apresentação da tese que tive o privilégio de orientar, peço emprestadas as palavras de seu autor que enfatizam a relevância não só linguística, mas também cultural de trabalhos desta natureza, ao afirmar a “necessidade do aprofundamento de pesquisas de cunho sociodialetal ou geosociolinguístico sobre o léxico, pois nos permite a documentação e o registro da diversidade lexical e geolinguística do português falado no Brasil”.

Ano de lançamento

2020

Autoria

Francisco de Assis Moreira

ISBN [e-book]

978-65-5869-126-6 1

Número de páginas

196

Formato