Patrimônio Jaguarari

Celito Kestering

INTRODUÇÃO

Nos aldeamentos missionários do Submédio SãoFrancisco, pela imposição da ideologia e valores culturais do Velho Mundo ratificou-se a dominação portuguesa. Por se ligarem à sobrevivência no sertão semiárido preservaram-se neles, porém, as tradições indígenas que interessavam aos colonizadores. Implantou-se, assim, a cultura do couro. Essa conhecença definia-se pelo respeito às tradições portuguesas como a dança da Roda de São Gonçalo e a Corridade Argolinhas. Concomitantemente apreciavam-se milenares costumes indígenas quais eram o hábito de banharem-se diariamente nas águas dos rios, dançarem o Toré, dormirem na rede e viverem do que a natureza oferecia com prodigalidade. As casas de farinha, de onde saía o produto manufaturado para a confecção de beijus, papas, mingaus, bolos de macaxeira fresca ou puba, tapioca e paçoca, tinham então os mesmos caracteres do período pré-colonial. Elas eram e ainda são os mais autênticos testemunhos da adequação portuguesa aos milenares costumes indígenas locais.

Paradoxalmente, nas terras que ocupam ou invadem, por serem essencialmente etnocêntricos, os neopovoadores afeiçoam-se e esmeram-se em não atribuir valor ao patrimônio (material e/ou imaterial), à memória (individual e/ou coletiva) e a história dos povos nativos. Por se relacionarem com a identidade das pessoas e dos grupos sociais, os termos relativos à memória e ao patrimônio são, por isso, polêmicos. É desse modo que, a depender da consciência política dos grupos em que se geram conflitos de caráter patrimonial, esses temas fazem-se mais e mais presentes. Seus significados, significantes e respectivas significâncias variam no tempo e no espaço. A eles atribuem-se e agregam-se valores, à proporção do despertar e fortalecerem-se sentimentos de relação e pertença. No âmbito literal, patrimônio é tudo que se recebe de herança. Inicialmente considerava-se como tal apenas o conjunto oficialmente reconhecido de bens materiais que se herdava dos pais ou quaisquer antepassados. Com o passar do tempo, contudo, novos significados agregaram-se ao vocábulo. Atualmente a ele integram-se a memória, história, cultura material e as conhecenças diversas. A ele se incorporam rios, serras, danças folclóricas, músicas regionais, festejos, lendas, mitos, histórias, artefatos, casos e até anedotas. Hoje se reconhece como patrimônio todo legado produzido e/ou usufruído por indivíduos ou grupos, que se faz elo entre o passado e o futuro e passa de geração em geração, como herança.

Ano de lançamento

2021

Autoria

Celito Kestering

ISBN

978-65-5869-628-5

ISBN [e-book]

978-65-5869-629-2

Número de páginas

276

Formato