Pesquisas e escritas em educação

Ivan Luís Schwengber, Jenerton Arlan Schütz

PREFÁCIO

Por meio do diálogo consigo mesmo ou de outrem, também por meio da escrita, quem quer progredir se esforça para ‘conduzir com ordem seus pensamentos’ e chegar assim a uma transformação total de sua representação do mundo, de seu clima interior, mas também de seu comportamento exterior. Esses métodos revelam um grande conhecimento do poder terapêutico da palavra (HADOT, 2014, p. 29).

Para todo aquele que tomar em suas mãos o presente trabalho, encontrará nele um conjunto múltiplo de abordagens, perspectivas teóricas, metodologias, atores e autores. Por trás de cada texto estão pessoas que se debatem com diversos temas, perspectivas, problemas e modos de enfrentar o fenômeno educacional. Em suas perguntas os autores visitam obras das mais diversas vertentes e campos de conhecimento científico e filosófico; enfrentam questões e problemas de diversas matizes teóricas e práticas. Essa multiplicidade retrata, em certa medida, a riqueza do trabalho investigativo educacional, e dentro dela, das pessoas e suas vidas envoltas pelo complexo fenômeno da educação. Porém, não faria sentido se tantas facetas não se aglutinassem em torno de algo. É no tema da educação que transcendem esses temas que não se enceraram neles mesmos.

A educação se sustenta no pressuposto da condição humana de educável. E é justamente esta condição que levou Johann Friedrich Herbart (1887) a declarar a educabilidade (Bildsamkeit) como fundamento da pedagogia ao elevar a mesma ao status de ciência acadêmica. Por educabilidade compreende-se que o ser humano emerge no mundo aberto e capaz de aprendizado. Não simplesmente aprender habilidades ou técnicas, pois não é uma capacidade exclusivamente humana como argumenta Francis Wolff (2009). Mas trata-se de um processo de constituição de sujeitos com identidade própria, autônomos, capazes de fazer uso público da razão (KANT, 2013). Educar-se é um processo para além de aprender coisas: é tornarse capaz de raciocinar criticamente, de sensibilidade estética, de moralidade, de engajamento político e social, capacidades que instauram o ser humano na condição de ser livre. Essa é a condição de quem é capaz minimamente de libertar-se dos grilhões que insistem em submetê-lo à subserviência de todos os tipos; libertar-se é distanciar-se e enfrentar os nossos medíocres iguais, que insistem em drenar nossa energia vital para a mais-valia; libertar-se é distanciar-se dos próprios vícios, das opiniões ligeiras e levianas, que se encontram potencializadas acriticamente pelos meios digitais de interação social. É libertar-se inclusive de nossas infundadas ilusões e hipocrisias quando estas insistem em nos retirar do mundo e nos eximir da responsabilidade por ele; libertar-se é por momentos suspender convicções, pausar por instantes o influxo mundano, algo necessário mesmo que jamais consigamos abandonar o mundo, já que somos seres no mundo.

É nesse sentido que se apresenta o presente trabalho, como um conjunto de textos em que cada autor se expressa como interlocutor, apresentando seus escritos que podem tanto corroborar quanto refutar com nossas percepções. Na coletânea se apresentam autores, que para além de oferecer reflexões sobre temas ligados à educação, se arriscam na arte clandestina de escrever, valendo-me de uma expressão de Flickinger (2010). Cada argumento nessa obra pretende contribuir com o debate educacional e promover a interlocução  de pesquisadores, fortificando uma teia emergente de relações acadêmicas, preocupados com a educação em geral. A presente obra não deixa de ser, assim, um grande exercício formativo. Exercício que pela escrita e reflexão agora se estende ao público e outros interlocutores, na modesta pretensão de acrescentar algo a esse fenômeno tão amplo e complexo que é a educação.

Resta desejar uma boa leitura e muitas reflexões!

Odair Neitzel

Verão de 2019

Ano de lançamento

2019

ISBN

978-85-7993-632-6

ISBN [e-book]

978-85-7993-631-9

Número de páginas

317

Organização

Ivan Luís Schwengber, Jenerton Arlan Schütz

Formato