Política de assistência social e os dilemas do cotidiano profissional

Eliane Christine Santos de Campos

APRESENTAÇÃO

Esta produção é resultado de estudos vinculados ao projeto de pesquisa1 “A centralidade da gestão no trabalho do assistente social: um estudo a partir de demandas profissionais apresentadas por órgãos gestores de políticas sociais públicas”, finalizada em maio do presente ano, cujo objetivo era analisar, a partir de demandas profissionais emergentes, particularmente no âmbito da atuação em órgãos públicos com a gestão de políticas sociais de diferentes municípios da região da AMEPAR2 , como a gestão configura a formação e o exercício profissional do assistente social.

O interesse em organizar esta publicação foi sendo amadurecido durante o processo de pesquisa perpassando diferentes momentos: no nivelamento teórico conceitual envolvendo uma extensa pesquisa bibliográfica; no planejamento das ações do grupo; nos debates e embates sobre a gestão das políticas sociais nos governos progressistas e conservadores; nas orientações de trabalhos de conclusão de curso (Tcc) e dissertações; na construção coletiva dos trabalhos publicados nos eventos nacionais e internacionais; na participação nas bancas de defesas, dentre tantos outros momentos. A riqueza do processo nos demonstrou o quanto seria importante a socialização dos resultados dos estudos empreendidos.

A heterogeneidade do grupo, composto por estudantes/pesquisadores iniciantes (discentes da graduação em Serviço Social), e estudantes/pesquisadores mais experientes (mestrandos/as e doutoranda/o do Programas de Pós Graduação em Serviço Social), ambos da Universidade Estadual de Londrina, contribuiu para compreendermos que as diferenças de pensamentos, compreensões da realidade e as experiências vivenciadas fortalecem o debate suscitando novos questionamentos que se transformaram em novos objetos de estudos.

Vale destacar que fazer pesquisa com parcos recursos financeiros e institucionais, bem como com os limites pessoais (divisão ou sobreposição de tarefas domésticas, profissionais e acadêmicas), os quais impossibilitam a dedicação exclusiva dos pesquisadores aos seus estudos, torna-se um esforço exaustivo. Contudo, vivenciar os prazeres e angústias das descobertas do grupo foi gratificante e demonstrou a importância da pesquisa para o amadurecimento e qualificação profissional do assistente social. Concordamos com Bourguignon (2005) 3 quando nos coloca que a pesquisa, como parte constitutiva do Serviço Social, propicia o exercício de indagação da realidade na busca de conhecimentos que ultrapassem nosso entendimento imediato, com um fim determinado e que fundamenta e instrumentaliza o profissional a desenvolver práticas comprometidas com a mudança significativa da realidade das pessoas. Parte dos resultados das pesquisas, sistematizadas nos quatros capítulos deste livro, poderão contribuir para o debate e qualificação do trabalho do assistente social nas políticas sociais, considerando os limites existentes quando as mesmas são gestionadas por governos norteados por princípios neoliberais.

Em momentos tão incertos, de desvelamento do conservadorismo por parte significativa da sociedade brasileira e de um governo ultraliberal, consideramos escolher como fio condutor deste livro, o trabalho profissional do assistente social na Política de Assistência Social, uma forma de resistência e luta na defesa do projeto profissional. Como bem nos coloca Boschetti (2018)4 , são tempos de enquanto expressão da “questão social”, sendo necessário apreender as engrenagens da sociedade regida pelo capital, presente na formação acadêmica e; outra, expressa nas normativas da Política de Assistência Social (PAS), em que o significado de pobreza se alinha com as ideias neoliberais, difundidas pelo Banco Mundial como indutor de medidas de alívio à pobreza para os países em desenvolvimento.

A pesquisa revela que a concepção de pobreza dos assistentes sociais, que norteia sua intervenção profissional, é a contida na PAS. Há, portanto, uma relação direta entre a apreensão dessa categoria analítica e a atuação do profissional de Serviço Social; é por meio dessa relação que foi possível analisar as implicações de uma sobre a outra. Em decorrência dessa evidência, constatou-se que as ações do assistente social adquirem um caráter mais imediato e fragmentado. Esse estudo se restringiu a esses elementos, mas a atividade profissional e o cotidiano são mais complexos; portanto, não se pode desconsiderar outros condicionantes que incidem nas ações do assistente social, sumariados nas condições objetivas de trabalho.

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-226-3

ISBN [e-book]

978-65-5869-227-0

Número de páginas

255

Organização

Eliane Christine Santos de Campos

Formato