Quando os olhos se abrem: educação infantil em contexto

Alexandre Rodrigo Nishiwaki da Silva, Beatriz de Cássia Boriollo

PREFÁCIO

Esse livro foi feito com muitas ideias, mãos e histórias vividas por crianças e adultos. São histórias, contadas com corpo inteiro, como fazem as crianças, e com diferentes olhares e versões como desejam os adultos autores.

Nessa data marcante, 35° aniversário da Creche e Pré-Escola USP – São Carlos, tive a honra de ser convidada para contar uma versão dessa história, e claro, para comemorar de forma produtiva, como sempre fez esse grupo. Assim, antes que você, leitor/a, aproveite essas experiências tão comprometida por tantas ações e situações educativas de qualidade, eu deverei nesta oportunidade me manifestar em defesa das creches universitárias.

Escrevi um Manifesto.

Isso porque muitos dos relatos de experiências, reflexões e depoimentos me inspiraram, mas a mãe das meninas Melissa e Talita, arquiteta-urbanista, artista-educadora Bianca Habib, foi a porta voz das famílias parceiras, em minha opinião, das tarefas responsáveis que temos pela frente. Peço atenção a todas/os para tratar de direitos conquistados, portanto de política pública para a educação. Passados 40 anos da conquista pelas liberdades democráticas e de direitos conquistados pelas mulheres, como foram as creches da Universidade de São Paulo, direitos ampliados após o Estatuto da Criança (ECA, 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), manifesto minha indignação pelo fechamento de tantas vagas, particularmente para as crianças abaixo de 3 anos. Vivemos intensamente esse período “democrático” construindo com muito trabalho, também com esse coletivo de São Carlos, um modo de fazer política para as infâncias brasileiras, de construir práticas pedagógicas que emancipam crianças e adultos.

Aqui conseguimos que crianças, suas famílias e suas/seus educadoras/es partilhassem um dia a dia criativo e afetivo, respeitando muitas diferenças e talentos. Aqui estudantes, pesquisadores e cientistas aprenderam e ensinaram, juntamente conosco, formas de construir projetos políticos pedagógicos que considerem, não só os currículos existentes, a Base Nacional Comum Curricular – tão polêmica entre nós, mas os causos inventados, vividos e revividos nesse Livro.

No meio de uma Pandemia (da Covid-19) sem precedentes, com mais 150 mil brasileiras/os mortos, escrevemos esse Livro. Nessa oportunidade de tantas incertezas, podemos comemorar com alegria este feito – aqui não tocamos nos nomes de dirigentes, que com políticas liberais, privatistas como o auxílio creche/voucher, ajudaram a enxugar e diminuir quantitativamente as vagas das creches universitárias. O mesmo ocorreu nas décadas de 1960 e 1970 com as escolas experimentais de Anísio Teixeira – perseguições, desmonte de equipes, difamações, fake news, foram sempre as estratégias usadas para destruir práticas pedagógicas libertadoras na educação pública, transformando, em minha opinião, espaços solidários em espaços de disputas.

Esse Livro comemorativo, pode ser instrumento de resistência – vocês se ocupam de crianças desde bebês, vocês existem, queiram ou não os liberais da USP. Fechar espaços destinados aos bebês sempre foi, para nós feministas, uma história sem sentido – serviços ligados à emancipação de milhares de famílias, mulheres em sua maioria, como também, serviços ligados ao ensino, a pesquisa e a extensão. A conhecida estratégia de diminuir os financiamentos de unidades públicas – para poder importar abordagens pedagógicas privadas e eurocêntricas, com material formativo deformado, com financiamentos precarizados, tem sido utilizada nos últimos anos também pelas universidades públicas. Espero que para as futuras gerações, esses relatos de experiências tão potentes e as discussões trazidas pelas pesquisadoras/os, familiares convidadas/os possam ser amplamente divulgados. Lembrem, caros leitores, de escolher o lugar melhor para continuarmos essa e outras lutas, conforme nos aconselhou Darcy Ribeiro:

Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, mas não consegui.
Tentei salvar os índios, mas não consegui.
Tentei fazer uma Universidade séria, fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”

Pela construção de uma Secretaria de Educação Básica na Universidade de São Paulo!

Creches Universitárias e Escolas de Aplicações abertas e ampliadas para toda comunidade!

Escola Inclusiva e Educação de Jovens e Adultos em todos os Campi da USP!

Ano de lançamento

2020

ISBN

978-65-5869-049-8

ISBN [e-book]

978-65-5869-236-2

Número de páginas

298

Organização

Alexandre Rodrigo Nishiwaki da Silva, Beatriz de Cássia Boriollo

Formato