Desenho Universal e Desenho Universal para Aprendizagem: fundamentos, práticas e propostas para Educação Inclusiva – vol 1

Organização: Anderson Roges Teixeira Góes, Priscila Kabbaz Alves da Costa

PREFÁCIO

Cláudia Rosana Kranz

Inicio este texto agradecendo pelo convite para prefaciar uma produção tão relevante, construída a muitas mãos e fruto de muitas reflexões e pesquisas de um grupo de docentes engajados na construção de práticas pedagógicas mais inclusivas, a partir da disciplina Tópicos em Educação em Ciências e em Matemática II: Fundamentos e Práticas da Educação Especial e Inclusiva do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PPGECM), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A educação especial inclusiva vem ganhando espaço nas instituições escolares brasileiras desde os anos 1990, como expressão da garantia de direitos das pessoas com deficiência e com outras necessidades educacionais específicas. No entanto, ela não diz respeito somente à matrícula, trazendo consigo o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento de todas as pessoas no âmbito da escola, instituição relevante para a socialização dos conhecimentos historicamente construídos pela humanidade. O resgate histórico desse processo está muito bem explicitado no capítulo A educação especial e inclusiva deste livro.

Para cumprir tais demandas da educação inclusiva, desafios e responsabilidades coletivas se apresentam para as instituições e para os profissionais da educação. Dentre eles, está a formação de docentes com vistas à sua atuação em contextos educacionais inclusivos, que abarcam crianças, jovens e adultos com e sem deficiência. Pesquisas recentes vêm assinalando lacunas na formação inicial de professores nos cursos de licenciatura nas universidades brasileiras, como apontado em dois capítulos desta produção, a saber: A educação especial e inclusiva e Uma aproximação entre o Desenho Universal para Aprendizagem e a Pedagogia Freinet: subsídios para uma educação inclusiva. Em vários cursos, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) configura-se como a única disciplina obrigatória, atendendo à Lei nº 10.436/2002. Urge que tais currículos sejam revistos, de modo a podermos garantir uma formação inicial que coloque a educação especial inclusiva como temática de discussões e estudos específicos e, também, transversal no percurso formativo dos futuros docentes.

Diante dessa realidade, o desenvolvimento de um componente curricular em curso de pós-graduação, como o ofertado pelo professor Anderson Roges Teixeira Góes e pela professora Priscila Kabbaz Alves da Costa, constitui iniciativa louvável, uma vez que contribui com a formação continuada de docentes nas áreas das Ciências Naturais e da Matemática e agrega aos estudos teóricos com a pesquisa, dessa forma, inclusive, colaborando para preencher possíveis lacunas em relação à formação inicial dos pós-graduandos.

Outra dimensão que ressalta a importância da disciplina é o conhecimento nela produzido, na perspectiva inclusiva, no momento sistematizado e socializado com este livro. É uma relevante iniciativa do grupo de docentes e estudantes do programa.

Cada um dos 12 capítulos, que tomam por base o Desenho Universal, contribui com reflexões teóricas e/ou possibilidades de recursos e de práticas pedagógicas que, de acordo com o conceito de referência, pretendem pensar e construir uma escola que seja para e com todas as pessoas. Os recursos didáticos concebidos e construídos pelas pessoas envolvidas nesta produção contemplam possibilidades inclusivas para o ensino e aprendizagem de conceitos matemáticos e das ciências naturais. Percebe-se o cuidado dos autores em elucidar os procedimentos adotados na produção dos materiais, relacionando-os aos princípios do Desenho Universal, do Desenho Universal para Aprendizagem e do Desenho Universal Pedagógico. Nesse sentido, a obra aqui disponibilizada contribui sobremaneira para que outros docentes possam replicar tais recursos, ao mesmo tempo que, espera-se, se sintam desafiados a criar outros materiais inclusivos para suas aulas.

Cabe, aqui, retomar alguns fundamentos históricos e teóricos desses conceitos, que vêm mostrando sua relevância na constituição de uma sociedade mais inclusiva. O Desenho Universal, inicialmente desenvolvido na Universidade da Carolina do Norte, nos anos 1980, constitui-se como uma filosofia de trabalho que busca a construção, a priori, de produtos, serviços e ambientes acessíveis para todas as pessoas, sem que sejam necessárias adaptações posteriores, ou seja, orienta para que a construção de barreiras seja evitada, pensando e constituindo um mundo para e com todos. Atualmente, no Brasil, o Estatuto da Pessoa com Deficiência coloca o Desenho Universal como regra para a concepção e implantação de projetos relativos ao meio físico, ao transporte, à informação e à comunicação, em espaços de uso privado ou coletivo. Dessa forma, nossa legislação não só conduz à inclusão de todas as pessoas em todos os ambientes, como também busca interferir na própria constituição da deficiência, atuando na limitação secundária, que é constituída pelas barreiras que impedem a plena participação e a equiparação de oportunidades das pessoas com deficiência na sociedade.

A partir do conceito e dos princípios do Desenho Universal, pesquisadores passaram a refletir acerca de sua inserção na instituição escolar, no sentido de trazer suas contribuições à educação especial inclusiva. Nesse movimento, foram desenvolvidos os conceitos do Desenho Universal para Aprendizagem e do Desenho Universal Pedagógico. Ambos pensam práticas pedagógicas alicerçadas no conceito original, que possibilitam que todos os estudantes aprendam e se desenvolvam em igualdade de oportunidades. Muito embora o Desenho Universal Pedagógico também atente para o currículo e para as concepções de mundo, de pessoa humana, de escola, de aprendizagem, de desenvolvimento e de deficiência que embasam tais práticas, ambos os conceitos são de fundamental importância para a construção de uma escola que, em vez de apenas se adaptar aos alunos com deficiência, esteja organizada e pensada, a priori, também para essas pessoas.

Diante do contexto atual, em que muitos direitos têm sido subtraídos da população e em que a exclusão atinge níveis imensos, contar com uma publicação que pense e traga alternativas a uma escola para todas as pessoas é muito importante. Desejo que a leitura deste livro inspire você, leitor, a buscar práticas pedagógicas cada vez mais inclusivas, assim como a refletir e (re)significar, se necessário, as concepções que embasam seu fazer docente. Sempre temos algo a aprender!

Parabéns ao grupo pela iniciativa! Boa leitura!

Natal, fevereiro de 2022.

Número de páginas

172

ISBN [e-book]

978-65-5869-750-3

Organização

Anderson Roges Teixeira Góes, Priscila Kabbaz Alves da Costa

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