O diverso no reverso do tempo!
Com a acuidade investigativa e aguerrida que lhe é peculiar no trato dos problemas mais espinhosos da educação, o Professor Doutor João Wagner Martins reconstrói nesta obra o processo de construção, afirmação e transformação da educação infantil, seus imaginários e estigmas.
Partindo do resgate histórico das etapas da educação infantil no Brasil, plenamente voltada em sua origem para a assistência social, o texto nos leva até o momento do seu reconhecimento como parte da educação básica. Como parte da educação essencial da pessoa humana, a primeira etapa da educação básica não deixa de carregar em seu interior as contradições, crises e dilemas, tão profundamente presentes em uma nação que tardiamente começou a fazer educação para todos.
De todas as crises e desafios na trajetória das creches e pré-escolas, o professor João Wagner escolheu um tema que considero sempre estar no submundo, presente e ausente ao mesmo tempo, espinho que a cultura escolar insiste em silenciar: como o trabalho do homem se constrói com crianças muito pequenas em um ambiente majoritariamente feminino?
A presença dos homens no trabalho com crianças muito pequenas causa suspiros em alguns colegas, resistência das famílias e deixa os sistemas de ensino desnorteados e este é o ponto chave deste livro tão necessário em nosso tempo.
O resultado deste estudo surpreende e apresenta um debate necessário para a evolução dos sistemas de ensino, da cultura escolar como um todo e, sobretudo, provoca uma reflexão bastante significativa sobre a condição estigmatizada dos poucos homens atuantes em salas de aula de creches, denunciando no texto uma ausência quase completa de políticas de acolhimento, treinamento, suporte profissional e emocional a esses servidores.
Este livro é, acima de tudo, uma fonte rica e provocante para enfrentar os problemas que ainda cercam uma etapa da educação que se construiu sobre o imaginário do feminino, definido pelo patriarcado machista que projeta na figura do professor a “mãe” substituta, da “tia” e que agora precisa entender como lidar com a figura do estranhamento em seu interior.
Prof. Wagner Cipriano
