A linguagem da avaliação em língua portuguesa. Estudos sistêmicofuncionais com base no sistema da avaliatividade.

Anderson Alves de Souza, Fabíola Sartin Dutra Parreira Almeida, Orlando Vian Jr.

PREFÁCIO

Universidade de Sidney, Austrália

Cais

Quando meus colegas e eu demos início ao trabalho com a linguagem da avaliação, pouco mais de duas décadas atrás, nosso foco era a língua inglesa, já que estávamos preocupados com os modos pelos quais os sentimentos são expressados pelos australianos em histórias orais e escritas, em comentários críticos sobre trabalhos que envolvem criatividade, e no discurso da mídia. No decorrer dos anos, naturalmente tivemos consciência da vasta literatura, na e ao redor da Linguística, explorando a linguagem da emoção nas culturas. Isso, é claro, suscitou nossa curiosidade sobre o que ocorreria à descrição e à teoria da avaliatividade quando recontextualizadas para línguas que não o inglês, especialmente línguas de famílias linguísticas e com bagagens culturais diferentes da nossa. Fora uma pequena especulação superficial em Martin 2002[2] , deixamos o julgamento em suspenso, aguardando o trabalho de colegas de outras partes do mundo.

Na década passada, ficamos surpresos pelo grande interesse gerado, especialmente na América Latina e na China. Quando convidado a ministrar workshops em outros países, descobri que a teoria da avaliatividade tinha suplantado a análise de gêneros e o letramento como área de pesquisa que os colegas mais gostariam que eu abordasse. O website de avaliatividade projetado por Peter White, e a sua lista de discussão por email, é sem dúvida enormemente responsável por isso, desde que permitiu o acesso eletrônico a esse trabalho a muitos estudiosos ao redor do mundo. Fico especialmente honrado ao ser convidado para escrever algumas palavras para esta coletânea editada sobre a linguagem da avaliação em português – já que minhas visitas a Portugal e ao Brasil geraram tantos relacionamentos e amizades tão caras no decorrer dos anos.

Este volume representa o trabalho de vários estudiosos brasileiros que se apropriaram do arcabouço da avaliatividade desenvolvido para o inglês e o retrabalharam para o português. Não é trabalho fácil retrabalhar teorias desse tipo de uma língua para outra, e tenho conhecimento das muitas discussões originadas que variavam desde a terminologia específica até preocupações conceituais mais gerais que foram fortemente contestadas e profundamente exploradas – como os trabalhos neste volume testemunham. Após uma introdução pelos editores, o volume lida com as três dimensões mais amplas da avaliatividade – engajamento, atitude e gradação; e foca em textos de uma vasta gama de áreas, incluindo a mídia, educação, novas tecnologias, literatura e textos publicitários.

Como conheço tão pouco a língua portuguesa, sei que tatearei esses artigos cheio de ciúmes daqueles que sabem a língua e estarão numa posição mais privilegiada para saborear as análises apresentadas. A esses leitores, eu gostaria de perguntar até que ponto eles acham que as análises captam o espírito da avaliação em português, e até que ponto isso pode ter sido atribuído ao desenvolvimento inicial da teoria em inglês. Por ter trabalhado com gramática funcional com alunos no decorrer dos anos, sei que o primeiro passo envolve inevitavelmente fazer com que as línguas não-inglesas fiquem parecidas com as descrições apresentadas por Halliday na gramática do inglês – e assim será necessário parar e perguntar: como ficaria minha língua se eu nunca tivesse lido nada do trabalho de Halliday? Então, leitores de português, onde estamos atualmente, no que diz respeito à teoria da avaliatividade? Sei que vocês defenderão sua língua e sua cultura, neste mundo pós-colonial. E talvez, um dia, eu aprenda o suficiente de sua língua para me garantir que ofereci a vocês algumas perguntas para questionar não as respostas que eu descobri (o cais mas não saveiro que a canção Cais de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos coloca tão impressionantemente bem).

Notas de rodapé

1 Tradução de Orlando Vian Jr. 2 Martin, J R 2002 Blessed are the peacemakers: reconciliation and evaluation. C Candlin [Ed.] Research and Practice in Professional Discourse. Hong Kong: City University of Hong Kong Press. 187-227.

Ano de lançamento

2010

ISBN [e-book]

978‐85‐7993‐043‐0

Número de páginas

230

Organização

Anderson Alves de Souza, Fabíola Sartin Dutra Parreira Almeida, Orlando Vian Jr.

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