Autismo e experiência com a palavra em grupo de educadores

Autoria: Maria Angélica Pisetta

Muito já se escreveu sobre o autismo, mas o caráter inédito deste livro, ao tratar o tema, se apresenta pelo viés de uma escuta e de um lugar de fala, diferenciados pela orientação que perpassa a discussão política e ética, nos campos de atuação, da psicanálise e da educação. Dessa interlocução a autora aposta nos novos laços transferenciais que se estabelecem, dinamizando, assim, essa interdisciplinaridade. Encontramos nesse debate, através das discussões teóricas e clínicas, um meio eficaz para viabilizar na educação e na psicanálise, a produção de um saber inédito, que não exclui o impossível real que atravessa essas práticas, além de efetivar a proposta de inserção da psicanálise no mundo.

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Angelica, neste livro, nos dá um testemunho de como a responsabilidade e aposta no discurso analítico, não impedem que haja um profícuo diálogo com o campo da educação. Ela se deixa ensinar e acolhe as demandas dos educadores, mesmo sabendo que são irrespondíveis, que carregam uma potência de ato, na forma de uma interrogação. Traz à discussão um fato que nos orienta pelos labirintos dos objetos voz e olhar, que sob os modos de retenção, provocam entraves, para o sujeito autista na sua “não relação” com o Outro. As dificuldades nas trocas simbólicas, a precariedade de lalíngua, nos primeiros tempos de constituição do sujeito, a retenção dos objetos, são alguns aportes teóricos trabalhados pela autora, que utiliza como maior orientação, além de Freud e Lacan, um autor contemporâneo que se dedicou profundamente ao estudo do autismo. Com o suporte de Maleval, indica a importância da recusa como resposta subjetiva primária do sujeito autista, demonstrando que a clínica não está dissociada da teoria, fato explicitado nos relatos dos professores e nas dificuldades das relações com os alunos autistas, quando a voz e o olhar são dois objetos pulsionais privilegiados nesse específico laço. A autora aposta na vertente do autismo como uma estrutura, que traz uma enorme variedade de expressões clínicas, e no fato de que todo caso é único, impossível de universalizar.
Concluo, recomendando a leitura deste livro àqueles, cujas práticas com sujeitos autistas ou qualquer área da singularidade humana, os desafia, pois oferece alicerce fértil de questionamentos e discussões desenvolvidas no campo da psicanálise e inscritas no topos escolar, evidenciando inúmeras possibilidades de interlocução, também com outros saberes.

Ruth Helena Pinto Cohen

Ano de lançamento

2025

Formato

ISBN

978-65-5869-792-3

ISBN [e-book]

978-65-265-1838-0

Número de páginas

115