Dança primordial

Fê Lima, Dulci Braga

E, talvez, sonhar

Foi com o espanto que me deparei com este pequeno livro, pequeno como o livro que Heráclio dedicou à Deusa, em seu templo. Este antigo livro, que mesmo tendo se perdido enquanto objeto, ajudou a construir aquilo que a partir de certo momento histórico começou a se denominar Cultura Ocidental.

Eu vejo esse livro, Dança Primordial, como a Deusa viu o livro de Heráclito. Eu vejo uma oferta, uma oferenda, um convite para que mais uma vez seja celebrada a dança fundadora, a dança desenho do cosmo, refazendo e perfazendo em sua simplicidade, toda a complexidade de uma cultura. Cultivo e colheita.

Este pequeno livro que agora tenho em mãos, assim como o livro do pensador obscuro, refaz e desfaz, em sua tapeçaria de Penélope, a reconstrução de uma cultura. Realocando no tempo do humano, mais uma vez, a produção do  espanto (thaumázein), a ruptura com o comum ou, em seu movimento diametralmente oposto, pelo mergulho inequívoco no comum, no ordinário. Mergulhos.

Um pequeno livro que se dedica a uma Deusa, que talvez possamos denominar memória, ou cultura, ou, ainda, tradição, mas que, por ora, chamamos, simplesmente, de poesia. Poesia, pois reúne, em sua unidade, música, ritmo, filosofia, literatura, dança e o gesto pictórico. Poesia, pois vemos, ouvimos e sentimos e dançamos junto às vozes de uma cultura, a nossa cultura, que é uma – mas, ao mesmo tempo – várias,  ecoadas. Poesia, pois o novo está no antigo – a ancestralidade do presente – a história que se registra de um passado que é, antes de tudo, futuro. Aceno ao futuro.

Poesia, pois macrocosmo – como, numa palavra, dança-desenho, tradição-transformação. Poesia, pois, que seja. Micro, num pequenino grão de areia, cosmo.

 

Diogo Santos

Ano de lançamento

2023

Formato

ISBN

978-65-265-0961-6

ISBN [e-book]

978-65-265-0962-3

Número de páginas

60