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Diálogos em Verbetes. Coletânea Verbetes. noções e conceitos da Teoria Dialógica da Linguagem
Organização: Siane Gois Cavalcanti Rodrigues, Sônia Virginia Martins Pereira
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APRESENTAÇÃO
Em nota de contextualização histórica de uma das passagens da primeira parte de Dom Quixote, os editores lembram que “Nas culturas com uma alfabetização insuficiente, a escrita era um testemunho de veracidade: o mero fato de constar por escrito parecia garantir a realidade de uma notícia” (CERVANTES, 2016, p. 372)1 . Tal fenômeno ilustra o prestígio que a escrita sempre gozou nas sociedades em que penetrou. Para o senso comum, os dicionários são obras em que toda a língua de um povo está contida. Neles, haveria que se constar toda a “verdade”, tudo o que é “certo” e é reconhecido pelos falantes daquela comunidade linguística. A tal perspectiva, no entanto, contrapõe-se aquela segundo a qual os dicionários nunca darão contra da completude de um idioma, considerando o contínuo e incessante movimento que faz dele um organismo vivo, em constante processo de mutação, reflexo que é da própria vida do povo que o fala. Poder-se-ia considerar, então, um dicionário como um retrato de uma língua em um dado momento de sua existência, que flagra, ao mesmo tempo, o caminho percorrido em sua transformação. Assim como, ao olharmos para a fotografia de uma pessoa, vemos em seu rosto o que o tempo desenhou, o que a vida lhe deu, ao olharmos para um dicionário, vemos o presente de uma língua, mas também o seu passado. Na apresentação que faz do “Dicionário de Linguística da Enunciação”, organizado por Flores et al (2009), Fiorin afirma que o dicionário “contém heranças de antepassados perdidos em tempos longínquos, que nos legaram, expressos por palavras, ferramentas e modos de fazer, tristezas, alegrias e modos de ser, metáforas, substantivos, tempos verbais e modos de simbolizar.” (p.7)
Quando uma teoria é desenhada no decorrer de décadas, os termos que lhe são basilares fazem o mesmo movimento das palavras que constituem o vocabulário do povo: eles se movem, são ressignificados, copiando a mesma ação da língua falada por esse povo. O empreendimento teórico de Bakhtin se desenvolveu por mais de quatro décadas e, nesse sentido, este livro de verbetes não tem objetivo de captar e exaurir todos os sentidos dos termos que o compõem. É menos pretencioso do que isso, pois não anseia vender ao leitor algo que não pode, de fato, dar. Evita, em outras palavras, correr o risco de, na busca de apresentar toda a história das mudanças de sentido de um dado termo, perder-se na imensidão de novas possiblidades de significar que o contexto dá às palavras. Assim, a ideia esboçada e materializada neste enunciado é apresentar aos estudiosos, tanto leitores iniciantes quanto experientes de obras do Círculo, acepções de termos caros ao desenvolvimento dessa perspectiva de estudos, sem, entretanto, cair na armadilha que a tentativa de exauri-los representa, dado que a língua é, nos termos bakhtinianos, inexaurível. Para tanto, foi necessário selecionar elementos caros à compreensão da teoria, o que não significa, em absoluto, que se deu conta de todos eles, mas que foi operado um recorte necessário à consecução da tarefa.
No seu desenho, os verbetes, que objetivam orientar o leitor e estimulá-lo a aprofundar o estudo dos conceitos expostos, relacionamse a noções, conceitos e categorias próprias dos estudos dialógicos, em interlocução com perspectivas teóricas que mantêm elos com a teoria dialógica da linguagem. Sua construção composicional delineia-se da seguinte forma: depois da entrada, são apresentadas outras denominações do verbete (caso haja), para que, então, ele seja definido e que as fontes de tal definição sejam apresentadas. Em seguida, vêm recomendações de leituras suplementares e, por fim, uma lista de termos relacionados ao verbete.
Os autores são professores e alunos de renomados programas de pós-graduação de diferentes universidades brasileiras, que, tendo aceitado o convite para participar deste projeto, empenharamse na, podemos dizer, ousada tarefa de revisitar e redizer discursos que influenciaram e influenciam centenas de milhares de outros discursos e, nesse sentido, ilustram perfeitamente o que Foucault (1992),3 em sua memorável obra “O que é um autor”, denomina de “fundadores da discursividade”.
Desejamos uma boa leitura.
As organizadoras.
Ano de lançamento | 2022 |
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Número de páginas | 172 |
ISBN | 978-65-5869-876-0 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-875-3 |
Organização | Siane Gois Cavalcanti Rodrigues, Sônia Virginia Martins Pereira |
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