Encontros com bebês e crianças: experiências de infâncias na UAC

Organização: Clau Fragelli, Danitza Dianderas da Silva

PREFÁCIO

O convite para escrever o prefácio desse livro me fez relembrar as inúmeras experiências vividas ao longo dos últimos anos, em diversas situações, sobretudo quando o assunto é o fazer na Educação Infantil.

Certamente as ações educativas contadas aqui ganham conexões no momento em que a produção de cada capítulo coloca em movimento os saberes que trazemos sobre o trabalho com as crianças e bebês, pois ao escrever sobre o que fazemos o exercício de integração entre teoria e prática, entre cientificidade e a experiência do cotidiano com as crianças, ganham espaço de reflexão no planejamento e execução de novas ações.

Em meus vinte oito anos de trabalho na Unidade de Atendimento à Criança (UAC) houve muitos encontros, nessa trajetória, alguns e algumas profissionais da infância se aposentaram, outras(os) passaram em serviço temporário como professoras(es), gestoras(es), pesquisadoras(es) e estagiárias(os).

Esse livro surge no momento em que cessa a transitoriedade das profissionais efetivas e há certa estabilidade, principalmente em relação ao quadro docente, composto pelo maior número de profissionais que atuam diariamente e direto com bebês e crianças, de forma planejada, considerando ações educativas que promovam a aprendizagem e o crescimento e global das mesmas(os), no compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família.

Sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é mera reprodução de hábitos existentes ou respostas que as docentes devem fornecer à demanda e ordens externas, então, gostaria de ressaltar aqui dois aspectos importantes na compreensão do que se faz num contexto específico e circunscrito: o tempo e a experiência profissional.

Os primeiros anos de prática profissional são decisivos na aquisição do conhecimento entre as pessoas, do espaço e da rotina, onde o fazer docente acontece. Entre as(os) profissionais que contribuem para a educação de crianças e bebês destaco o trabalho docente, pois o fazer está no contato diário e constante, e o Tempo é responsável pela elaboração e edificação do saber fazer e ser, dessas(es) profissionais.

O tempo contribui com a edificação dos saberes das(os) profissionais e serve de base para a construção da identidade profissional da qual fazem parte dimensões identitárias e dimensões de socialização profissional, bem como fases e mudanças.

Mudanças significativas ocorreram no quadro de servidoras(es) efetivas(os) na UAC, nos últimos dez anos, tanto no quadro de servidoras(es) Técnicos Administrativos como auxiliares de creche, enfermeira, e professoras do Ensino Básico Técnico e Tecnológico (EBTT). Atualmente o quadro docente está composto de 12 professoras efetivas, sendo que três, dessas, estão na UAC aproximadamente há vinte anos.

Assim, para a maioria das profissionais docentes a jornada está se iniciando, mas nos dez anos de convivência, o grupo de servidoras efetivas foi gradativamente se constituindo. E atualmente, se encontram, no momento, em que podemos dizer o quanto os saberes provenientes das múltiplas experiências na profissão, na vivência com as crianças e bebês, com as(os) colegas de jornada, que são desenvolvidos no exercício e função da prática da profissão docente, são saberes específicos, pois estão baseados no trabalho do dia-a-dia da professora, na relação interpessoal com seus pares e outras(os) profissionais e no conhecimento do seu meio. Eles incorporam-se à experiência individual e coletiva sob forma de habilidades de saber-fazer e de saber-ser. Esses saberes não se encontram sistematizados em doutrinas e teorias, são saberes práticos e não práticos, e formam um conjunto de representações a partir das quais as professoras interpretam, compreendem e orientam sua profissão e sua prática diária em suas dimensões de identidade e socialização, sendo que constituem a cultura docente em ação. É na rede de relações, interações e no confronto entre os saberes produzidos pela experiência coletiva que os saberes experienciais adquirem certa objetividade; ou seja, certezas subjetivas são sistematizadas a fim de se transformarem em um discurso da experiência capaz de informar ou de formar outras(os) docentes e de fornecer resposta a seus problemas. Trago aqui a lembrança das experiências vivenciadas com as pesquisadoras(res), estagiárias(as), bolsistas que transitaram pela UAC num cenário de diálogo aberto com as interações da prática.

Essa trajetória também foi marcada pelos constantes diálogos sobre a abertura das creches universitárias aliadas às problematização de sua função mediante sua especificidade e vinculação com a Universidade. Nesse processo de busca por identidade, a UAC deixou de dar exclusividade ao atendimento prioritário às filhas(os) de servidoras(es) e alunas(os) do campus, estendendo o atendimento a toda comunidade do município de São Carlos e o compromisso com o Ensino, Pesquisa e Extensão se configuraram de forma efetiva.

Com as recentes normativas que reitera o direito da criança à Educação Infantil e obriga a universalização do atendimento nas Unidades de Educação Infantil das Universidades Federais, reforça a necessidade do nosso compromisso de realizar de forma indissociável a Pesquisa e a Extensão, além do Ensino. E nesse contexto toda a discussão a respeito desta medida política, mais especificamente sobre as creches universitárias, nos envolveu ainda mais nas reflexões sobre o fazer docente que é essencial no processo de aprendizagem permanente na formação profissional.

Durante nossa trajetória, as discrepâncias teóricas entre as docentes surgiram quando se tratava do fazer com ou para as crianças. Mas ao nos atermos à concepção de criança, infância e Educação Infantil e nos defrontarmos com situações divergentes da prática na tentativa de explicar uma intervenção eficaz, crescemos na análise do conhecimento na ação em relação com a situação problemática e seu contexto.

O tema central deste livro são as experiências das(os) profissionais que atuam na UAC relacionadas às formas de interação e atuação das(os) profissionais na instituição. Cada capítulo traz uma ampla gama de informações, análises e reflexões, que certamente provocam e se desdobram em novas indagações. Ao apontarem para as possibilidades que se abrem nas análises, nas formas de mediação, nas condições e nos modos de participação do outro na elaboração do conhecimento, os textos sem dúvida se apresentam como um fecundo lugar de inspiração para professoras(es), pesquisadoras(es) e outras(os) profissionais que atuam na Educação Infantil.

Maria José da Silva Rocha
Coordenadora Pedagógica da UAC/UFSCar

 

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-494-6

ISBN [e-book]

978-65-5869-495-3

Número de páginas

221

Organização

Clau Fragelli, Danitza Dianderas da Silva

Formato