Entre galhos e raízes. Memórias e narrativas da família Peixoto Vieira
Organização: Jamerson Lopes Vieira, Nivia Maria Vieira Costa, Vivian Maria Vieira Lima
PREFÁCIO
Há pouco mais de um século, um célebre escritor chamado Leon Tolstói, afirmou em um de seus escritos que a “verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família”. Este fragmento, aparentemente “ingênuo”, diante da grandeza da obra deste “gigante” russo, revela ou anuncia, uma composição social pouco valorizada ou lembrada em tempos presentes, mas que, possui uma importância indiscutível: a família.
Para compreender a relevância desta instituição não é necessário percorrer grandes compêndios ou referenciais teóricos, cabendo somente algumas perguntas, pois, o que seria de “gênios” como Tolstói, entre tantos outros, sem uma família? Como seriam nossas relações sentimentais, formativas e sociais sem a presença da nossa parentela? Embora saibamos que, existiram e, ainda existem, diversos tipos e composições familiares nas sociedades contemporâneas, envolvendo laços sanguíneos ou não. Este livro irá abordar uma rica e peculiar experiência familiar, responsável não apenas pelo surgimento de muitos lares e memórias individuais, mas ao mesmo tempo, auxiliando no processo de formação de uma cidade no interior paraense.
Estudos envolvendo a temática da família não são recentes, remontando a “Europa, principalmente Inglaterra e França, a partir do século XVI”. Contudo, foi somente no século XX, a partir das décadas de 1950 e 1960 que, a temática da família “se constituiu numa área específica da pesquisa histórica, com inúmeros trabalhos sendo publicados”, com destaque para estudiosos como “Michel Anderson, André Burguière e Alan Macfarlane”.
No âmbito da historiografia brasileira, ao lado dos textos considerados clássicos de autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro. A produção acadêmica sobre a história da família só passou a ganhar contornos mais definidos nas décadas de 1980 e 1990, com destaque para autoras como Eni Samara e Mariza Côrrea, cujos estudos passam a investigar aspectos sociais, demográficos e culturais. Em princípios do século XXI, surge uma vasta e diversificada produção histórica direcionada a esta temática, com destaque para as pesquisas realizadas por Mariza Teruya, Silvia Brügger, Cacilda Machado e no âmbito da Amazônia, Cristina Donza Cancela.
Porém, não encontramos na escrita da obra: Entre galhos e raízes, a angústia e a pressão de uma pesquisa acadêmica, em suas “neuroses” ou necessidades de fontes, de referenciais teóricos e bibliográficos, mas a suavidade de filhos, netos ou bisnetos que, sob arguta sensibilidade, relatam ou escrevem com emoção e paixão, as experiências de seus antepassados, transformando este texto em uma leitura prazerosa e convidativa.
O presente livro, composto de uma coletânea de textos, muitos deles autobiográficos, tem como “fio condutor” um tema característico e, por assim dizer, especial, marcado pelas experiências e vivências das famílias Peixoto e Vieira, desde a chegada precursora de Maria da Conceição e Aderaldo Peixoto no ano de 1915, e de Luiza Camerino Barbosa e Camerino Barbosa Vieira, também em princípios do século XX. Estas famílias, como tantos outros nordestinos, migraram para a “imensa” e “chuvosa” região amazônica, em busca de alcançar seus sonhos, construir novos laços sociais e, ao mesmo tempo, estabelecer uma nova história.
Encarnando, como bem afirmou Euclides da Cunha, o “sertanejo (…), antes de tudo, um forte”, em razão das dificuldades e asperezas enfrentadas no dia a dia, mas também distanciando-se do pensamento deste mesmo autor que, considerava a Amazônia como terra de “história: revolta, desordenada, incompleta”. Os pioneiros das famílias Peixoto e Vieira, ao pisarem neste espaço, construíram uma bela e original história, aqui reconstruída, a partir das reminiscências e da pesquisa realizada por alguns de seus descendentes.
Embora trate-se de uma obra coletiva, os capítulos deste livro, unem os fios de diversos relatos, ajudando a “nos orientarmos no labirinto”, ou mais especificamente, nas experiências e vivências de alguns homens e mulheres, desde princípios do século XX até o século XXI. O caminho aberto por este estudo, embora possua um direcionamento exclusivo e familiar, também representa um interessante exemplo, podendo despertar possibilidades, para que outros testemunhos históricos, provenientes das memórias de migrantes nordestinos ou não, em terras amazônicas, também possam ser escritos e publicados.
Estas histórias, das quais, orgulhosamente me incluo, pois também contam parte de minhas origens, como descendente de uma das várias ramificações dos irmãos Vieira, por mais curtas e diversificadas que possam ser – transparecem as vivências e experiências de uma família – devendo ser preservadas e eternizadas ao longo do tempo, nos corações e mentes das futuras gerações.
Luciano Demetrius Barbosa Lima
SEDUC – PA
Ano de lançamento | 2021 |
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ISBN | 978-65-5869-192-1 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-218-8 |
Número de páginas | 149 |
Organização | Jamerson Lopes Vieira, Nivia Maria Vieira Costa, Vivian Maria Vieira Lima |
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