Estudos em sociolinguística de contato
Organização: Mônica Savedra, Peter Rosenberg
PREFÁCIO
O contato linguístico é uma realidade no nosso Brasil multilíngue. Contudo, devido a uma tradição secular de políticas linguísticas monolingualizadoras, muitas vezes esse multilinguismo e esse contato linguístico diário não são percebidos por grande parte da população, que vive alheia a essa riqueza cultural de nosso país. Por isso, tratar do assunto é sempre importante e muito informador. E foi com esse objetivo que foi oferecido o curso “Introdução aos estudos em Sociolinguística de Contato”, na Universidade Federal Fluminense, do qual originou o presente volume.
Estima-se que se falem no Brasil mais de 330 línguas (274 línguas indígenas, segundo o IBGE, e cerca de 56 línguas de imigração, além da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), reconhecida oficialmente, embora não seja considerada língua oficial do país). Não menos importantes, também temos as variedades faladas em comunidades quilombolas e comunidades de povos ciganos, sem esquecer das inúmeras línguas estrangeiras que circulam no território nacional por diversos motivos, acentuadas pelos refugiados que há alguns anos buscam no Brasil uma nova pátria. Nesse cenário, há de se levar em consideração ainda as situações de fronteira – as quais, no caso do Brasil, com seu grande território, tornam-se inúmeras. O contato de fronteira resulta em empréstimos, variação e mesmo no surgimento de novas variedades, justamente porque, ao estar em contato, as línguas se influenciam mutuamente, já que os falantes absorvem características das línguas às quais estão expostos, uma vez que passam a se apropriar das mesmas em um processo identitário.
Assim, podemos supor que línguas estão constantemente em contato, uma vez que seus falantes estão constantemente em contato. E como as línguas são vivas, o falante que dela se apropria a utiliza “a seu bel prazer”, para suprir as necessidades de 8 comunicação que surgirem em suas interações. Nesse sentido, é importante compreender que o contato linguístico ocorre porque indivíduos estão se comunicando ou tentando se comunicar, buscando a melhor compreensão entre si. Para isso, adaptam seus falares, adotam novo vocabulário, constroem nova sintaxe, aplicam novo uso ou sentido a um item, inovam, imitam, encaixam, acomodam. Tudo em prol da comunicação, do entendimento mútuo com o outro. Até há casos em que o contato linguístico acontece em ambientes de guerra e de conflitos, mas, de modo geral, arrisco dizer que o contato linguístico acaba sendo uma manifestação de fraternidade e empatia. Pode ser que às vezes seja apenas unilateral, mas inevitavelmente marca uma comunidade, caracteriza um território e mesmo define uma nação. Afinal, o legado do contato linguístico é o plurilinguismo dos diferentes indivíduos que constituem o grupo – e o que pode ser mais rico do que a diversidade?
Profa. Dra. Karen Pupp Spinassé
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Ano de lançamento | 2021 |
---|---|
ISBN [e-book] | 978-65-5869-540-0 |
Número de páginas | 341 |
Organização | Mônica Savedra, Peter Rosenberg |
Formato |