Foucambert e Bajard: o encontro de Paris

Autoria: Adriana Pastorello Buim Arena, Dagoberto Buim Arena

R$40.00

CAMINHO PERCORRIDO PARA A CONSTRUÇÃO DO DIÁLOGO

Desde os primeiros anos da década de 1990 vínhamos acompanhando as publicações e conferências proferidas por Jean Foucambert e Élie Bajard em congressos em São Paulo, mas nunca tínhamos mantido encontros pessoais antes de 2012. Nesse ano, tivemos, Adriana e Dagoberto Buim Arena, o primeiro encontro presencial com Élie Bajard por ocasião do VII Congresso de Alfabetização, V Congresso de Educação Infantil e EJA: práticas de leitura e de escrita para a constituição, promovido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, coordenado por Adriana e por outras professoras. Depois desse primeiro contato, estreitamos os vínculos acadêmicos por correspondências eletrônicas frequentes em torno de alfabetização. Em 2013, a secretaria de educação de Marília-SP aceitou um plano de formação de professores alfabetizadores proposto por Bajard, com a participação de Dagoberto, professor da disciplina Alfabetização na Unesp. Esse plano foi executado de 2013 a 2014, com um grupo de professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Entre outubro de 2013 e agosto de 2014 nos deslocamos para um estágio pós-doutoral no CELSA – Sorbonne, Paris IV, sob a supervisão de Emmanüel Souchier, enquanto Bajard continuava com a formação em Marília.

Em junho de 2014, voltamos a nos encontrar em Paris, durante sua viagem de férias de verão. Nesse mês, trocamos ideias a respeito de um livro que ele estava escrevendo. Anos depois, em 2019, organizamos, a pedido dele feito em 2017, quando ocorreu o nosso último encontro presencial, os capítulos ainda não concluídos da obra que deveria ser editada após sua morte, por ele pressentida pouco antes de submeter-se a uma cirurgia de substituição de uma válvula em seu coração. Eles leem, mas não compreendem. Onde está o equívoco? foi postumamente publicado em 2021 pela Cortez Editora.

Em 2014, entretanto, Bajard combinara um encontro com Foucambert na sede da Associação Francesa para a Leitura – AFL, na 65 Rue des Cités, 93300, em Aubervilliers, na região metropolitana de Paris. No dia 14 de junho, às 9 horas, lá estávamos, recebidos por Foucambert e por Marie, a secretária da associação. Conversamos a respeito dos rumos das políticas de alfabetização na França, das experiências de Bajard no bairro do Campo Limpo, em São Paulo, e em Marília. A longa conversa também trouxe à tona as memórias de Foucambert quando desenvolveu seus trabalhos de formação de professores no Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas – INRP, na França, dos quais Bajard também participara.

As conversas registradas por um gravador digital dormiram em um computador até 2019, dois anos após a morte de Bajard. Cumprido o compromisso selado com ele em 2017, de concluir a obra por ele legada, nos dedicamos a uma outra tarefa, também previamente combinada com Bajard e com Foucambert, a de transcrever os áudios registrados e publicar os diálogos, com a intenção de perenizar as memórias desses dois franceses militantes no campo da alfabetização e da leiturização. Eles jamais renunciaram à posição de vanguarda nos embates contra o pensamento tecnicista e tradicionalista baseado na fonoaudiologia, neurologia e psicologia cognitivista, entre outras áreas das ciências da natureza. Bajard se dedicava, em seus escritos e em suas palestras, a demonstrar que a linguagem escrita era apropriada pelo ato de ler, como material gráfico a ser percebido pelos olhos, mas sua atenção também se dirigia para o aspecto gráfico da palavra, como contraponto às pesquisas oriundas das ciências biológicas que pregavam e pregam a necessidade de desenvolvimento da consciência fonológica como requisito para as crianças se alfabetizarem. Foucambert, responsável pelo conceito de leiturização, também insiste na apropriação da linguagem escrita pelo ato de ler. Para ele, o fundamental é observar o que faziam os operários do século XIX quando ensinavam seus filhos. A leitura de panfletos, jornais e todo material de organização dos trabalhadores era o conteúdo de ensino, de aprendizagem, ao mesmo tempo conteúdo da vida e da luta diária. Para ele, os textos são as criações de linguagem escrita onde devem se encontrar os professores e seus alunos no século XXI. Esse lugar também era o proposto por Bajard, cujo desejo era combater, com argumentos empregados na construção gráfica da palavra, os defensores do método fônico e da consciência fonológica. Essas congruências se manifestam nos diálogos travados entre eles.

As transcrições dos áudios foram lentas, minuciosas e laboriosas porque feitas por dois brasileiros não nativos em francês, ouvidos colados nos fones, sem ter como consultores os dois principais protagonistas, um por morar em Paris, outro por não morar mais no planeta. Por isso, tomamos algumas decisões, entre elas a de suprimir trechos sobre assuntos pessoais, sem nenhum vínculo com o tema em discussão, e a de acrescentar nomes, situações e obras citadas para alimentar de informações o leitor. Para isso, recorremos a pesquisas em sites e bibliotecas virtuais. Por essa razão, o leitor encontrará interrupções necessárias para que alguns comentários sejam introduzidos. Essas inserções estão grafadas em fonte distinta de caracteres da empregada no registro dos diálogos para bem evidenciá-las. Em virtude da referência que faz Foucambert a um projeto chamado Cidade-Leitora, elaborado pela Associação Francesa para a Leitura, decidimos traduzi-lo para conhecimento do leitor brasileiro.

O resultado final, cremos, poderá ser aproveitado pelos leitores interessados em conhecer alguns portos de passagem desses dois pensadores franceses, com experiências diversas, ora na França, ora no Brasil. É um diálogo entre dois pesquisadores (com uma ou outra participação de nossa parte) cuja abordagem se revela provocativa para a compreensão das políticas de alfabetização na França e no Brasil. Mais do que história, o que se tem aqui são proposições para um futuro na alfabetização em que a liberdade de pensar e a apropriação dos atos com linguagem escrita estejam no cerne das relações humanas.

Além destas palavras iniciais e um pequeno epílogo, o livro é composto por outras partes. A primeira apresentará brevemente Foucambert e Bajard, para que o leitor tome conhecimento de contexto de vida e de formação dos referidos autores. Em seguida, Diálogos no encontro na Associação Francesa para a Leitura, é um trabalho de degravação e de tradução da conversa sobre alfabetização e leiturização entre Bajard e Foucambert, com algumas participações dos organizadores desta obra. O texto original, sonoro, materializou-se, aqui neste livro, pela formulação textual escrita e, por este motivo, algumas marcas da construção textual oral foram mantidas, entre as quais as retomadas, as repetições e as modalizações. No terceiro momento, oferecemos ao leitor a Carta das cidades-leitoras, uma tradução de um artigo escrito por Jean Foucambert, publicado pela Associação Francesa para a Leitura (AFL) na revista Atos de leitura, n. 26 junho, 1989. E por fim, apresentamos o Manifesto dos usuários da escrita, um artigo de Élie Bajard, originalmente publicado na revista Ensino em Re-Vista, n.1 (jan./jun.), 2014.

ISBN: 978-65-5869-396-3 [Impresso]978-65-5869-397-0 [Digital]

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Autores:Adriana Pastorello Buim ArenaDagoberto Buim Arena

Ano de lançamento

2021

Autoria

Adriana Pastorello Buim Arena, Dagoberto Buim Arena

ISBN

978-65-5869-396-3

ISBN [e-book]

978-65-5869-397-0

Número de páginas

175

Formato

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