Fronteiras dos saberes: as pesquisas interdisciplinares e seus entre-lugares
Autoria: Ana Carolina Cruz Acom, Denise Rosana da Silva Moraes, Hêlena Paula Domingos de Carvalho
PREFÁCIO
Fronteiras dos saberes: as pesquisas interdisciplinares e seus entre-lugares. Este livro apresenta três pesquisas interdisciplinares desenvolvidas junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade, Cultura e Fronteiras da Unioeste, Campus de Foz do Iguaçu, Paraná. O campus está situado em um território transfronteiriço onde circula diferentes saberes de pessoas que transitam nos entrelugares da fronteira trinacional entre a Argentina (Puerto Iguazú), Brasil (Foz do Iguaçu) e Paraguai (Ciudad Del Este).
A relevância das pesquisas desenvolvidas pelas autoras desse livro sobre as fronteiras dos saberes nos entrelugares, nas comunicações midiáticas e suas interseccionalidades está nas possibilidades de abrir outras trilhas da ciência, numa perspectiva acolhedora de outros saberes e outras lentes que foram historicamente silenciados no processo de dominação cultural.
A profa. Dra. Denise Rosana da Silva Moraes, docente do PPGSCF, atuando especialmente na linha de pesquisa Linguagem, Cultura e Identidade, vem se dedicando a aprofundar os estudos de mídia e suas interfaces para ampliar e dar visibilidade a outros horizontes, que se contrapõe à cultura hegemônica na formação docente, problematizando o uso das mídias voltadas para consumo e para treinamento. Ancorada nos Estudos Culturais, Denise Moraes analisa as mídias como artefatos culturais que possibilitam a criação autoral, fazendo conexões entre o trabalho intelectual e o trabalho político nos entrelugares das fronteiras dos saberes.
Ao entrecruzar as fronteiras, na perspectiva da filosofia da diferença, Ana Carolina Cruz Acom propõe pensar as “fronteiras do saber”, como um procedimento criativo de verificação das ciências em processo de experimentação, incluindo nós pesquisadoras como criadoras de “teoria, prática e método”. Na perspectiva deleuzeana, a filosofia não se limita a refletir, mas inventar conceitos, pois ela é entendida como uma “atividade de criação”. Dessa forma, propõe uma experimentação com alguns conceitos criados para desenvolver uma educação do olhar para o cinema na sala de aula
Hêlena Paula Domingos de Carvalho, propõe uma pedagogia do olhar e da sensibilidade, mencionando Nietzsche (1844-1900) ao concordar que “a tarefa da educação é ensinar a ver”. E Kant (1996) afirma que ser humano “é a única criatura que precisa ser educada”. Assim, por meio da educação construímos o nosso repertório cultural e a representação do mundo em nosso esquema mental.
Entramos na terceira década do século XXI e presenciamos os resultados da era midiática, tornando cada vez mais complexa a tarefa de ensinar. As novas gerações de nativos digitais navegam pelo ciberespaço repletos de múltiplas linguagens, com sentidos e significados culturais que se convergem ou se divergem. Situada em um entrelugar, o olhar, o cinema e a educação, Helena Paula experimenta o exercício de ver para transformar subjetividades atentas aos novos saberes no espaço escolar. A pedagogia do olhar aprimora o senso de observação das imagens em movimentos do cinema, ampliando nossas lentes para a leitura do mundo.
Este livro, portanto, oferece contribuições para as práticas de ensino nos espaços educacionais e nos instigam a pensar nas dificuldades de aprendizagens relacionadas aos conflitos culturais. A hierarquia cultural nos espaços escolares está presente tanto entre alunas e alunos quanto entre professoras e professores. Essa hierarquia produzida por um discurso racista estereotipado, analisado por Bhabha (2007), estabeleceu a nossa constituição do saber e o exercício do poder que teve início nos tempos do Brasil Colônia. Fomos historicamente colonizados em nossas mentes e em nossos corações nos moldes da civilidade europeia. Combater a superficialidade dos discursos midiáticos e desconstruir a hegemonia cultural que se materializou em nossa forma de pensar, sentir e agir no universo mercadológico é um dever da tarefa docente comprometida na construção de uma sociedade democrática.
A cultura digital se expandiu em nível global, levando conteúdos científicos e, ao mesmo tempo, os conteúdos falsos disseminados nas mídias sociais que são disparados para os diferentes públicos de consumidores e consumidoras de fake News. Deleuze denuncia a comunicação esvaziada da linguagem para controlar a sociedade, mais do que nunca, suas ideias estão presentes no nosso mundo contemporâneo, com a disseminação das Fake News. Numa cultura, o código linguístico é compartilhado e usado para comunicar os significados das palavras que orientam as condutas e as práticas sociais. Essa comunicação ocorre também através das expressões faciais e corporais que transmitem sentimentos e ideias. Por isso, a educação do olhar é uma necessidade para desenvolver a capacidade de duvidar do que se vê na tela do cinema ou da TV e problematizar as mensagens midiáticas que se apresentam como discursos de verdades produzidas para atender a interesses políticos ou mercadológicos nas redes digitais.
Teresa Kazuko Teruya
Maringá, 20 de dezembro de 2021
Referência
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. M. Ávila; E. L. de L. Reis; G. R. Gonçalves. 4. Reimp. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007. KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Piracicaba: Ed. da Unimep, 1996
Ano de lançamento | 2022 |
---|---|
Número de páginas | 192 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-688-9 |
ISBN | 978-65-5869-687-2 |
Formato | |
Autoria | Ana Carolina Cruz Acom, Denise Rosana da Silva Moraes, Hêlena Paula Domingos de Carvalho |