Língua e lalangue na análise do discurso de Michel Pêcheux

Edmundo Narracci Gasparini

O quadro epistemológico da Análise do Discurso, assim como proposto por Michel Pêcheux e Catherine Fuchs em 1975, é composto por três regiões do conhecimento científico: o Materialismo Histórico, a Linguística e a Teoria do Discurso. Essas três regiões do conhecimento são, segundo Pêcheux e Fuchs, atravessadas e articuladas por uma teoria da subjetividade de natureza psicanalítica. Levando em consideração a composição do quadro epistemológico da Análise do Discurso, este livro pretende refletir sobre a presença da língua e as vicissitudes por ela sofridas ao longo do percurso teórico de Michel Pêcheux, assim como explorar as possíveis relações entre tais vicissitudes e o atravessamento do quadro epistemológico pela teoria psicanalítica.

A língua é um pressuposto do discurso, mas ocupa esse lugar de forma diferenciada ao longo do percurso teórico de Michel Pêcheux. É possível vislumbrar um primeiro momento nesse percurso em que a língua é abordada de forma a colocar em destaque seu funcionamento como sistema regido por leis abordáveis no âmbito da Linguística, isto é, por leis fonológicas, morfológicas e sintáticas. O sistema da língua é, nessa perspectiva, possuidor de uma autonomia relativa, uma vez que coloca em cena um funcionamento que só parcialmente é linguístico. O que se enfatiza nesse momento é o fato de que a base linguística distingue-se dos processos discursivos constitutivos do sentido, correspondendo ao lugar no qual se desdobram os efeitos de sentido produzidos em nível do processo discursivo. Essa abordagem da língua encontra-se estreitamente relacionada à intervenção de Pêcheux no campo da Linguística, intervenção nomeada pelo autor de “mudança de terreno”, mudança a partir da qual seriam forjados conceitos exteriores à Linguística, apropriados para uma abordagem do nível da particularidade correspondente ao discurso.

Em contraste com a abordagem da língua na qual se coloca em destaque o funcionamento fonológico, morfológico e sintático da base linguística, é possível vislumbrar num momento posterior do percurso teórico de Michel Pêcheux o recurso explícito a um elemento proveniente da teoria psicanalítica: lalangue, termo forjado por Jacques Lacan como efeito de um lapso e teorizado por Jean-Claude Milner em O amor da língua. O recurso a lalangue se localiza no contexto de mudanças significativas no âmbito da Análise do Discurso, tanto no que se refere à teoria quanto no que concerne à prática de análise. Contudo, se por um lado a consideração de lalangue vem acompanhada de mudanças significativas na Análise do Discurso, tal recurso não deixa de colocar impasses para a abordagem do discurso forjada por Michel Pêcheux. Uma vez que se leva em conta que lalangue remete à dimensão de um gozo impossível, interditado pela língua, quais seriam as consequências para uma teorização sobre o discurso?

Edmundo Narracci Gasparini
Língua e Lalangue na análise do discurso de Michel Pêcheux.

Ano de lançamento

2021

Autoria

Edmundo Narracci Gasparini

ISBN

978-65-5869-467-0

ISBN [e-book]

978-65-5869-468-7

Número de páginas

198

Formato