O ensino e as imagens de violência. Da margem ao protagonismo nos livros didáticos de história
Organização: Ana Meyre de Morais, Paulo Augusto Tamanini
PREFÁCIO
O livro didático é instigante pelo que deixa escondido, pelos silêncios, pelo que brada, pelo que permite tecer em um caminho de reflexões, de entusiasmos, pelas trajetórias e contornos inspiradores de atalhos, veredas, rotas diferentes, pelas páginas de inclusão e exclusão dos/nos escritos que pretendem seus narradores. Provoca pelo dito e pelo não dito pistas para a visibilidade de um passeio antropológico pelos cenários da História do Brasil. Aguça olhares para captar os gritos, desafia as construções dos silêncios de uma história atravessada pelas mãos de quem a conta a partir de seu ponto de vista. Com um tema relevante quer trazer à tona alguns outros temas de destaque para o debate acadêmico, a saber, a Formação humana, formação docente/(auto)formação, ensino, aprendizagem, autoformação.
É o caso do livro O ENSINO E AS IMAGENS DE VIOLÊNCIA. DA MARGEM AO PROTAGONISMO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA, de autoria de Ana Meyre de Morais e de Paulo Augusto Tamanini com um convite para traçar uma rota e trazer desdobramentos ressaltando as dimensões do olhar sensível sobre as imagens, do escutar as vozes dos sujeitos de cada imagem, de cada cenário, o desenho da exclusão com disfarce de inclusão.
Salientamos um aspecto central na proposta deste livro sobre a interpretação das imagens de cunho violento presentes nos livros didáticos de História do Ensino Médio, a saber, observar como este tema pode auxiliar alunos a serem críticos, reflexivos e atuantes em sua formação. Destaco como ponto importante de reflexão: no caso do aluno e do professor a possibilidade de ultrapassar esses limites e irem além do que os textos informam. Destaco a via de compreensão do mundo simbólico do passado a partir do que está proposto por seus escritos.
Por essa via, este livro colocado em nossas mãos, nos dedica reflexões para além do óbvio, inclusive dissecando o que poderia ser óbvio para resgatar a possibilidade da narrativa e do narrador com narrativas diferenciadas e pertinentes do âmbito da educação, da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia. Vislumbra olhares para a diversidade dos olhares, da escrita, da escuta. Provoca, ainda, uma educação para as sensibilidades dos traços, das cores diversas do fiar a História do Brasil. Permite sentir várias esperanças, mas principalmente o esperançar do narrar, do sentimento do narrador por diferentes maneiras do fortalecimento da memória para o trajeto do não esquecer. Aguça lições de casa, das ruas, das praças, dos logradouros, das vilas, das comunidades, com vistas a se e alimentar da esperança e do esperançar.
Quem se dedica edificar pela via do sensível, da educação das sensibilidades preocupa-se com o Outro, levantado em cada lugar, páginas, memórias e, para o caso deste livro, a escolha das imagens como lugar que provoca e atiça reflexões, o saber de cada um com a oportunidade de se autoconhecer, seu papel dentro da escrita da historiografia. Os diálogos que as imagens construirão, pelo animar as reflexões, conduzirão a pensares diversos, sujeitos diversos, resistências diversas entrelaçadas pelo que se desejava dizer e não foi possível pela força da escrita da História Oficial. A proposta da pesquisa trazida por este livro se pautou, portanto, em analisar as imagens de cunho violento presentes nos livros didáticos de História do Ensino Médio, para observar como este tema pode auxiliar os alunos a serem críticos, reflexivos e atuantes em sua formação.
A proposta deste livro que fala sobre O ENSINO E AS IMAGENS DE VIOLÊNCIA. DA MARGEM AO PROTAGONISMO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA corrobora a necessidade de se pensar a História do Brasil em diferentes dimensões, recursos, modos de fazer seu cotidiano buscando os processos educacionais, argumentando pela diversidade e a inclusão essenciais ao livre pensar para além de um lugar, de um sítio. Bem pelo contrário, pela diversidade de sítios, situações, sujeitos e memórias.
É uma retomada pela defesa dos processos de aprendizagem através da escrita da História do Brasil pelas mãos de quem as vivenciou. Um redesenho para a construção de novos olhares que promovam a sensibilidade do cidadão que se constrói praticando, no ladrilhar dessa construção, o resgate dos direitos fundamentais, direitos essenciais negados ao longo da escrita nas páginas da referida História e que produziram abismos configurados em um traçado a partir de uma política de negar a potencialidade dos sujeitos simples. Este ponto trouxe abismos de desigualdades e exclusões.
As possibilidades que este livro deixa aos seus leitores e leitoras são, além de tantas outras travessias, a de reescrever ao ler cada linha, a partir de sua ótica, sua leitura, suas experiências, outros desdobramentos que trarão o interesse por tantos outros estudos, recortes, lugares da memória. Por esse instigar, e na dimensão do que pratico como educadora e estudante da vida ao longo dos meus dias e experiências, entendo o trazer as vozes dos alunos como potencialidade autoformativa. As temáticas levantadas neste livro, através do estudo da violência das imagens da História do Brasil, são pertinentemente encorajadoras e tenho certeza que inquietará, atiçarão braços e abraços na ótica de tantos outros gritos e experiências exitosas, uma vez que estão carregadas de esperança do partilhar, do compartilhar, do desejar repensar cenários da História do Brasil muitas vezes pretensiosos e arrogantes. Tenho certeza que este livro produzirá efeitos balsâmicos naqueles que se encontrarão contemplados pelo sentimento de reconstrução e ressignificação de sua história como protagonista de sua história.
Com essa argila mantém os autores do texto, compondo com esses repertórios e orquestrações, a escrita pela voz do coração. Este livro provoca o ontem, ressignifica o hoje, talvez mais, pois diariamente, estará aberto às nossas memórias solo em que pisamos e à cenários e paisagem da História do Brasil com profundidade, respeito e dignidade conjugados. Os ensinamentos deste livro, sob a forma de narrativas de imagens de violência constituem e jorram de uma fonte eminentemente formativa em seus lugares de vivência.
Por fim, o valor do cotidiano no texto e contexto dos escritos dos estudos elencados por este livro salienta que o valor das relações na História do Brasil é condição impar posto que envolve sentimentos guardiãs, forma que põe em evidência a antecipação na construção dos saberes. É um retato multicolorido de lições. É presença atenta. Deixa um diário. Um diário em imagens, escrito das singularidades dos lugares dos sujeitos e memórias, dos seus espaços educativos, de suas cartilhas benéficas para a formação de sujeito da uma história. É ímpar em meus textos e contextos. Sábia em trazer e em saber narrar. As vozes que se abrirão a partir da leitura de suas linhas soam como um eco no mover do meu coração dos seus autores para a reescrita pela via das imagens.
Com este sentimento do enxergar as vozes dos sujeitos, como protagonistas, por entre as páginas da História do Brasil através do livro didático, do que nos narra em imagens, muito me honra este momento de andar pelo belíssimo tapete de construções ladrilhadas pelas mãos sensíveis dos educadores Ana Meyre de Morais e de Paulo Augusto Tamanini. Este livro, escrito com o interesse do estudo sobre a violência das imagens no livro didático, vem contribuir com as discussões que trazem vida ao dia a dia da formação docente, na construção de um estudante crítico e sensível ao seu fazer.
Este livro soa como a argila nas mãos do oleiro. Permite que nos cheguemos ao aconchego daquilo que se produziu em nós, antes de nós, e que desatado de nós se produziu ao seu modo. Socialmente produtor de alteridade e de laços sociais. Está para além do tempo, do começo ao fim que, pela via da narrativa, se estabeleceu entre os tempos plurais da nossa própria narrativa.
Este livro quer aguçar incertezas, questionamentos, dúvidas, tensões, o amargo, os sabores, o aprazível, o deleitável, das dimensões pessoal e coletiva das imagens de violência na escrita da História do Brasil nos livros didáticos.
Cabe repisar, quer ler o doce e suave ser, quer passear pela leveza do ser, ser capaz de transformar o próprio ser de sujeito, adentrar, mais ainda, em seus contextos, memórias, experiências, sentidos, mobilidades, arranjos sociais e configurações que nos identificam. Parte do humano e a serviço do humano e, como argila nas mãos do oleiro, continua a vivificar a História do Brasil pelas vozes de seus protagonistas.
Profª Dra. Ana Lúcia Oliveira Aguiar
Departamento de Educação
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)
Ano de lançamento | 2020 |
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ISBN | 978-85-7993-808-5 |
ISBN [e-book] | 978-85-7993-811-5 |
Número de páginas | 157 |
Organização | Ana Meyre de Morais, Paulo Augusto Tamanini |
Formato |