O ensino na educação básica: diálogos entre sujeitos, saberes e experiências docentes

Éderson Luís Silveira, Francisco Jeimes de Oliveira Paiva

PREFÁCIO

Já estávamos a merecer uma obra sobre o que vem ocorrendo na Educação Básica que nos apresentasse uma visão do estado da arte das pesquisas recentes realizadas, em sua maioria, por jovens pesquisadores. É com isso que “O Ensino na Educação Básica – Diálogos entre sujeitos, saberes e experiências docentes” nos brinda. Seus vinte e cinco capítulos estão organizados em torno das questões dos letramentos, dos debates acerca do ensino de história, de leitura e literatura, avançando para a reflexão sobre o verbal e o não verbal na sala de aula, para, então, tratar da importantíssima educação inclusiva e de práticas escolares contemporâneas.

Abre as discussões acerca dos letramentos o capítulo de Silva e Guedes que focaliza as (im)possibilidades do letramento crítico em línguas. Os autores iniciam e terminam afirmando que a existência de cidadãos críticos conscientes de seus deveres e direitos exige que se invista em um ensino/aprendizagem de línguas preocupada com justiça, igualdade, fraternidade – ou seja, em que estejam ausentes preconceitos, discriminação e opressão. Na mesma linha seguem Giovani, Souza e Bastos ao focalizarem criticamente o livro didático da alfabetização. Os autores analisam uma unidade do livro didático “Português: uma proposta para o letramento” de Magda Soares, contraponto as teorias presentes no livro do professor às atividades propostas no livro com foco na questão das condições de produção de texto, socialização da escrita e na contextualização das práticas letradas. De sua parte, Silva Júnior, ao tratar do livro didático de língua portuguesa, aponta como práticas reflexivas de letramento neles afloram a partir de uma perspectiva dialógica bakhtiniana. Já Oliveira, Pereira e Lima Neto aproximam-se do letramento digital por meio da análise de dois videoclipes, disponíveis no Youtube, com recurso à Análise de Discurso Crítica. Moreira e Santana Filho se preocupam com o letramento cartográfico, concebido como a apropriação da cartografia enquanto objeto simbólico e tecnológico e como forma de situar-se no mundo e situar o mundo em si. O letramento científico é o objeto do capítulo apresentado por Mesquita e Manfredo que fecham a seção com uma pertinente discussão sobre a abordagem da sexualidade humana nos anos iniciais do ensino fundamental, propondo que “aproveitar os conhecimentos trazidos pelos alunos e aproximá-los dos conceitos científicos é uma possibilidade de trabalhar a educação científica de modo a incitar uma prática social cidadã”.

As discussões sobre o ensino de história que compõem a segunda seção da obra trazem contribuições importantes de Ferreira com o relato de experiências em educação patrimonial como forma de ensinar aos pequenos que ser cidadão passa por valorizar a história. Segundo o autor, “Considerar, no currículo, o estudo do passado como portador de conhecimentos e valores que necessitam ser preservados, serve de base para a construção de uma sociedade mais humana, menos voltada para o consumismo, a fim de formar cidadãos participantes e conscientes de seu pertencimento à sociedade na qual estão inseridos.” Por sua vez, Souza propõe que se recorra a textos poéticos escritos por poetas negros para discutir questões da negritude na história brasileira em interessante entrelaçamento com a literatura. Nas palavras da autora “Busquei nessa relação propor e observar também as diferentes realidades sociais e culturais as quais os alunos estão inseridos que o lugar atende à necessidade, buscando nas experiências cotidianas essa (des)construção das identidades.” Fecha a seção, a contribuição de Silva que nos fala da vivência da história no cotidiano da sala de aula a partir de uma investigação das causas que podem levar à linearidade do ensino de história, com base no “estudo de Semíramis Corsi Silva, o qual ressalta que o conhecimento em história antiga deve ser assentado sobre o prazer em compreender e refletir sobre o passado”.

Bortot e Moura abrem a seção sobre questões de leitura e literatura, com uma pertinente reflexão acerca de literatura infantil e de como seu valor pode ser construído por meio de diálogos entre pais, professores e crianças. Para as autoras, “pensar em Literatura Infantil para o desenvolvimento das crianças significa refletir situações em que elas possam expressar o imaginário e os sentimentos, construir ideias e desenvolver o pensamento e a criticidade.” A concepção dialógica de ensino de literatura também é a base para a formação de sujeitos críticos na proposta de Santana, que considera esta perspectiva permite um ativismo axiológico que “orienta o ritual do ensino de Literatura para prática social, cuja dinamização constitui o processo de ensino e aprendizagem.” Por sua vez, Silva O Ensino na Educação Básica: diálogos entre sujeitos, saberes e experiências docentes reflete sobre o uso de tecnologias digitais no ensino de leitura, apontando que elas “requerem novas práticas pedagógicas, a fim de lidar com: os novos letramentos, as novas práticas sociais e as novas práticas textuais”. Fecham a seção Silveira e Lopes que apontam uma abordagem discursivo-desconstrutivista de leitura como modo de agir sobre os sujeitos, propondo que é preciso dar lugar a possibilidades de desconstrução de textos que permitam relações de poder no ambiente escolar que se distanciem das tradicionais.

A seção seguinte traz a contemporânea discussão sobre as relações entre o verbal e o não verbal, com Gomes e Costa Junior tratando do uso social da charge em sala de aula. De acordo com os autores, a problematização de questões, atuais ou não, pode servir à desmitificação de estereótipos bem como à ampliação da visão crítica dos alunos e de sua atitude reflexiva. Bona e Borba apontam o cinema como suporte pedagógico, a partir de uma pesquisa sobre seu uso na rede municipal de ensino de Blumenau, com foco em seu papel coadjuvante no ensino das várias disciplinas da Educação Básica. Discorrendo sobre a telenovela e a cidadania crítica, Ribeiro e Silva partem do pressuposto do potencial educativo e emancipador de um gênero que retrata, muito frequentemente, o país. Encerrando a seção, Oliveira, Pereira e Ferreira trazem um pormenorizado estudo de caso do discurso publicitário no que tange ao uso de recursos multimodais, com base na Gramática do Design Visual de Kress e Van Leeuwen. Discutem, ainda, sua utilização no ambiente escolar.

Muito instigante e esclarecedora é a seção Desafios da Educação Inclusiva que conta com uma discussão em torno da educação de surdos com base na obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Nesta seção temos também uma aprofundada reflexão acerca dos fundamentos e implementação da educação inclusiva por Paglia e Paglia, que propõem uma inclusão educacional que se estenda a todos os estudantes e atenda às especificidades de cada um.

A última seção inclui variadas perspectivas dos saberes e fazeres na escola contemporânea, abarcando a análise de Paiva sobre as práticas de gestão democrática, um estudo de caso de uma escola no interior do Ceará em que todos os segmentos da instituição foram consultados para propiciar conclusões em torno de sua gestão. As observações de Lima e Silva estão centradas no enfoque intercultural dos direitos humanos no ensino de língua portuguesa. O estudo, de cunho bibliográfico, busca “compreender os direitos humanos no cenário nacional e internacional; traçar o percurso histórico-metodológico da educação em direitos humanos no Brasil e situar a perspectiva intercultural no ensino de Língua Materna, relacionando-o com a Educação em Direitos Humanos.” Temos, a seguir, a proposta da ecopedagogia, por Schwengber e Ruppenthal, que defendem uma Educação Ambiental como prática da liberdade, uma alfabetização dialógica em questões ambientais, com recurso a uma linguagem mediadora e ao contexto dos estudantes. Aranha e Oliveira apresentam, então, uma narrativa reflexiva de sobre formação continuada de professores em programa de tutoria educacional, a que segue a perspectiva histórica apresentada por Oliveira sobre a escola e a constituição identitária do professor. Finalizam a seção as reflexões de Silva e Silva acerca das qualidades educacionais e sociais que fazem com base nas teorias de Bourdieu.

A obra, composta por textos de pesquisadores jovens e pesquisadores mais experientes, como se pode ter ideia por meio da modesta descrição que fizemos, traz um panorama bastante abrangente da Educação Básica brasileira, com contribuições muito relevantes e pertinentes que suscitam reflexões aprofundadas sobre o que se faz, como se faz e quando se faz a educação em nosso país, ao passo em que nos apresenta propostas, teoricamente fundamentadas, de mudanças factíveis em direção à realidade que todos almejamos viver. Tem valor inestimável para professores, futuros professores, pesquisadores e interessados em contribuir para que a Educação de fato aconteça em nosso país.

Profa. Dra. Maria de Fátima Silva Amarante – PUC-Campinas[1]

1-Professora permanente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado, Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas. Professora titular dos cursos de graduação em Letras, pesquisadora e diretora da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Realizou estágio pós-doutoral e defendeu sua tese de doutorado em Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas. Obteve o grau de Mestre em Letras e de Licenciada em Português-Inglês pela PUC-Campinas. Foi também coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão do Centro de Linguagem e Comunicação, chefiou a Coordenadoria Especial das Licenciaturas e assessorou o Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos da PUCCampinas.

Ano de lançamento

2018

ISBN [e-book]

978-85-7993-521-3

Número de páginas

438

Organização

Éderson Luís Silveira, Francisco Jeimes de Oliveira Paiva

Formato