Pedra, Penha, Penhasco: A Invenção do Arcadismo Brasileiro
Autoria: Jean Pierre Chauvin
O Arcadismo é um termo controverso: funciona como interregno a separar “Barroco” e “Romantismo”, categorias igualmente problemáticas e de difícil definição. O que define o poeta árcade? Não faltam adjetivos nos manuais: sincero, truncado, obscuro, afetado, emancipado, autêntico, sensível, realista, nativista, protonacional, antilusitano, pré-romântico, artificial, classicista, reacionário, revolucionário, revoltado, inconformado… Muitos desses conceitos são desdobramentos de critérios imprecisos e anacrônicos, frutos de pautas evolucionistas, positivistas, deterministas, biografistas, darwinistas, nacionalistas, psicológicas. Um olhar enviesado tende a comprometer os critérios que orientaram as artes produzidas entre os séculos XVIII e XIX, amparados em preceitos, autoridades, modelos, decoros, regimes de verossimilhança, tradições e imaginários que remontam à instituição retórica, mas também a tratados de poética, manuais de eloquência e tópicas teológico-políticas de ampla circulação na América portuguesa, mas também no Brasil do século XIX.
Com “Pedra, Penha, Penhasco: a invenção do Arcadismo brasileiro”, Jean Pierre Chauvin propõe itinerário diverso, que leva em consideração a historicidade dos modos de fazer poesia e o repertório cultural dos rapsodos “árcades”, incapazes de antecipar o futuro com suas pautas nacionais. Os poetas também não encaravam o passado como algo superado, mas mantinham com a tradição laços profícuos, calcados na emulação. Versos como “Ronquem roucos trovões, rasquem-se os ares, / rebente o mar em vão n’ocos rochedos, / solte-se o céu em grossas lanças de água”, de Filinto Elísio, soam como ruídos arcaicos/obsoletos nos ouvidos entediados dos leitores do século XXI, mas Chauvin utiliza esse estranhamento para problematizar o poema e a audição despreparada do nosso tempo, que insiste em ignorar o aspecto simbólico da arte e, portanto, seu alicerce. Seria mais fácil conceber a técnica da “Arcádia” como sinceridade autoral ou como embrião de uma rebeldia nacional, pois isso se encaixa na teleologia costumeira, que sacrifica a diversidade em prol de unidades prévias e atemporais. Do ponto de vista histórico, significa descer “penhasco” abaixo. Melhor seria se juntar ao autor e reunir pedra sobre pedra, de modo a criar uma base resistente que fornecesse subsídio para uma leitura criteriosa.
Cleber V. A. Felipe
Ano de lançamento | 2023 |
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Autoria | Jean Pierre Chauvin |
Formato | |
ISBN | 978-65-265-0516-8 |
ISBN [e-book] | 978-65-265-0517-5 |
Número de páginas | 99 |