Pesquisas acadêmicas em Psicanálise: reflexões teóricas e ilustrações práticas
Organização: Nadja Nara Barbosa Pinheiro, Rodrigo Sanches Peres, Sílvia Nogueira Cordeiro
APRESENTAÇÃO
Nadja Nara Barbosa Pinheiro
Rodrigo Sanches Peres
Sílvia Nogueira Cordeiro
A Psicanálise tem fundamentado uma quantidade expressiva de pesquisas acadêmicas desenvolvidas em Programas de PósGraduação no país, sobretudo ao longo das últimas décadas. Duas notáveis coletâneas nacionais recentes1 abordam particularidades e vicissitudes dessas pesquisas e atestam a variedade de temas e contextos recobertos pelas mesmas. O presente livro dialoga com as referidas obras e tem como principal objetivo proporcionar reflexões teóricas e ilustrações práticas acerca de diferentes eixos de investigação que balizam o trabalho realizado por alguns pesquisadores-psicanalistas em instituições universitárias brasileiras acompanhando a tradição científica inaugurada por Freud e renovada paulatinamente por seus seguidores.
Todos os capítulos aqui veiculados são assinados por pelo menos um membro do Grupo de Trabalho (GT) “Psicanálise e clínica ampliada”, vinculado à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), o qual espelha a pluralidade que atualmente caracteriza o meio psicanalítico nas esferas da teoria, da clínica e da pesquisa. Trata-se de um coletivo criado em 2010, composto atualmente por dezoito pesquisadores vinculados a quatorze Programas de Pós-Graduação de sete Estados brasileiros e que tem se afigurado como um ambiente fértil para o debate dos desafios e das possibilidades que se oferecem à Psicanálise no mundo contemporâneo.
Posto isso, procederemos uma breve apresentação dos textos que integram este livro. No primeiro capítulo, Nadja Nara Barbosa Pinheiro delimita passos a serem percorridos no desenvolvimento de pesquisas em Psicanálise partindo-se do princípio de que a prática clínica – conforme exercida em uma ampla gama de espaços – suscita reorganizações conceituais que determinam questões a serem investigadas na universidade. A seguir, Marina Ferreira da Rosa Ribeiro, Davi Berciano Flores e Janderson Farias Silvestre Ramos anunciam coordenadas metodológicas para a exploração de fragmentos intersubjetivos, fenômenos que, no texto, recebem uma definição original e são posicionados no centro do amplo leque de interesses dos pesquisadores-psicanalistas.
O terceiro capítulo, assinado por Véronique Donard, realça o papel da contratransferência como elemento norteador de pesquisas em Psicanálise. Ademais, a autora proporciona respaldo à sua argumentação ao esmiuçar a complexa conexão que estabeleceu com um participante de sua tese de doutorado. Já Cassandra Pereira França elenca indicações de grande valia para a utilização de vinhetas e historiais clínicos, considerando a necessidade de concatenar o material empírico a ser compartilhado e o progresso metapsicológico ambicionado, sem perder de vista, obviamente, as diretrizes éticas que devem guiar qualquer prática clínica.
O quinto capítulo se diferencia em termos de seu formato. Ocorre que, em seu segmento inicial, Elisa Maria de Ulhôa Cintra apresenta considerações gerais sobre algumas características das pesquisas em Psicanálise. E o texto prossegue com Vanessa Chreim reportando como se aproximou do tema de sua dissertação de mestrado e o explorou de modo a colocar em relevo a abrangência e a atualidade do fenômeno ao qual Freud deu o nome de “recusa”. Assim, tem-se um bloco de cinco textos consagrados, predominantemente, à problematização de certos meandros metodológicos próprios do ofício de pesquisadores-psicanalistas.
Um outro bloco se delineia com os quatro textos subsequentes, os quais tratam de assuntos um pouco mais específicos, embora diversificados entre si. Abrindo tal bloco, Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis discorre sobre a construção de fatos clínicos psicanalíticos em pesquisas acadêmicas, bem como veicula exemplos a respeito, oriundos do atendimento de uma criança. O sétimo capítulo, de autoria de Perla Klautau, Eduardo Pacheco e Maria Manuela Ramos de Macedo, deriva de uma pesquisaintervenção por meio da qual a escuta psicanalítica, por um lado, viabilizou a construção de um instrumento de cuidado a pessoas trans e, por outro lado, desnudou o potencial traumático produzido por sofrimentos de origem social.
No oitavo capítulo, Débora Cristina Joaquina Rosa, Daiane Márcia de Lima e Rodrigo Sanches Peres tematizam a exploração do imaginário coletivo, sendo que, ao fazê-lo, versam sobre perspectivas de utilização, em pesquisas psicanalíticas, de dados cuja origem é externa em relação ao dispositivo de tratamento psicanalítico tradicional.O processo de construção de dados dessa mesma natureza é discutido por Sílvia Nogueira Cordeiro no nono e último capítulo, valendo-se, como recurso ilustrativo, de uma pesquisa desenvolvida por meio do emprego de entrevistas semidirigidas em um serviço de saúde voltado a mulheres.
Uma visão de conjunto da presente obra revela que os capítulos que a constituem sinalizam – sem qualquer pretensão de exaustividade – alguns caminhos possíveis para quem se vale da Psicanálise em prol da produção de conhecimento por meio de pesquisas acadêmicas. Ademais, os autores abrem uma série de questões a serem aprofundadas futuramente. Acreditamos que os leitores podem se sentir estimulados a explorá-las e, como consequência, talvez venham a trilhar outros caminhos. Mas este livro já terá cumprido seu papel se incentivar a continuidade do debate sobre os tópicos aqui em apreço, principalmente se levarmos em conta que vivemos em tempos sombrios, nos quais vigoram múltiplas ofensivas anticientificistas.
Ano de lançamento | 2022 |
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ISBN | 978-65-5869-765-7 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-764-0 |
Número de páginas | 163 |
Organização | Nadja Nara Barbosa Pinheiro, Rodrigo Sanches Peres, Sílvia Nogueira Cordeiro |
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