Rascunhos de mim

PREFÁCIO 

A beleza habita nossos olhos de diversas formas. Nos de alguns passa apressada, porque o voo desses é ágil, a fim de vislumbrarem mais e mais paisagens. Porém, há aqueles que caminham lentamente, olhos ora curvados ao chão a admirar-se do movimento contínuo dos próprios pés, ora fixados ao céu, ou a vagar distraidamente para os mais delicados detalhes da paisagem ao redor. Geralmente nesses é que o belo descansa. São olhos nos quais a beleza pode serenar e uma vez adormecida transformar seu anfitrião em morada de seus sonhos.

Com o que sonha a beleza? Se já não é tarefa fácil traduzir o belo em sua dimensão real, quiçá em sua dimensão onírica. O poeta deste livro é um anfitrião que com palavras almeja traduzir os sonhos de beleza que moram em si.

Os poemas aqui presentes são frutos de um olhar desapressado diante do cotidiano. Lê-los requer que no disponhamos antes de tudo a desacelerar nossos passos.

Requer também fazer, ainda que brevemente, um gesto de adeus à realidade mais aparente, para que transcendendoa, ao penetrar na desordem onírica, possamos melhor sentila e, quem sabe até mesmo, melhor compreendê-la.

Como boa hóspede a beleza traz em seus sonhos um tanto do que agrada a alma do poeta: o feminino, a ludicidade, os primeiros amores adolescentes, rosas e cheiro de café. Tudo isso são presentes que ela lhe oferece como forma de retribuir o aconchego da estadia, assim como também oferecerá àqueles que se dispuserem a acompanhá-la nessa nova morada.

Desejo a vocês, leitores, que ao lerem este livro e adentrarem nesse sonho sintam-se tão à vontade como me senti e que percebam assim, em tempos de tanta pressa, a importância de um olhar hospitaleiro e desapressado.

Já a você, meu amigo poeta Danilo, desejo que a hospitalidade continue presente em seus olhos e que a beleza continue a transbordar mais e mais sob a forma de sonhos escritos.

Gisele Oliveira