Teatro Brasileiro: Palco Pernambuco (Vol. 01)

Organização: Breno Pereira, Rodrigo Dourado, Tales Pimenta

Sob a sombra da cena ou o enigma do Teatro Pernambucano

 Quando comecei a fazer teatro eu gostava de ler livros de entrevista. A experiência de outros artistas me fazia conhecer as maneiras de enfrentar as adversidades da cena teatral. Assim logo de início fui compreendendo como o instrumento da oralidade era importante para uma escrita historiográfica. Nos modos de narrativa da história do teatro pernambucano, a entrevista tem sido um instrumento extremamente utilizado.

O livro Teatro Brasileiro: Palco Pernambuco (Vol.01) traça uma cartografia das subjetividades dissidentes e dos modos produtivos, constituindo assim um certo sistema teatral pernambucano da contemporaneidade. As cenas vão emergindo nos relatos desses diversos artistas a partir dessa polifonia e das injustiças éticas/econômicas de nossa Pernambucália.

Entre troca de máscaras e reflexos estilhaçados, o/a artista teatral de Pernambuco vai revelando as fraturas e a segregação de um sistema artístico, em que somos obrigados a nos colocar contra um certo modo de aniquilamento da arte e da cultura. Nos seis capítulos, o/a leitor/a é convidado a espiar pelo buraco da fechadura as irrupções de uma cena pernambucana sempre pulsante e em ato de resistência/(re)existência.

Esta obra nos coloca diante das temporalidades de alguns teatros pernambucanos. Essa figura do tempo poderia ser pensada como um trapeiro recolhendo pedaços, sobras, ruínas. Penso esse Palco Pernambuco (Vol.01) como um chamamento à luta, uma possibilidade de reinvenção.

Há uma personagem que aparentemente não está nesse sistema teatral pernambucano – o público. Um engano. Esta figura assombra como um fantasma em muitos dos depoimentos presentes – seja nos momentos que nas falas se desvelam os surgimentos de comunidades teatrais potentes (nas cenas pretas, feministas e LGBTQIAPN+), ou nas experiências de rede como uma possibilidade de trocas e de sustentabilidade.

Em síntese, tem-se aqui leitura fundamental para entender a simbiose entre os projetos estéticos contemporâneos e os modos de produção do teatro em Pernambuco. Mas o enigma teatral permanece: como podemos sair desse algo da estagnação dos palácios cariados, comidos, das árvores obesas pingando os mil açucares das casas grandes e seus coronéis do ainda feudalismo cultural pernambucano?

 

Wellington Júnior

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da UNIRIO. Mestre pelo PPGAC-UNIRIO. Bacharel em Estética e Teoria do Teatro na UNIRIO.

Ano de lançamento

2024

ISBN [e-book]

978-65-265-1268-5

Número de páginas

281