Terreno baldio. Um livro sobre balbuciar e criançar os espaços para desacostumar geografias. Por uma teoria sobre a espacialização da vida

Jader Janer Moreira Lopes

R$48.00

PREFÁCIO 

Comentário

ao memorial do professor Jader Janer

“Conviver… Coexistir…”

Tive o prazer de conversar com o professor Jader Janer em duas ocasiões. Em 2013 e em 2016, durante o simpósio internacional “Veresk”, dedicado à teoria histórico-cultural de L.S. Vygotsky, realizado na Universidade Federal Fluminense. Conheci ele ali, na qualidade de uma pessoa fantástica, e pude ficar a par da sua abordagem original sobre o estudo da vivência de um espaço geográfico, onde habita e se desenvolve o ser humano.

Ao realizar a análise do memorial, me chamou logo a atenção a apresentação promissora do problema, colocada por Jader Janer: a proposta de visualizar para além de um ser humano isolado; a proposta de enxergar um ser humano existindo em um determinado espaço geográfico. Não há um ser humano em geral, mas há um ser humano em uma situação concreta – em uma condição de natureza, e em uma condição social. O desenvolvimento da personalidade é acompanhado pela transformação dessa situação. O seu relato destaca também as especificidades etárias da vivência do espaço. O ser humano constrói o topos em conformidade com os seus objetivos de vida e com o seu desenvolvimento cultural. Quando se alteram a necessidade vital e a armadura cultural, o sistema de relações da pessoa também muda. A sua identidade muda. A imagem do espaço se altera. O entorno natural passa pelo processo de significação e, por isso, deixa de ser um evento somente natural. O sujeito da percepção – a personalidade – é social em sua gênese. A socialidade dada determina o seu olhar sobre o mundo.

O estudo da “cultura espacial das crianças”, nesse sentido, compensa aquele vácuo na psicologia, que se formou nos últimos tempos. A compreensão da topogênese, além da sociogênese, é de extrema importância para nós. A topogênese, enquanto teoria de um desenvolvimento espacial da vida, é um conceito extremamente produtivo apresentado por Jader Janer. Graças a ele, podemos entender melhor a gênese de uma imagem do mundo e de uma mundividência do ser humano. Podemos entender como o ser humano [se] vivencia no mundo, e também como se forma a alienação psicológica neste mundo.

A vivência de um espaço geográfico se realiza em dependência do espaço social, no qual o ser humano lida com as suas questões de vida. Desse modo, a realidade natural, através da significação, através da vivência, através do sistema de relações significantes com o outro, também se torna uma realidade cultural. Mesmo a Lua, quando ela é denominada, quando tem um nome, quando existem fantasias relacionadas a ela, quando é objeto de esperanças de uma pessoa – ela se torna um objeto cultural.

A competência profissional de Jader Janer (que concilia a sua formação em geografia com profundos conhecimentos de Filosofia, Pedagogia e Psicologia) permite apontar e realizar pesquisas deveras heurísticas, que, com frequência, se realizam na fronteira entre diversas disciplinas científicas. Pois as fronteiras entre as ciências são, por vezes, relativas, e não refletem a realidade viva da existência humana. Neste sentido, é muito interessante a ideia do processo de vivência enquanto um processo interpessoal (as vivências são relações intrapessoais que, antes disso, já foram interpessoais), mas também como um processo de vivência espacial, na qualidade de um fenômeno interespacial.

O texto de Jader Janer está embebido de humanismo. O humanismo consiste em colocar o foco da investigação na vivência do ser humano em seu meio natural e (ampliando o escopo) na existência, e não na cooperação formal do ser humano com o seu entorno. Esse vetor de investigação foi apontado por L.S. Vygotsky e é realizado na prática da teoria histórico-cultural e por seus numerosos adeptos. O ser humano se desenvolve e formata em si as novas qualidades somente através da vivência. O ser humano se apresenta enquanto ser humano quando se desenvolve, quando vivencia. O ser humano sem vivências está morto, pode ser um “morto vivo”. As vivências são o testemunho da vida. Por isso, a atualização das vivências significantes durante a сonvivência pedagógica deve ser a linha condutora do suporte ao desenvolvimento pessoal. Vivenciar o local, no qual você se encontra. Ver ele. Ouvir ele. Sentir ele. Tomar consciência dele. Isso tudo significa estar integrado à vida. Estar acordado. É para isso que nos convoca, com toda justiça, Jader Janer. A existência do ser humano se forma e se desenvolve durante o  seu contato com a natureza, com o outro e com si mesmo.

Desta forma, o memorial apresentado é muito atual e importante, no sentido científico, e possui um valor prático em questões relacionadas ao desenvolvimento de uma visão do mundo integral em crianças, bem como em relação a uma abordagem ecológica à natureza, em uma tarefa de construção da identidade de um ser vivo, e na prevenção das alienações psicológicas.

Candidato de Ciências, professor titular do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade Estatal de Pedagogia da  Bielorrússia

S.N. Jerebtsov

 

 

Ano de lançamento

2021

Autoria

Jader Janer Moreira Lopes

ISBN

978-65-5869-420-5

Número de páginas

199

Formato