Trajetórias geográficas coetâneas das políticas educacionais
Organização: Adriana Maria Andreis, Carina Copatti
APRESENTAÇÃO
Convidada a prefaciar essa obra, intitulada Trajetórias geográficas coetâneas das políticas educacionais, me sinto, honrada pelo convite vindo da Adriana e da Carina e de todos os que participam com seus escritos, e, responsabilizada pelo que temos em conjunto, eu diria em comunhão, nessas discussões acerca de ser pesquisador na área de educação. Somos corresponsáveis pelo que escrevemos porque é resultado do que pesquisamos e do que discutimos nas reflexões acerca dessas questões. Neste sentido, este meu escrito diz do que pensamos e do que idealizamos como professores pesquisadores, e, tangenciando as políticas curriculares oficiais nos deparamos com o que estudamos, com o que pesquisamos e escrevemos e, com nossos olhares para o mundo real da escola e da educação num contexto tão fragilizado por todas as condições atuais do Brasil e do mundo.
E aqui lembro, para iniciar essa conversa, daquele poema do Carlos Drummond de Andrade que diz “…No meio do caminho tinha uma pedra… tinha uma pedra no meio do caminho…” E de vários intérpretes que dizem:
“A PEDRA
O distraído tropeçou nela.
O violento projetou-a.
O empreendedor construiu com ela.
O homem do campo cansado, usou-a como assento.
As crianças brincaram com ela.
Drumond poetizou-a.
David usou-a para matar Golias.
Miguel Ângelo fez com ela as mais belas esculturas
Em todos os exemplos a diferença não estava na PEDRA, mas sim no tipo de HOMEM!
Não existe pedra no teu caminho que não possa usar para teu próprio benefício.”
O que o poema tem a ver com currículo e políticas de educação? Talvez nada! Mas nós professores temos sim o que nos liga com a Pedra, pois sujeitos cidadãos do mundo e do lugar em que vivemos traçamos nossos caminhos e deixamos as nossas marcas.
Um currículo é sempre pautado e sua estruturação é estabelecida num contexto que considera diversos aspectos e dentre estes as políticas públicas de Estado para a educação. No mesmo caminho, a sua efetivação não é automática, pois os sujeitos envolvidos são historicamente constituídos e vivem em contextos que são resultados das ações humanas. As políticas públicas em sua formulação são um projeto ideal do setor hegemônico da nação, no esforço de construir uma nacionalidade. O real apresenta sempre o contraditório.
Dentre estes aspectos há que se reportar às trajetórias espaciais que consideram que somos um país vasto, com território extenso e com populações que têm características diferenciadas. São lugares e são pessoas que têm histórias que se envolvem em culturas diversas, portanto, marcadamente singulares. Mas, todos sempre têm juntamente com as características singulares a dimensão da universalidade, assim que, as políticas curriculares podem ser únicas em sua formulação para aplicação em todo o território nacional, mas ao serem efetivadas aparecem as nuances que demarcam os lugares específicos. Doutra parte, as políticas públicas de educação no Brasil não existem com marcas únicas do território e da população brasileira com suas culturas, pois as marcas do mundo se fazem sentir sempre. O local e o global para além do discurso teórico-metodológico tem raízes por vezes profundas no lugar, mas sempre reconhecendo as demandas que são globais e, na prática se efetivam tendo isso em consideração.
Além dessa dimensão de necessariamente se reconhecer que uma política pública nacional traz em si as interfaces do jogo de forças das demandas internas e externas, há a dimensão nacional que precisa ser considerada em si. Neste contexto, uma pergunta que nos persegue é, se para a efetividade das políticas públicas, os sujeitos envolvidos nas práticas escolares fossem coparticipantes, elas teriam mais sucesso?
Sem dúvida, há uma longa distância entre a elaboração e quem as elabora, e, as práticas de sala de aula e quem as executa no cotidiano. Esse fato fragiliza a implementação das políticas públicas de educação e precisa ser considerado nos seus dois aspectos. Um deles, que é o que nos interessaria como pesquisadores de ensino e da educação escolarizada, é que essas políticas tenham o viés democrático e republicano e que atendam aos interesses e necessidades reais da vida escolar. O outro aspecto diz de que tradicionalmente essas definições desconhecem essa dimensão da participação e são elaboradas em gabinetes por pessoas distanciadas do mundo real.
Então nos cabe fazer o quê? Como professores pesquisadores e com atenção à ciência e à produção de conhecimento científico acerca dos problemas reais do mundo da educação, da escola, e do ensino, temos como urgente fazer pesquisa e apresentar resultados.
Ser um professor pesquisador, ser aquele profissional que reflete sobre o seu próprio fazer pode ser atribuição de um pequeno grupo, diante das reais condições do exercício profissional que são precárias e que determinam que o fazer tem que ser cumprido independente da realidade da vida escolar e do contexto em que vivem os sujeitos, a quem cabe o ensinar e aos que lhes cabe o aprender. Essas condições de precarização desconsideram que ser professor é uma profissão que atende a todos os outros sujeitos profissionais, e como tal, deveria ser tratada como importante. Mas a realidade brasileira não diz isso.
De novo, então, a pergunta: o que fazer? Se submeter e cumprir com rigor aquilo que na cadeia hierarquizada é definido nos diversos âmbitos (nacional, regional e local) pela burocracia das redes? Ou mesmo com toda as adversidades, estudar, analisar por dentro dos documentos oficiais para conhecer, pesquisar sobre educação, sobre currículos, sobre a disciplina que trabalhamos e, na contra face do que conhecemos da escola, fazer o nosso trabalho. Seria exigir demais dos professores? Pelas condições de trabalho, é muito, sim! Mas pela dignidade como sujeito e como profissional, é isso que cabe fazer.
O professor tem sempre o que dizer, pois, quando a ciência muda, a aprendizagem transforma-se; quando os canais de ensino mudam, o saber transforma-se; e seguem-se as instituições…. Ora, em toda a mudança dessa importância, houve um professor que falou. (Michel Serres, 1994)
Dentre os professores, há os que conseguem se articular para, teoricamente, construir os elementos que decorrem das teorias, para com metodologias adequadas fazer a reflexão sobre o mundo empírico do chão da escola e do chão da vida humana nos seus cotidianos. E, assim, produzir conhecimentos novos sustentados cientificamente. O que essa obra nos apresenta é exatamente isso, professores pesquisadores que se esforçam em conhecer o que acontece na realidade, com metodologias de investigação adequadas para cientificamente caracterizar a realidade, tendo as bases teóricas que sustentam as interpretações para produção de conhecimentos novos.
Os textos aqui apresentados são resultados de trabalhos científicos de professores pesquisadores envolvidos em seu compromisso ético e retribuindo à sociedade com os produtos científicos – acadêmicos do trabalho que conseguem fazer por ter acesso à universidade e aos cursos de pós-graduação. São docentes nacionais e estrangeiros e pós-graduandos que discutem a realidade da educação que acontece no mundo atual e com referências ao que vivemos nesse período de pandemia COVID-19 que atinge a todos nós humanos. Um tempo de evento que não pode ser desconsiderado diante dos acontecimentos que envolvem todas as populações da nossa morada Terra, e no qual a ciência mostra as possibilidades de cuidar da vida.
Os trabalhos realizados no contexto do Grupo Pesquisa Espaço, Tempo e Educação – GPETE, alocado na UFFS-Campus Chapecó/SC, aborda três eixos com as temáticas: Educação pública e delineamentos das políticas educacionais no contexto da Pandemia (Eixo I); Atualidades das políticas educacionais e o direito à educação (Eixo II); Espaço geográfico coetâneo e a política educacional no contexto ibero-americano (Eixo III).
É um livro que tem a marca de cada um que nele escreveu e que brinda a nós leitores com informações e análises que mostram realidades com as singularidades e a universalidade necessária para compreender o mundo da vida, e nos convoca a continuar a ser professor pesquisador.
Convido à leitura para conhecer as análises apresentadas e para que elas sejam motivadoras a cada um de nós para avançar as nossas pesquisas.
No verão de 2022 do Hemisfério Sul, quando ainda sofremos com a pandemia e aprendemos com mais força a valorizar a ciência.
Professora Helena Copetti Callai Dra. em Geografia pela USP/SP Pós-doutora pela UAM-Madrid/ESPANHA PqG/FAPERGS – Pesquisador Gaúcho Bolsista Produtividade em Pesquisa- PQ/CNPq Nível 1D
Ano de lançamento | 2022 |
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ISBN | 978-65-5869-800-5 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-801-2 |
Número de páginas | 273 |
Organização | Adriana Maria Andreis, Carina Copatti |
Formato |