Itinerário literário do BALE-FRUP: semeando histórias, formando leitores

Ananias Agostinho da Silva, Francisco Vieira da Silva

APRESENTAÇÃO

Na obra Seis passeios pelos bosques da ficção, Umberto Eco nos fala de uma metáfora que remonta a Jorge Luis Borges. Parafraseando o escritor argentino, Eco descreve o bosque como “[…] um jardim de caminhos que se bifurcam. Mesmo quando não existe no bosque trilhas bem definidas, todos podem traçar sua própria trilha” (ECO, 1994, p. 12). O autor frisa ainda que no bosque, assim como num texto de ficção, cabe ao leitor optar pelos caminhos que pode seguir, a partir das direções e rumos deixados em suspenso no decorrer da obra. A possibilidade de mergulhar o mundo sinuoso e encantador da literatura pressupõe um leitor ativo e sensível, o qual precisa dialogar com as multiplicidades reveladas pelo trabalho artístico da/na palavra. A fruição estética comungada com as diferentes sensações geradas a partir do contato com a literatura leva-nos a defender a formação premente de leitores, em todas as faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade.

Para isso, urge empreender projetos e programas de formação de leitores que, em confluência com a instituição escolar, possam garantir a literatura como um direito inalienável, tal como defendia o mestre Antonio Candido. Em momentos políticos e sociais tão hostis como vivenciamos hoje no território brasileiro e em todo o planeta, mais do que nunca, precisamos de arte e de literatura. Não se trata tão somente de se evadir do momento caótico enfrentado por meio do refúgio no território ficcional, mas, principalmente, de poder enxergar, nas vestes da verossimilhança, o outro que nos constitui, de refletir sobre nós mesmos, de exercer um trabalho sobre nós, com vistas a nos transformarmos e, com isso, colaborarmos para uma ação coletiva concreta e libertadora.

No esteio de programas de formação para a leitura literária, situamos, aqui, o pioneirismo do BALE (Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas), na região do Alto Oeste Potiguar. Criado em 2017, pelas docentes Lúcia Pessoa e Renata Mascarenhas, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), na cidade de Pau dos Ferros, o programa cresceu e se multiplicou graças aos esforços de muitos incentivadores, os quais semearam a “boniteza” da arte literária em diversos espaços e formais e não formais de aprendizagem. Aos poucos, o programa foi ganhando a estrada e se espraiando por diversas cidades do Rio Grande do Norte, por meio de polos de formação e incentivo à leitura, como é o caso do BALE-FRUP (Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas em Frutuoso Gomes, Umarizal e Patu).

Esse núcleo do projeto que nascera em Pau dos Ferros chega ao solo frutuoso-gomense pelas mãos da professora Gorete Torres, orientanda de uma das idealizadoras do BALE, Lúcia Pessoa. A partir de então, esse município potiguar passa a ser atendido pelo projeto antes referido e, por meio da participação de bolsistas e voluntários, docentes e discentes do ensino médio e superior, as atividades são desenvolvidas com considerável sucesso.

Esta obra nasce do desejo de identificar, registrar e descrever os itinerários do BALE-FRUP, sob diferentes vozes e perspectivas. Os textos aqui reunidos discorrem sobre as experiências, as ações e as vivências advindas do BALE-FRUP, a partir da ótica dos mediadores de leitura, dos participantes do projeto, de pesquisadores e formadores de professores, os quais ainda que não estejam institucionalmente vinculados ao BALEFRUP, são entusiastas e apoiadores de movimentos pró-leitura.

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Referências

ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-188-4

ISBN [e-book]

978-65-5869-215-7

Número de páginas

163

Organização

Ananias Agostinho da Silva, Francisco Vieira da Silva

Formato