Nos últimos anos, o termo Educação Integral passou a figurar na agenda pública brasileira. Neste contexto, tem sido comum nos depararmos com políticas públicas que objetivam construir a integralidade dos processos educativos por meio da ampliação do tempo de permanência dos estudantes no interior das escolas. É como se o aprofundamento dos processos de escolarização, de ampliação da institucionalização dos estudantes, determinasse a consolidação da Educação Integral. Reconhecemos a relevância das escolas de turno estendido, sobretudo, por elas oferecerem uma forma consistente de atendimento das juventudes que se encontram em vulnerabilidade social. No entanto, devemos ressaltar que a Educação Integral não constitui o resultado desse formato de atendimento escolar. Pelo contrário, a construção de processos educativos, verdadeiramente, integrais, não pode prescindir de um amplo processo de articulação entre aquilo que é ensinado, que se encontra prescrito em normativas curriculares, e aquilo que é vivido, resultante das experiências dos sujeitos fora dos muros institucionais. Para que a Educação Integral seja efetivamente implementada, é essencial considerar os saberes e conhecimentos produzidos nas comunidades, nos territórios que compõem o entorno das escolas, de modo que as vivências dos estudantes componham um amplo e contínuo processo de reflexão.
É sobre esse prisma que concebemos esta Coletânea. Com ela buscamos contribuir no estabelecimento da Educação Integral, desvelando, por meio de um conjunto de experiências, o potencial educativo presente no espaço das cidades. Neste primeiro volume, apresentamos dez experiências educativas em diferentes bairros da Cidade do Rio de Janeiro, a saber: Camorim, Jacarepaguá, Madureira, Favelas da Maré, Méier, Penha-Vila Cruzeiro, Favela da Rocinha, Santa Cruz, Santa Teresa e Rio Comprido. Em cada um de seus capítulos, os autores e as autoras, produziram uma rica cartografia educativa, mapeamento um conjunto de possibilidades formativas no espaço da cidade, condição que possibilita a concreção de uma Educação Integral, territorialmente referenciada e repleta de sentidos e significados. Por fim, mas não menos importante, esperamos que a presente Coletânea fomente um amplo processo de reimaginação das práticas escolares, permitindo que o potencial educativo presente nos territórios seja percebido, valorizado e, cotidianamente, integrado as práticas de ensino-aprendizagem. Esta é uma condição que consideramos como fundamental para a concreção da Educação Integral, de forma que a integralidade não se restrinja a escolarização, possibilitando a emancipação dos sujeitos e a participação ativa deles em suas comunidades.
