Entre o tecer e os fios da Teoria Histórico-Cultural: expressões da formação continuada de professoras da Educação Infantil
Organização: Carolina Helena Micheli Velho, Débora Cristina Sales da Cruz Vieira, Maria do Socorro Martins Lima, Rhaisa Naiade Pael Farias
PREFÁCIO
Regina Aparecida Marques de Souza
Fui desafiada por um grupo de professoras a escrever o prefácio da presente obra e no momento do convite fiquei muito feliz, mas também preocupada, pois tenho uma relação próxima com este grupo e não poderia desapontá-las. Pensei, pensei e pensei, e encontrei três motivos para meu aceite: o primeiro porque uma das organizadoras foi minha orientanda no curso de Pedagogia/Universidade Federal do Mato Grosso do Sul entre 2004 a 2007; segundo porque o livro tem como referencial a teoria Histórico-Cultural; e o terceiro, que me chamou a atenção, foi a escrita dos artigos, que tinham como autoras professoras da Educação Infantil, que apresentavam suas vozes e as vozes das crianças, ou seja, suas vivências no espaço da Educação Infantil. Além disto, revelavam as indagações que lhes serviram de objeto de pesquisa para o encontro com respostas, ou caminhos, para a docência nos primeiros anos de vida.
Vou me referir aqui no feminino: professora, por estar com um grupo de mulheres, profissionais da infância que comungam de desejos, assim como eu, por uma Educação Infantil de qualidade, gratuita, laica, inclusiva e tantas outras bandeiras que militamos neste País que custa aprender o verdadeiro significado da Educação Infantil e suas possibilidades para a vida de nossas crianças.
Bem, estamos no final do ano de 2021 e retornando as nossas atividades presenciais, interrompidas pela pandemia da Covid 19 que teve início em 2020. Ainda estamos vivendo a pandemia, mas nós, professoras, já estamos vacinados/as, muitos com a terceira dose de reforço.
Aqui do meu escritório, minha sala de aula, sala de reuniões, sala de orientação, entre tantos espaços que a pandemia da Covid 19 trouxe para dentro da minha residência, ouço um barulhinho bom lá fora, pingos aqui e ali, um dia chuvoso, que me inspirou e deu asas a minha escrita. Assim pude contar o que este livro representa para as profissionais da Educação Infantil, para as famílias das crianças e tantas e tantas pessoas que irão ler, apreciar, aprender e buscar novas perspectivas de pesquisa.
Pensei em tecer, inspirada pela proposta do livro, um bordado nas linhas, nas cores e nos desenhos que foram surgindo a cada leitura. Olhando na estante, um livro me saltou aos olhos e não tive dúvidas, ele daria o tom, a cor, o bordado e a delicadeza da poesia para este prefácio. Fui, então, delineando meu pensamento e articulando minha escrita, que como nos ensinou Lev S. Vigotski (1896-1934), é um instrumento cultural complexo, mas que pode mudar a situação do ser humano quando apresentada de forma significativa e criativa.
Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos (BARROS, 2011).
Assim como o menino que carregava água na peneira, as organizadoras deste livro são ligadas em despropósitos. Um deles foi desafiar um grupo de professoras/estudantes de um curso de Especialização em Educação Infantil na Perspectiva HistóricoCultural,realizado pelo Instituto Saber, sob a coordenação do Prof. Dr. Simão de Miranda, a escrever artigos com temáticas fundamentais para a educação de bebês e crianças pequenas. Textos que pudessem dialogar com profissionais, famílias e simpatizantes da Educação Infantil, retratando atividades intencionais com as várias linguagens, tais como: literatura, música, brincadeira, movimento corporal, fala, escrita, ciências naturais, bem como o trabalho da coordenação pedagógica, a necessidade de um currículo inclusivo, discutindo a educação de crianças com deficiência, as questões de gênero e o trabalho com a cultura da paz que carrega e transforma o cotidiano da Educação Infantil em uma educação humanizadora, emancipadora, inclusiva, democrática, laica e de qualidade.
A obra aqui apresentada é síntese de um movimento de reflexão – ação – reflexão deste grupo de professoras/estudantes e suas orientadoras, aquelas ligadas em despropósitos, que com a intenção de divulgar práticas e conhecimentos produzidos, assumem os pressupostos da Teoria Histórico-Cultural para a compreensão das aprendizagens e desenvolvimentos do ser humano em sua maior plenitude.
Ao ler cada artigo fui dialogando com as professoras, grifando e destacando pontos importantes e significativos. Assim como no bordadoque ilustra a obra de Manoel de Barros “Exercício de Ser Criança”, a escrita vem através de signos e símbolos, começa com riscos, que passam para o desenho, logo a bordadeira imagina uma brincadeira e a escrita vai tomando forma. Entre um fio/texto e outro, fui enroscando minhas aprendizagens e percebendo que os textos foram fio a fio, unindo ponto a ponto, na busca de uma educação de nossos bebês e crianças pequenas que se apropriam do mundo a partir de suas relações com o outro.
[…]
Beijo no coração!
Regina Aparecida Marques de Souza
Três Lagoas, verão de 2021.
Ano de lançamento | 2022 |
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Número de páginas | 436 |
ISBN | 978-65-5869-818-0 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-819-7 |
Organização | Carolina Helena Micheli Velho, Débora Cristina Sales da Cruz Vieira, Maria do Socorro Martins Lima, Rhaisa Naiade Pael Farias |
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