A pandemia, o cotidiano e as narrativas do chão da escola: diálogos necessários

Adriana Varani, Cristina Maria Campos, Elizabeth Rossin

PREFÁCIO

Esperançamentos em nossos corações

Adriana Alves Fernandes Costa

“Abra-te Sésamo para a igualdade social! Para a educação pública e de qualidade! Marjorie Mari Fanton

É novembro de 2021. A chuva fina enamora os ventos do entardecer. Na espreita, o sol já nos acolhe, calorosamente. O claro azul do céu se ajeita para descanso. O verão revela sua vivacidade. As folhas aligeiram-se pelas ruas, anunciando boas novas. Sinto o cheiro de um livro novo, com palavras que contam histórias de professores e professoras, de alunos e alunas, de licenciandas, de gestoras, de gentes, de escolas, de educação. São narrativas carregadas de vida que, com zelo, desvelam coletivamente a pluralidade de versões das histórias do nosso tempo. Adriana Varani, Cristina Maria Campos e Elizabeth Rossin, corajosamente, não reuniram unicamente escritos, mas pessoas, lampejos, cores, saudades, alegrias, medos, incertezas, pensamentos, livros, conversas, encontros, lutas.

A primeira imagem que vejo do livro é a de corpos que parecem se movimentar entre sombras e cores: sugerem práxis, emancipação, diálogos e esperanças. Quem olha, sente o desejo de estar com. É uma capa-convite que nos conduz a certo estado de exceção porque exercita o direito que temos à nossa memória. É uma capa-convocação porque articula tempos, nos instiga a intencionar o passado em nosso presente e a investigar nosso futuro. É uma capa, meu amigo e minha amiga, que celebra o (Gre)cotidiano para contar o que foi possível fazer/sentir/resistir diante da barbárie, afinal não apenas duelamos com o coronavírus, mas com uma robusta crise política/econômica/educacional/ cultural, nos últimos tempos.

Em seus textos, educadores e educadoras do povo se tecem autores e autoras, se fazem múltiplos e habitam o esperançar vivido por tantas Anas Carolinas, Prô robôs, Mateus, Adalbertos, Magdas, Alines, Beths, Anas, Elaines, Natalinas, Vivianis, Julianas, Érikas, Thaíses, Patrícias, Marjories, Rosângelas, Josés, Márcias, Andreas, Angelinas e Adrianas. São mulheres e homens que exercitam a escrita de modo subversivo porque dialogam com tantos outros que os compõem, além de construírem uma defesa pela memória coletiva, no âmbito do vivido no campo da educação. São palavras que presentificam, no biênio 2020-2021, a histórica desigualdade que assola o povo brasileiro.

É possível enxergar diálogos entre os textos, produzidos por cada autor e autora. Palavras se movimentaram para dizer o valor da escola pública, da presencialidade do ato educativo. Palavras se movimentaram e arquitetaram esperanças. Palavras, nunca corriqueiras no campo da educação, expuseram relações sequer cogitadas até então: álcool em gel, máscaras, luvas. Ou palavras já mencionadas e já praticadas – nem tanto assim – em nosso meio: trabalho remoto. E palavrasgentes, mais de 600 mil mortos. E palavras-lutas: pobrezas, barbáries, lutos.

É preciso ler esse livro com todo o compromisso que temos com a vida porque os escritos tem lado e posição na história, claramente desenvolvem movimentos exotópicos que lhes/nos possibilitam compreender versões múltiplas do vivido e de si, num processo relacional, acerca do que foi narrado. Por isso, exercitam o sujeito histórico freireano1 “por vocação” em contraposição a objetificação “por distorção”, em especial quando educam infâncias, juventudes, vidas adultas e velhices, em especial quando contam suas histórias de resistências e estão fabricando história

As narrativas contidas em “A pandemia, o cotidiano e as narrativas do chão da escola: diálogos necessários” também falam das relações educativas reconstruídas, essencialmente entre docentes e discentes, mas também do lugar de atuação do gestor ou da gestora, em meio à calamidade vivida em 2020 e em 2021. E para melhor compreender esse processo vivido, tanto pela experiência quanto pela escrita, os professores e professoras exercitam o pensar “com outros óculos”, como disse o professor Adalberto Bento, ou ainda movimentam uma outra “calibragem do olhar” como mencionou Magda Aparecida, para reagir aos feitos dos efeitos dos tempos, da hibridez do trabalho e da vida.

Os escritos dos professores e professoras também nos contam sobre outros significados desenvolvidos, nas relações com o tempo: esse companheiro, de todos nós educadores e educadoras, que sempre nos desvelou “um quando” do aprender e do ensinar, um “quando” tão singular da/na nossa profissão. Um mês2 , debatido no texto da Prô Robô, nos revela “outros quandos”, nos remete à inteireza da nossa humanidade, mas também nos aponta para as nossas necessidades essenciais de sobrevivência e de vida, como bem narraram Ana Carolina e Aline. Sim, os tempos de entregas das cestas básicas e das fomes arderam urgências vitais. Sim, os tempos das crises do capital e da nossa desfaçatez social empurraram “Estefânias” para lugares ainda mais sombrios, não é Beth? Sim, um tempo outro também se fez dentro de nós, um tempo desconhecido, inquieto, cheio de emoções e sentimentos que nos sacudiam como bumerangues, pêndulos e bolas.

[…]

Hortolândia, novembro de 2021.

Quando as canções das maritacas urgem mais e mais esperanças.

Ano de lançamento

2020

Número de páginas

220

ISBN

978-65-5869-701-5

ISBN [e-book]

978-65-5869-702-2

Organização

Adriana Varani, Cristina Maria Campos, Elizabeth Rossin

Formato