As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade
Autoria: Carlos Henrique Silva de Castro
PREFÁCIO
Há pessoas que, quando você vê pela primeira, já é possível perceber suas qualidades. Foi assim quando tive o primeiro contato com Carlos Henrique Silva de Castro. Eu o conheci em sua banca de mestrado, em 2010, na defesa sua dissertação sobre “Emergência de comunidades virtuais de aprendizagem engajadas”. O trabalho, orientado por Ana Elisa Ribeiro, foi realizado no Curso de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. Vi naquele momento que ele era um estudioso determinado, disciplinado e focado. Carlos é daqueles estudiosos que defendem uma ideia com unhas e dentes, mas é capaz de refletir e reavaliar posições quando acha que deve.
Para minha surpresa, acabou fazendo doutorado sob minha orientação. Com ele e com Judith Green, que o co-orientou no doutorado sanduíche na University of California em Santa Barbara, tive a oportunidade de aprofundar minhas leituras sobre etnografia. Ganhei dois amigos e agora ganhamos todos com este livro – As culturas do grupo Texto Livre: um estudo de viés etnográfico sob a ótica da complexidade – que é fruto de seu doutoramento.
Ao iniciar seu curso na UFMG, Carlos também se engajou como membro da comunidade Texto Livre (TL). Lá trabalhou e coletou dados para sua tese.
Esta obra sobre as culturas do grupo TL, além de ser um belo exemplo de pesquisa etnográfica, é também um registro importante do trabalho do grupo de pesquisa Texto Livre, liderado por Ana Cristina Fricke Matte na Faculdade de Letras da UFMG. O foco do grupo é o software livre (SL) e ele se desdobra em vários subgrupos com suas próprias culturas, por isso “culturas” no plural.
Cultura neste livro é entendida como a leitura que se faz das práticas do outro, já cultura livre é “um empreendimento de colaboração, compartilhamento e meritocracia a partir do desenvolvimento e da distribuição de SL” (p. 29), como define o grupo TL, segundo Castro. O autor consegue desenvolver com competência uma investigação com suporte coerente da lógica etnográfica e de conceitos da complexidade. Afinal como ressalta (p. 72), citando Agar (2004), “pesquisa etnográfica é, nela e para ela mesma, um sistema adaptativo complexo”.
Para quem quer investigar cultura(s) de um grupo, nada melhor do que adotar a etnografia e é isso que o autor faz com maestria para “identificar padrões e emergências no ambiente comunitário” (p. 45). Castro descreve os padrões interacionais do grande grupo e dos subgrupos e identifica as emergências que surgem das interações nessa comunidade. Para tanto, ele se apoia no construcionismo, na complexidade e na ideia de comunidades de práticas (CoPs) (ver capítulo 2).
O leitor encontra, em detalhes, a descrição da comunidade Texto Livre que ele define como comunidade fractalizada em função da autossemelhança entre as demais comunidades que a compõem. Cada grupo dessa comunidade maior possui características próprias do grande grupo, como, por exemplo, a interatividade e a colaboração, mas tem também seus objetivos específicos.
Dentre os muitos pontos altos do livro, destaco as 21 figuras, criadas pelo autor, que ajudam o leitor a entender (1) a organização da comunidade Texto Livre e seus principais subgrupos; (2) os sistemas adaptativos complexos e os conceitos de ordem, desordem/caos e emergência; (3) as comunidades como um sistema adaptativo complexo; (4) comunidade fractalizada; (5) lendo línguacultura; (6) lendo línguaculturas no grupo Texto Livre; (7) lendo línguacultura nas CoPs do grupo Texto Livre (8) a relação entre ontologia, epistemologia, metodologia e métodos; (9) os três momentos de análise de dados; (10) a abdução de pontos relevantes; (11) a rede interativa entre os colaboradores do TL; (12) um contraste de dados da comunidade UNI003; (13) a tela da ferramenta interativa Big Blue Button (BBB); (14) o padrão da complexidade da comunidade UNI003; (15) novos pontos relevantes na CoP EVIDOSOL; (16) evolução quantitativa do EVIDOSOL; (17) padrão de complexidade na CoP EVIDOSOL; (18) página do website da Revista Texto Livre; (19) mapa Estrutural da página “Sobre”; (20) dados da revista Texto Livre e (21) fluxograma do processo editorial.
A leitura deste livro não precisa ser linear. Se o leitor tiver interesse em aprender o que é uma pesquisa etnográfica, vá direto ao capítulo três e, em seguida, ao quatro para ler a descrição detalhada e elegante do processo de pesquisa sobre as culturas da comunidade Texto Livre.
Agora se a curiosidade é conhecer a comunidade Texto Livre, recomendo o capítulo cinco, onde encontramos uma descrição densa desse grupo, feita por dentro (uma perspectiva êmica), pois Castro retrata essa comunidade apoiando-se na visão de seus próprios membros.
Convido o leitor a viajar por este livro fazendo as paradas que quiser, gerando conexões, ou até mesmo alterando a rota de acordo com seus interesses. Mas se como eu, gostar de ler página por página, comece da primeira e só termine na última página. Garanto que não vai se arrepender.
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG/CNPq/FAPEMIG)
agosto de 2019
Ano de lançamento | 2019 |
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Autoria | Carlos Henrique Silva de Castro |
ISBN | 978-85-7993-684-5 |
ISBN [e-book] | 978-85-7993-683-8 |
Número de páginas | 378 |
Formato |