Corpos, sujeitos e discurso: identidades ressignificadas

Elizete de Souza Bernardes, Michelle Aparecida Pereira Lopes

APRESENTAÇÃO

A emergência do corpo como objeto de discurso impõe, como disse Courtine (2013, p. 09) “um problema familiar àqueles que se consagram ao estudo histórico dos saberes”, porque exige do analista um esforço meticuloso, lento e criterioso de uma grande diversidade de materiais nos quais o corpo aparece discursivizado.

Por conseguinte, as discussões que transpassam a temática do corpo, em diversas formas de dizer e de ver, compõem um amplo campo de problematizações para os estudiosos do discurso, da linguagem e da literatura. Nesse sentido, é pela perspectiva discursiva que congregamos artigos que nos levam a compreender a relação linguagem/corpo perante a sociedade contemporânea e suas formas de significação na história

Dessa maneira, os artigos desta obra têm como fio condutor o corpo e suas distintas significações por diferentes sujeitos. Em outras palavras, entendemos que é o discurso que trama os laços que unem o corpo ao sujeito. Assim, quando tomamos o corpo como um objeto de saberes das Ciências Humanas, pensamos como ele é um signo que não se dá a conhecer de forma transparente.

Com efeito, sua opacidade se pulveriza em diversas maneiras de ver este objeto do saber: corpo político, conforme ensinado pela obra de Michel Foucault; corpo inserido numa Fenomenologia da Percepção, de Merleau Ponty; e um corpo marcado por signos que reclamam certas legibilidades ao mesmo tempo que apaga outras, conforme nos tributa a Semiologia Histórica, com os estudos de Jean-Jacques Courtine.

No corpo, constatam-se acontecimentos anteriores, brotam os desejos e evidenciam-se as fraquezas e os erros; concomitantemente, no corpo, estes mesmos afetos se entrelaçam e se desenlaçam, se exprimem e se calam, “entram em luta, se destroem uns aos outros e prosseguem seu insuperável conflito” (FOUCAULT, 1994, p. 1.010).

A partir de seu corpo, o sujeito encena as lutas contemporâneas, atua politicamente, resiste à oposição, milita a favor das causas que lhe são importantes e vivencia o pertencimento a determinado grupo. Assim, vai construindo sua identidade, por meio do que escolhe vestir, do que opta por dizer e dos gestos que resolve fazer. Logo, as reflexões aqui reunidas prestam-se a problematizar o corpo em uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que constitui subjetividades, também é constituído por elas.

Desse modo, esperamos que os artigos desta obra possam responder, ainda que de uma maneira circunstancial, a algumas questões que nos são impostas na contemporaneidade. De fato, nenhum dos autores pretendeu elaborar respostas irrefutáveis e contundentes, mas sim trazer à tona problematizações necessárias e pertinentes ao nosso momento. Quem sabe, os questionamentos aqui apresentados, bem como as respostas às quais chegamos, possam ser o fomento para muitas outras questões que ainda precisam ser empreendidas.

Boa leitura!

Michelle Aparecida Pereira Lopes
Elizete de Souza Bernardes

Ano de lançamento

2020

ISBN [e-book]

978-85-7993-836-8

Número de páginas

237

Organização

Elizete de Souza Bernardes, Michelle Aparecida Pereira Lopes

Formato