Educação no Cerrado e na Amazônia: história, memória e cultura em diferentes espaços sociais
Organização: César Evangelista Fernandes Bressanin, José Maria Baldino, Maria Zeneide Carneiro Magalhães de Almeida
PREFÁCIO
Prefaciar… é preparar o outro para deliciar das leituras… poemas, músicas, conhecimentos e saberes diferenciados!
Prefaciar… é ter o privilégio da leitura primeira, da modelagem de uma obra de arte para apresentar aos amantes da leitura ou à comunidade acadêmica e científica! Por isso, sou muito grata pelo convite de tamanha grandeza e responsabilidade.
Vejo este livro como um tesouro recheado de reflexões, achados e saberes, que são frutos de pesquisas e buscas dos autores que o compõe. Cada capítulo aqui produzido é uma nova sensação de aprendizagem, de revestir-se de infinitas possibilidades de diálogo, com os mais diferentes saberes.
Afinal, são resultados de olhares atentos dos pesquisadores que se debruçaram sobre temáticas do nosso cotidiano, ricos de histórias, memórias e manifestações socioculturais, em diferentes espaços sociais. Estas fazem interfaces com a educação, fazendo com que nos unamos com o sentido de ampliar as produções acadêmicas e científicas em compromisso com a sociedade.
Os textos registrados neste livro contribuem para a construção da história, na representação da vida presente e do passado, e abrem perspectivas para o futuro dos seres humanos, num determinado período e espaço. Tempo este em que se pode pesquisar, registrar as mudanças e ações permanentes desenvolvidas na sociedade dos homens.
Portanto, a história é uma grande contributiva pela preservação dos fatos, no repasse das facetas que a memória consegue gravar, dentro da infinidade de situações do cenário humano. Ela colabora para desvendar diferentes dimensões que envolvem os fatos, para que a perigosa “história única” não exclua tantas verdades, ou mesmo, incorra no erro de deixar incompleta a nossa compreensão sobre algo, alguém ou algum acontecimento.
Para muitos autores da nova história, em razão da conexão entre os fatos, tudo tem uma história, porque existem outros tipos de histórias. Bloch (2001, p. 79), também acreditava que tudo produzido pelo homem era testemunho de sua existência. Nesse sentido, a corrente da nova história nos permitiu a possibilidade de compreender a história por diversas matrizes, óticas diferentes, constituídas a partir da compreensão de si e das narrativas construídas no decorrer do processo histórico.
Segundo a autora Chimamanda (2019) insistir numa única face de uma narrativa, significa negligenciar e tornar superficiais experiências complexas e tão ricas em detalhes. Isso inevitavelmente cria estereótipos e incompletudes. A história pode ressaltar modos de viver, costumes, expressões artísticas, culinárias, músicas cantadas e dançadas pelo povo de um lugar, comunidade ou região. Contudo a história poderá também negligenciar manifestações, dependendo do poder e objetivos de quem a escreve. São estes fatos, danças, rezas que ficam registradas desde nossa infância, em um lugarzinho do nosso ser chamado Memória.
O que entendemos por Memória? Uma capacidade humana de registrar, recordar e relatar, um passado vivido que pode ser retransmitido para outros sujeitos. Para o autor Thompson (1998, p. 57), a memória “gira em torno da relação passado-presente, e envolve um processo contínuo de reconstrução e transformação das experiências relembradas”, em função das mudanças nos relatos públicos sobre o passado.
Segundo Ricoeur (2007) é a partir da memória que garantimos que algo ocorreu antes de formarmos a lembrança e que as representações do passado foram realizadas justamente pela memória.
Mediante estas conceituações, insistimos em dizer que não tem como pensar a educação em um país de tamanha dimensão, sem o auxílio da história e das representações culturais vividas pelos mais diferentes seres humanos. Pois são elas, a história, cultura e os processos educativos que ficam cravados de memórias, que nos levam a conhecer e compreender os fatos e fenômenos, ocorridos nas comunidades de norte a Sul do imenso Brasil.
A abrangência dos capítulos aqui escritos, partem da Amazônia ao cerrado. E o que dizer da Educação ocorrida nessas áreas? Uma Educação que utilize a “aplicação de métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano”, desenvolvidos em espaços sociais. Estes, são compreendidos como “espaços multidimensionais onde as relações sociais são realmente efetivadas”. Espaços tão peculiares quanto a territorialidade, processos educativos, grupos identitários da mesma origem, que possuem suas especificidades, enfim, políticas e cultura vivenciadas pelo diversificado povo brasileiro.
Se formos ao encontro da territorialidade, vamos encontrar o cerrado brasileiro, que fisicamente, se estende por vários estados diferentes, fazendo fronteira com a Amazônia, possuidor de uma variedade de tipos de solo, clima e relevo. Portanto, extremamente importante pelo seu “bioma que conta com uma vegetação bastante diversificada, com formas campestres e formações florestais densas”. O cerrado abrange “um território de 1,5 milhão de km² e engloba quatro estados do Brasil Central (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal), além de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí.
Sua grande biodiversidade atrai muitos olhares tanto da comunidade científica, de turistas e, sobretudo, dos empresários que a todo custo, ensejam as privatizações de espaços coletivos, onde desenvolvem uma “pecuária extensiva de baixa tecnologia” e avançam no desmatamento das áreas prejudicando o solo. Hoje são grandes as áreas de plantações de soja, milho, sorgo e outros cereais, em consequência, temos o ressecamento das fontes naturais de águas, causando a extinção dos grandes mananciais que abastecem as grandes bacias hidrográficas do país e o empobrecimento do solo.
Por outro lado, está a Amazônia considerada a região de maior biodiversidade do planeta. Ocupa no Brasil 49,29% do seu território, é composto por nove estados e 772 municípios. Território brasileiro que agrega áreas de outros países. Possuidor de um rico ecossistema, onde está a maior floresta tropical do mundo, e maior bacia hidrográfica do planeta, além de uma flora constituída por árvores, ervas, arbustos, lianas e trepadeiras. Em termos de habitação possui aproximadamente, 33 milhões de habitantes, incluindo cerca 1,6 milhão de indígenas. Diante de toda esta riqueza, a Amazônia tem sido um dos territórios mais devastados nos últimos 50 anos.
Eis uma das nossas questões: por que tantas ameaças e devastações a esses territórios tão importantes para o planeta? E suas populações, como estão vivendo e sobrevivendo estes impactos, exclusões, mandonismos e privilégios que uma minoria impõe ao coletivo? Certamente as preocupações com o meio ambiente e ecossistema tocam em diversos outros temas relacionados como a educação, o direito de cidadania o respeito pelo universo e a humanidade. Onde está sua população, como entender sua forma de viver, de ser educado? A Educação para a cidadania, para a conscientização política quem sabe, fortaleceria uma luta pelo patrimônio do coletivo, pelos direitos dos cidadãos brasileiros.
Nesta obra, organizada em duas sessões: Educação, história, memória e cultura no cerrado e na Amazônia e Educação, História, memória e cultura em diferentes espaços sociais, você conhecerá discussões importantes dos encaminhamentos didáticos e pedagógicos na apropriação de novos saberes, diferentes movimentos políticos, vividos nesse grandioso território, que retrata as mais diversificadas experiências com instituições religiosas, com áreas da saúde, educação e relações étnico-raciais, práticas pedagógicas dos docentes, poemas dos seus escritores.
É uma obra que envolve comunidades sertanejas do cerrado, povos indígenas, atuações dos políticos coronéis de séculos passados, das manifestações culturais das comunidades quilombolas, orientações curriculares de história, o os caminhos do acesso e permanência de deficientes na educação superior, cultura escolar das classes multisseriadas rurais, abordagem multicultural e questões da atualidade como a reconfiguração do espaço escolar contemporâneo e o enfrentamento da educação no período da pandemia.
Merecem os parabéns a todos os autores que escreveram e estão deixando registrado nesse livro, seus pensamentos repletos de leituras, vivências, conhecimentos, análises dos resultados de suas pesquisas, formas de resistências para o momento histórico presente e para as futuras gerações. Com certeza é uma obra sonhada por muitos, afinal, quando sonhamos em grupo, os conhecimentos se edificam e se tornam pontes construídas para estabelecer novos diálogos permanentes e profícuos. Os textos deste livro são importantes contribuições para os educadores, para a Educação e para a cidadania de nossa sociedade.
Prof. Dra. Magda Suely Pereira Costa Arraias – TO, dezembro de 2021
Ano de lançamento | 2021 |
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Número de páginas | 490 |
ISBN | 978-65-5869-719-0 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-720-6 |
Organização | César Evangelista Fernandes Bressanin, José Maria Baldino, Maria Zeneide Carneiro Magalhães de Almeida |
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