Ensaios estético-filosóficos: teoria crítica e educação. Vol. 1

Bruno Pucci

INTRODUÇÃO

Ensaios Estético-Filosóficos: Teoria Crítica e Educação, Vol. 1 é a primeira de duas coletâneas de textos que estou organizando para, de certo modo, agrupar escritos meus relacionados à estética, à filosofia e à educação, produzidos nos últimos 22 anos (1999-2021). Foram essas três áreas das ciências humanas que nortearam minhas atividades acadêmicas, científicas e produtivas nesse período, em que trabalhei como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba. A licenciatura em Filosofia (1970), bem como a graduação em Letras/Literatura (1974) e a Especialização em Literatura Brasileira Contemporânea (1975), me deram os fundamentos necessários para que, em minha vida acadêmico-profissional, eu privilegiasse os estudos e os escritos nas áreas da Filosofia e da Estética. O mestrado em Educação (1976), bem como o doutorado nessa mesma área (1982), me levaram à construção de uma experiência educacionalformativa, fertilizada pela negatividade crítica das reflexões filosóficas e pela dimensão dissonante e utópica das interpretações de obras de arte.

Poderia caracterizar a influência de quatro correntes filosóficas em minha formação e atuação intelectual: 1) A escolásticotomista, que constituiu a formação universitária durante o período em que permaneci no Seminário dos Padres Estigmatinos cursando Filosofia e Teologia, em Ribeirão Preto e Campinas (1958-1965), e na Pontifícia Università San Tommaso d’Aquino, Angelicum, em Roma, (1965-66); 2) A fenomenologia, que me acompanhou os passos desde o segundo semestre de 1966, quando iniciei o curso de Especialização em Teologia Moral (Carga Horária: 960h), na Pontifícia Universidade Lateranense, Alphonsianum, Roma, até o 10 segundo semestre de 1978, quando iniciei o curso de Doutorado na PUC-São Paulo. Portanto, o curso de graduação em Letras/Literatura (1972-1974), bem como o mestrado em Educação (1972-1976) os realizei tendo como fundamentação teóricometodológica a fenomenologia; 3) A filosofia da práxis, de Antônio Gramsci, que orientou meu curso de doutorado em Educação (1978-1982), bem como as atividades acadêmico-científicas até 1991, quando, então, lecionava no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. Ressalto que, no segundo semestre de 1968, no curso de Especialização em Pastoral e Comunicação (Carga Horária: 600 h), realizado no Rio de Janeiro, a teologia da libertação foi a fundamentação teórica predominante nas disciplinas; 4) A teoria crítica da sociedade é a corrente filosófica que desde 1991 orienta meus estudos, aulas e produções científicas. Passei de Gramsci para Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse incentivado pelas solicitações de orientação de três mestrandos e um doutorando, que queriam ser meus orientandos, mas no contexto da teoria crítica da sociedade. Resisti, questionei, mas aceitei e me deixei seduzir por essa corrente estético-filosófica, que se apresenta como fundamento primeiro de todos os ensaios publicados nesta Coletânea.

A leitura e os estudos dos livros filosóficos e estéticos dos teóricos da Escola de Frankfurt, majoritariamente de Theodor Adorno (1903-1969), me levaram a priorizar, nos escritos científicos, o ensaio como forma de expressão e de constituição dos textos. Trago algumas citações do primeiro texto de Adorno, no livro Notas de Literatura I, “O Ensaio como Forma” (2003), que justificam minha opção:

– O ensaio “não começa com Adão e Eva, mas com aquilo sobre o que deseja falar; diz o que a respeito lhe ocorre e termina onde sente ter chegado ao fim, não onde nada mais resta a dizer: ocupa, desse modo, um lugar entre os despropósitos” (ADORNO, 2003, p. 17);
– O ensaio não almeja uma construção fechada, dedutiva ou indutiva. Ele se revolta sobretudo contra a doutrina, arraigada 11 desde Platão, segundo a qual o mutável e o efêmero não seriam dignos de filosofia; revolta-se contra essa antiga injustiça cometida contra o transitório, pela qual este é novamente condenado no conceito” (Ibidem, p. 25);
– Pois o ensaio percebe claramente que a exigência de definições estritas serve há muito tempo para eliminar, mediante manipulações que fixam os significados conceituais, aquele aspecto irritante e perigoso das coisas, que vive nos conceitos (Ibidem, p. 29);
– No ensaio “o pensamento não avança em um sentido único; em vez disso, os vários momentos se entrelaçam como num tapete. Da densidade dessa tessitura depende a fecundidade dos pensamentos. O pensador, na verdade, nem sequer pensa, mas sim faz de si mesmo o palco da experiência intelectual, sem desemaranhá-la. (…); o ensaio procede, por assim dizer, metodicamente sem método” (Ibidem, p. 30).
– “Assim se diferencia, portanto, um ensaio de um tratado. Escreve ensaisticamente quem compõe experimentando; quem vira e revira o seu objeto, quem o questiona e o apalpa, quem o prova e o submete à reflexão; quem o ataca de diversos lados e reúne no olhar de seu espírito aquilo que vê, pondo em palavras o que o objeto permite vislumbrar sob as condições geradas pelo ato de escrever” (BENSE apud ADORNO, O Ensaio como Forma, 2003, p. 34-360.

Os ensaios, pois, presentes nesta Coletânea pertencem todos eles ao período em que a Teoria Crítica da Sociedade se tornou a primeira e fundamental corrente estético-filosófica e educacional de minha experiência formativa. Essa opção intelectual não significa um abandono e/ou desprezo `as outras correntes filosóficas que iluminaram minha caminhada como docente e pesquisador do Ensino Superior. O diálogo com as teorias filosóficas anteriores continua presente em meus escritos e proporciona aos mesmos densidade e contribuições importantes.

Dezenove dos ensaios aqui apresentados foram publicados como artigos de revistas científicas e/ou como capítulos de livros; apenas um deles, o “A máquina do mundo de Drummond 70 anos depois”, escrito em 2020, é inédito. Nessa perspectiva, em cada 12 ensaio apresentado, destaco, em nota de rodapé, a Revista Científica e/ou o Livro, nos quais o referido texto foi publicado.

Dez dos vinte ensaios foram escritos apenas por mim e publicado em meu nome; os outros dez tiveram a participação de parceiros acadêmicos, entre eles, docentes do ensino superior, orientandos de doutorado, de mestrado e de Iniciação Científica. Em cada um dos ensaios, apresento os nomes e a vinculação científica e/ou profissional dos participantes na escrita do texto. O ensaio “Afinidades eletivas: os irmãos Taviani recriam Goethe, 2010”, foi escrito em parceria com Josianne Cerasoli, docente de História da UNICAMP. O ensaio “A máquina do mundo de Drummond 70 anos depois, 2020”, foi escrito em parceria com os graduandos em Psicologia Camila Cordeiro e Rafael Callegary, que desenvolveram, sob minha orientação, projetos de Iniciação Científica.

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Piracicaba, 25 de janeiro de 2021
Bruno Pucci

 

Ano de lançamento

2021

Autoria

Bruno Pucci

ISBN [e-book]

978-65-5869-217-1

Número de páginas

438

Formato