Extrema-direita e neoconservadorismo na América Latina e no Caribe

Nas duas primeiras décadas do século XXI a América Latina e o Caribe passaram pelas chamadas  “onda azul” e “onda rosa” quando um conjunto de países da região elegeu com alguma sincronia governos conservadores e progressistas. O século XX terminou com a desagregação da União Soviética e a emergência dos Estados Unidos como potência hegemônica mundial, celebrando a vitória do capitalismo e o “fim da história”. Meses antes da implosão do mundo socialista, começava o espetáculo da “guerra cirúrgica” no Golfo Pérsico, transmitida ao vivo para milhões de pessoas.

O neoliberalismo apresentava-se não como ideologia, mas como pragmatismo frente a inevitabilidade do mercado como único espaço de realização da sociedade. Em nossa região, este quadro contribuiu para a falência dos projetos revolucionários à esquerda e estimulou o abandono da resistência armada, sob promessas de participação nos regimes democráticos do pós guerra-fria.

Neste cenário a esquerda fez concessões que lhe permitiu chegar ao poder e implementar, com maior ou menor sucesso, políticas como as de combate à fome, e o desemprego e ofereciam algum grau de assistência social, desde que a estrutura de acumulação permanecesse intocada. Esse pacto funcionou até  o fim  do boom das commodities e a chegada na região dos efeitos da crise financeira de 2008, quando as classes dominantes julgaram que era hora de romper a institucionalidade que elas próprias impuseram.

Abriu-se um período de sucessivos golpes, a maioria deles jurídico-parlamentares, no bojo dos quais emergiram forças de extrema-direita que rapidamente ocuparam espaços políticos importantes, elegendo deputados, senadores e presidentes. Muitas das figuras despontaram primeiro na internet e mantêm vínculos com outros movimentos e personagens da extrema-direita mundial, think-tanks, além de lideranças religiosas conservadoras, particularmente entre os neopentecostais.

Este volume apresenta uma conjunto de reflexões de pesquisadoras e pesquisadores sobre este cenário, muitas das quais a partir de debates e estudos realizados no  Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PPGICAL), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), onde as organizadoras do livro e algumas autoras e autores atuam como docentes ou estudantes. Contamos também com a colaboração de latino-americanistas de outras universidades da América Latina.