Fotografia documental e educação: contribuições teórico-práticas às relações étnico-raciais
Autoria: Anderson Junque
PREFÁCIO
O conhecido fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson dizia que “fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. Dono de uma percepção sensível, mundialmente reconhecida e celebrada, Cartier-Bresson criava imagens por meio da fotografia e, ao mesmo tempo, fotografava o ilusório, o que era apenas imaginado, mas que, por meio de sua lente rigorosa, logo se tornava realidade. Mistérios de uma atividade única, capaz de imprimir no olhar a emoção da cabeça e a razão do coração…
Há olhares e olhares! Muitas vezes, olhamos à nossa volta sem enxergarmos o todo; outras, enxergamos a superfície e o todo, quando o segredo se esconde, sutilmente, na essência dos detalhes. Borges dizia que “a beleza está à espreita por toda a parte”. Cego, sabia ver com os olhos da alma, mas também com a precisão das palavras. Para ele, melhor do que a realidade, era, como gostava de dizer, a coisa sugerida, que no seu caso era transformada na mais sublime poesia.
O trabalho desenvolvido por Anderson Junque envolve coração e mente, olhos e cérebro, e – sensível, como a lente de Bresson; preciso, como as palavras de Borges – alcança um resultado inesperado: oferece ao leitor uma experiência, a um só tempo, artística e acadêmica, sem perder o vigor da palavra e a emoção da imagem. A comparação não é exagerada, posto que, como os dois grandes mestres citados, o que aqui conta é, fundamentalmente, a personalidade do ato, por meio do qual pesquisador e artista captam e traduzem a realidade à sua volta.
Refletindo sobre a mostra fotográfica “Missão Moçambique – retratos de um povo que vive entre sonhos e desafios”, de sua própria autoria e nascida de uma experiência pessoal e antropológica, Anderson Junque logra reproduzir boa parte do impacto causado pela referida mostra, sem deixar de lado o rigor metodológico que a pesquisa acadêmica exige. Trabalhando com a fotografia documental e buscando aproximá-la do complexo universo da educação, consegue ainda, como uma espécie de efeito colateral positivo, contribuir substancialmente para a compreensão da pesquisa biográfica (no seu caso, autobiográfica), da educação sociocomunitária e das relações étnico-raciais, numa triangulação temática e metodológica bem concatenada e criativa.
Trazendo a contribuição de pensadores tão distintos quanto Susan Sontag e Walter Benjamin, como Roland Barthes e Zygmunt Bauman, seu livro ganha unidade exatamente no impulso de transformar uma mostra fotográfica num objeto de pesquisa acadêmica, em que os diversos fatores implicados (imagem, perspectiva pedagógica, teorias racialistas, subjetividade etc.) contribuem para uma compreensão holística tanto da arte fotográfica quanto da educação popular.
Dessa maneira, Anderson Junque comuta papéis que se definem na trama da ação humana: sendo criador de imagens e pesquisador das palavras, assume, de modo natural, a condição de artista da palavra e cientista da imagem.
E o resultado, como era de se esperar, mais do que o intercâmbio, como ele mesmo sugere, entre fotografia e educação, o diálogo entre a ação estética e o ato formativo.
Maurício Silva
Ano de lançamento | 2021 |
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Autoria | Anderson Junque |
ISBN | 978-65-5869-271-3 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-272-0 |
Número de páginas | 249 |
Formato |