O livro Infância(s) e Educação Infantil: Pesquisas, Docências e Pedagogias,tal como o seu título anuncia, apresenta-nos um conjunto de textos que nos permitem fazer o cruzamento entre estas três dimensões, dando assim relevo a um saber que se constrói com sentido: investigar e formar para promover uma intervenção educativa de forma bem sustentada.
Esta extensa obra, integra trabalhos de um vasto número de autores, brasileiros e brasileiras, portuguesas e colombiana, de elevado relevo na investigação e da intervenção no campo da(s) infância(s). Inserir autores estrangeiros, não no sentido de se deixarem colonizar pelos mesmos.
Este registro internacional é revelador do trabalho que se tem feito em conjunto, entre investigadores de países com dimensões e realidades socioculturais muito diferentes, mas em que as crianças têm, estatutariamente, os mesmos direitos. Mas as convenções, só por si, não garantem o uso desses direitos, o que reforça a pertinência da defesa por quem investiga e atua junto das mesmas. Daqui também a importância de alguns dos textos serem escritos a várias mãos, entre acadêmicos, de várias universidades e países, e professores que atuam no “chão da escola”, no cotidiano com as crianças.
De teor ideológico bem demarcado (a educação não é neutra!). O livro oferece uma ampla abordagem de áreas concernentes às Infância(s) e Educação Infantil, em que as crianças se encontram, naturalmente, presentes – ora com as suas próprias narrativas, ora nas reflexões dos autores dos textos. A criança é aqui reconhecida como ser político, como cidadã com poder, o que é evidente na desconstrução de práticas e narrativas colonizadoras e adultocêntricas.
De forma astuta e crítica, são assumidas incertezas, clarificam-se novos questionamentos nas buscas incessantes pelos sentidos atribuídos pelas crianças a diferentes situações. Rompendo com uma visão disciplinar esquartejante que dificulta ou impede o investigador de entrar no mundo das crianças, é visível nesta obra a importância da interdisciplinaridade, dos estudos da criança, como base para a compreensão dos que lhes é próprio.
E o que lhes é próprio é o brincar (direito muitas vezes ignorado), é a utilização de linguagens múltiplas, foco de abordagem em muitos dos textos, mas também recurso metodológico utilizado em algumas das pesquisas relatadas por se entender ser apropriado ao fazer próprio das crianças.
Em tempos em que a voz da criança permanece subsumida, o lançamento deste livro constitui um compromisso ativo pela persecução dos seus direitos.
