Leituras, bibliotecas e escolas: a mediação sobre outras perspectivas
Organização: Mariana Cortez, Natalia Duque
APRESENTAÇÃO
O livro Leituras, bibliotecas e escolas: a mediação sobre outras perspectivas, organizado pelas professoras Natalia Duque e Mariana Cortez, foi publicado primeiramente em espanhol Lecturas, Bibliotecas y Escuelas: mediación desde el Sur com trabalho editorial do Fondo Editorial Biblioteca Pública Piloto. Agora, nesta nova versão, em português, o livro evoca debates que envolvem as artes em espaços coletivos, como biblioteca, escola e comunidade no âmbito da América Latina no cone Sul. Como o próprio título indica, a partir de distintos olhares, a obra nos brinda com a apresentação de diferentes abordagens teórico-práticas que envolvem reflexões interculturais sobre ações de mediação de leitura juntamente com a necessidade da criação ou do aprimoramento de ações pedagógicas nos cenários educativos. A finalidade deste livro é, portanto, apresentar os resultados de pesquisas dos projetos desenvolvidos pela Escuela Interamericana de Bibliotecología (Universidad de Antioquia, Colômbia) e Vivendo livros latino-americanos na Tríplice Fronteira (Universidade da Integração latino-americana, Brasil), coordenados, respectivamente, por Duque e Cortez, com o propósito de colocar as ideias em diálogo para repensar o papel da biblioteca em uma perspectiva latino-americanista.
Nesse sentido, no primeiro capítulo, “As funções sociais da biblioteca escolar em contextos interculturais”, Natalia Duque traz, inicialmente, suas memórias pessoais para pensar espaços de educação e cultura, como no caso das bibliotecas, as quais são consideradas territórios importantes de diálogo intercultural, ou seja, lugares seguros para ver, escutar e sentir a realidade e o contexto. Dessa maneira, o capítulo propõe refletir sobre as funções socioculturais e educativas que envolvem a biblioteca escolar em uma relação direta com o seu olhar pedagógico para o acolhimento de sonhos e da ilusão. Para tanto, a autora baseia-se em alguns dos fundamentos que Juan Amós Comenio propõe em sua obra seminal Didática Magna (2016).
No segundo capítulo, “Os fios ao redor da palavra: sobre as relações entre as práticas LEO, a biblioteca escolar, a comunidade educativa e os discursos”, Viviana Mazón Zuleta e Juan Diego Ramírez Zuluaga revisam e analisam alguns documentos que tratam a LEO (Leitura, Escrita e Oralidade) a nível nacional e regional para trazer olhares de diferentes atores sobre a biblioteca e estabelecer Relações entre essas categoria. Defendem que somente através de uma mudança de enfoque na forma de conceber e de abordar os discursos políticos que ocultam tais práticas se poderá resolver alguns dos problemas mais desafiantes na atualidade sobre a relação da leitura, escrita e oralidade com a biblioteca escolar.
Por meio de uma revisão bibliográfica, entre 2008 e 2018, Dayana Acevedo Echevery e Viviana Mazón Zuleta abrem o terceiro capítulo “Bibliotecas e mediação cultural: um estado da arte na Colômbia e no Brasil”, trazendo alguns resultados dessa pesquisa. Elas explicam que, apesar de no território colombiano, diferentemente do brasileiro, serem precárias a reflexão e a teorização a respeito do tema, existem alguns autores que apontam análises muito interessantes sobre como compreender a mediação cultural, suas relações, definições e propósitos no campo biblioteconômico. Nesse ínterim, elas mostram a relevância do professor que também atua como um mediador cultural, interferindo diretamente nas práticas de leitura, interpretação e ressignificação das obras e do mundo, em um profícuo terreno de construção e transformação de contextos, mobilizando, ao mesmo tempo, o outro em seu próprio território.
Já o quarto capítulo, denominado “Clube de Leitura: proposta para uma escola do campo” de Mariana Cortez, a pesquisadora aborda uma experiência relativa ao Clube de Leitura Estrela Verde do Campo com estudantes de uma escola pública brasileira em contexto de campo, inserida no Projeto de pesquisa-ação Vivendo livros latinoamericanos na Tríplice Fronteira. O propósito do texto é refletir sobre essa ação como uma possibilidade de mediação de leitura com vistas a proporcionar um espaço para a troca de saberes distintos pela importância da valorização do compartilhamento de ideias na construção de sentidos. Sob este enfoque, a formação literária contribui com a edificação da subjetividade e dos valores sociais de caráter emancipador por meio da dialogicidade quando se oportuniza o conhecimento para a formação de leitores mais participativos e atuantes socialmente.
A partir do desenvolvimento do mesmo projeto de pesquisa, Mariana Cortez, juntamente com Viviana Talia Aprigio, focaliza no quinto capítulo “A mediação de leitura literária em contextos plurilíngues”, mais um trabalho de mediação de leitura com crianças, mas, desta vez, em uma escola de Ciudad del Este, no Paraguai. O objetivo da reflexão é indagar os impasses e as possibilidades de promover a leitura entre participantes advindos de territórios sociais, linguísticos e culturais diversos em contexto plurilíngue, a partir do entendimento da literatura como potencializadora do debate sensível e democrático nestes ambientes. As autoras mostram que as experiências de mediação, a partir de obras literárias, podem auxiliar nessa sensibilização e negociação de sentidos num espaço aberto ao diálogo de ideias, onde o leitor tenha o direito de manifestar suas certezas, inquietudes e desejos.
Por fim, sob o título “IR e VIR: ações de leitura literária com a escola”, Mariana Cortez e Renata Junqueira de Souza encerram a obra com o sexto capítulo, discutindo práticas de leitura literária desenvolvidas pelo CELLIJ — Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Maria Betty Coelho Silva” da FCT/UNESP, a partir de observações de experiências entre Universidade e escolas municipais. A reflexão apresenta distinções entre promoção, animação e mediação na escola e no centro, entendendo como fundamental a proposição de uma revisão sobre tais conceitos. Além disso, elas constaram que não apenas a estrutura, mas, muito mais, o desenvolvimento de ações, como contação de histórias e outras atividades lúdico-artísticas, são estratégias fundamentais para estabelecer o diálogo e o processo de formação do leitor de forma mais completa.
Natalia Duque e Mariana Cortez tiveram um propósito muito claro ao publicar este livro nas duas línguas com seis textos tecidos em múltiplas vozes: permitir aos leitores e às leitoras — professores, biblioteconomistas, mediadores, pesquisadores iniciantes e especialistas — refletir a partir de seus lugares e da mirada sensível do Outro no deslocamento com as experiências deste Outro com a leitura nos diversos espaços de convivência, seja na escola, na rua, na periferia das cidades ou na zona rural. Com as autoras de cada capítulo, vamos entender que tais experiências vinculam diretamente a leitura às crianças leitoras através do exercício contínuo da mediação na arquitetônica das bibliotecas escolares. Este vínculo direto aproxima tais crianças aos livros através da mediação (medium; actĭo) sobre outras perspectivas, em que a biblioteca é medium e caminho, e a leitura é ação política emancipadora com muitos contornos e descobertas.
Assim, como acreditam as organizadoras, a mediação de leitura possibilita transformação de sujeitos latino-americanos enquanto leitores criativos, no sentido da filosofia de Paulo Freire que ressignificou a leitura enquanto ato político no exercício de criação e na ética do conhecimento.
O leitor tem aqui uma importante contribuição na qual é possível se inspirar para ensinar leitura, ler na rua, nas escolas e bibliotecas, exercitar a mediação, fazer pesquisas, transformar-se construindo sujeitos leitores através da pesquisação.
Franciele Maria Martiny
Jocenilson Ribeiro
Ano de lançamento | 2021 |
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ISBN | 978-65-5869-607-0 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-608-7 |
Número de páginas | 119 |
Organização | Mariana Cortez, Natalia Duque |
Formato |