Leituras sobre a sexualidade em filmes: intersecções sobre vínculos, desejos e relacionamentos. Vol. 8. Coleção Sexualidade & Mídias

Ana Cláudia Bortolozzi, Leilane Raquel Spadotto de Carvalho

APRESENTAÇÃO

Chegamos ao oitavo volume da Coleção Sexualidade & Mídias com outras discussões e reflexões enfocando dois grandes eixos de análise. O primeiro eixo é caracterizado pelos vínculos, sejam esses os laços parentais, os amorosos e/ou sexuais. O segundo eixo chamamos de desejos eróticos: sua natureza subjetiva ou social, os modelos normativos, o direcionamento libidinal – a partir da psicanálise -, o que seria (ou não) patológico do ponto de vista da ciência psicológica, dentre outras discussões. Há, entretanto, questões importantes que fazem intersecções nesses dois eixos e que, embora apareçam como temas centrais em alguns capítulos, reúnem um sentido fulcral para a compreensão de todos eles: gênero, orientação sexual, raça, deficiência, violência, migração, preconceito, cultura, etc.

São onze capítulos que compõe o Volume 8, “Leituras sobre a Sexualidade em Filmes: intersecções sobre vínculos, desejos e relacionamentos”.

O Capítulo 1, The Morning Show: os contornos ideológicos do feminismo liberal, dos autores Maria Flor Di Piero e Alekssey Di Piero abre esta obra.

É certo que falamos em sexualidades, mulheres e feminismos, mas a questão plural levantada por Maria Flor e Alekssey neste texto problematiza um debate a partir do “pensamento decolonialista”, considerado a crítica da modernidade sustentada por Boaventura de Sousa Santos.

Segundo os autores, não é possível pensar em um feminismo sem considerar a interface com outras questões importantes.

Apontam que as próprias críticas feministas foram alvos do neoliberalismo, reconhecendo diferenças de “mulheres” do Sul global e do Norte global. Defendem que a perspectiva da opressão de classe deve dialogar com as desigualdades na vivência das mulheres do Sul global porque elas reproduzem cotidianamente os efeitos da triangulação entre capitalismo, colonialismo e patriarcado e, mais ainda, se constituem enquanto sujeitas a base das opressões de raça, gênero e da exploração de classe.

Analisam, assim, a série The Morning Show, com os discursos que incidem a partir da narrativa de denúncia de assédio sexual em uma emissora de televisão, discutindo os movimentos feministas transnacionais contemporâneos, tendo como referência a questão do Sul global. De sua leitura, podemos deduzir um ressignificado para o modo como esse fenômeno tem sido discutido em diferentes contextos e expostos pelos assediadores e pelas mulheres – as que têm ascensão ao poder, e as invisíveis, sem voz e/ou subalternas.

Uma reflexão geral e necessária às leituras seguintes de todas as mulheres em seus vínculos, desejos e relacionamentos.

No eixo sobre “Vínculos e relacionamentos” iniciamos, no Capítulo 2, Rainha: uma interdição alegórica a partir das relações de classe, raça, gênero e sexualidade na construção da mulher negra, das autoras Aline de Jesus Maffi, Laryssa de Cássia Ramos Gomes e Elisabete Figueroa dos Santos, a relevante discussão sobre a intersecção sexualidade e raça, analisando a personagem Rita (que deseja ser rainha de bateria de escola de samba) e como a sua sexualidade e suas relações interpessoais e afetivas ocorrem nesse contexto. A discussão sobre raça, tão importante quanto gênero, são marcadores sociais que desvelam a historicidade da desigualdade e do preconceito.

Na temática da deficiência e sexualidade1, a professora Ana Cláudia Bortolozzi acompanha – em parceria com a equipe de pesquisadoras do GEPESEC – três análises de filmes sobre essa temática. No Capítulo 3 Como eu era antes de você: o desejo de viver ou morrer após uma lesão medular, da primeira autora Patricia Akitomi da Rocha, o tema é novo e pouco discutido, tendo como foco o testamento vital (a vontade voluntária de tirar a vida) de um jovem que fica tetraplégico; no Capítulo 4, Special: relações afetivas e sexuais de um adulto com paralisia cerebral, da primeira autora Leilane Raquel Spadotto de Carvalho, a análise é sobre o Personagem Ryan, um homem homossexual com Paralisia Cerebral que busca um parceiro e luta contra o próprio preconceito internalizado, e no Capítulo 5, da primeira autora Débora de Aro Navega, Encontro às escuras: sexualidade e deficiência visual, a reflexão abrange as vivências afetivas e sexuais de um homem com deficiência visual.

A seguir, ainda na temática dos vínculos e dos relacionamentos, vamos ver a repressão sexual, violência e poder administrando a sexualidade das pessoas.

Primeiramente no Capitulo 6, Elisa y Marcela: o relacionamento entre duas mulheres e os conflitos com uma sociedade heteronormativa da Espanha do final do século XIX, de autoria de Rinaldo Correr e de Luciana Maria Biem Neuber, abordando a doçura de um amor entre duas mulheres e a repressão sexual contextualizada na época em que o filme se passa. Depois, em dois contextos de violência: no Capítulo 7, Um crime entre nós: a violência sexual infantil na voz da vítima, de Aparecido Renan Vicente, Paola Alves Martins dos Santos e Andreza Marques de Castro Leão, retratando o lado obscuro de relacionamentos que envolvem a violência sexual, a partir de relações de poder entre adultos e crianças, e as possíveis consequências dessa violência; e no Capítulo 8, de Ana Cláudia Figueiredo Rebolho e de Paulo Rennes Marçal Ribeiro em Anjos do Sol: a exploração sexual de jovens no contexto da miséria, que trata da prostituição infantil em contextos de extrema pobreza no cenário brasileiro, que também irá resultar em relações de violência.

Finalmente, apresentamos o segundo eixo que reúne os últimos três capítulos que tratam do desejo erótico e de sua natureza subjetiva e/ou social.

No Capítulo 9, em Hable con ella: a vida restituída pelo desejo sexual, as autoras Mary Neide Damico Figueiró e Luana Pagano Peres Molina, problematizam a linguagem do desejo e do amor em cuidar e possuir uma mulher em coma. Nos capítulos seguintes, à luz da psicanálise, temos no Capitulo 10, Belle de jour: relacionamentos e as insatisfações do desejo, de autoria de Brenda Sayuri Tanaka e de George Miguel Thisoteine, reflexões sobre as interpretações clínicas do desejo (satisfeito e insatisfeito) de uma mulher casada e, por fim, o Capitulo 1[1], de Bruna Bortolozzi Maia, Raissa Pinto Rodrigues e de Mary Yoko Okamoto, denominado Luta de classes: diferença no trabalho vincular e a parentalidade, que trata das interpretações sobre a importância da parentalidade como o suporte psíquico da criança na formação do sentimento de pertencimento e de identidade cultural e, ao mesmo tempo, na aceitação – e respeito – pela alteridade, no caso, da atual migração na Europa ocidental.

Convidamos a todos (as) para essa instigante leitura e reflexão constante!

1- A autora Ana Cláudia Bortolozzi publica em três capítulos neste volume, pois é especialista nesta área e desenvolve e/ou desenvolveu em coautoria as pesquisas relatadas pelas autoras dos referidos textos apresentados. São parcerias do Grupo de trabalho GEPESEC, responsável pela elaboração deste projeto de Coleção de livros.

Ano de lançamento

2020

ISBN

978-65-87645-77-3

ISBN [e-book]

978-65-87645-78-0

Número de páginas

258

Organização

Ana Cláudia Bortolozzi, Leilane Raquel Spadotto de Carvalho

Formato