Leituras sobre a sexualidade em filmes: psicanálise e vínculos. Vol. 3. Coleção Sexualidade & Mídias
Organização: Bruna Bartolozzi Maia, Mary Yoko Okamoto
APRESENTAÇÃO
Mary Yoko Okamoto
Bruna Bortolozzi Maia
As transformações sociais ocorridas ao longo da nossa história repercutiram na organização e funcionamento de famílias, filhos, casais e os vínculos amorosos. Assim, assistimos a uma pluralidade de arranjos e rearranjos familiares e amorosos, e diante de novas questões que se impõem, as famílias têm sido atravessadas por novos desafios, questionamentos e transformações de variadas ordens.
Os imperativos sociais, ligados a uma cultura do narcisismo, a novas modalidades de envolvimentos amorosos e sexuais, à espetacularização e à publicização da vida privada a partir da conexão com as redes sociais, trazem nesse cenário outras maneiras de se conectar ao outro, evidenciando que os modos de vinculação, base da organização do grupo familiar, também são importantes de serem pensados nesse processo de transformação da família na atualidade.
Diante de tais demandas, o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicanálise e Vincularidade – LaPsiVi, coordenado pelas docentes Mary Yoko Okamoto e Thassia Souza Emídio, do departamento de Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, objetiva organizar e agregar o desenvolvimento de pesquisas, estudos e eventos nessa área, colaborando para o avanço teórico e divulgação científica, para a formação de psicólogos e pesquisadores.
Os capítulos que compõem este terceiro volume da Coleção Sexualidade & Mídias são frutos da organização da Mostra de Filme: Vínculos em Cena, e propõem a discussão de temas relacionadas à organização amorosa e familiar desenvolvidas pelas docentes e pesquisadores de graduação e pós-graduação que integram o LaPsiVi. Além disso, apresentamos um capítulo de um renomado pesquisador, convidado para compor essa coletânea.
As reflexões apresentadas resultaram das discussões de filmes, cujas temáticas giram em torno de pesquisas realizadas no referido laboratório e que compuseram a Mostra de filmes. Apresentaremos aqui os capítulos a partir de suas afinidades temáticas.
O Capítulo 1, Álbum de família, trata de uma família marcada por conflitos na transmissão geracional, perpassada por diversos sofrimentos, dentre elas, a violência e os segredos familiares que marcam indelevelmente a parentalidade, as relações conjugais e a repetição de conteúdos traumáticos no encadeamento das gerações.
O Capítulo 4, com o longa Medianeras, reflete a solidão do contemporâneo, personificada pela cidade de Buenos Aires e as ausências de janelas e mediações com o mundo externo. Apresenta-se, neste capítulo, as possíveis ressonâncias da solidão e da impossibilidade de solitude nos vínculos e relações estabelecidos no contemporâneo.
Os imperativos sociais, ligados a uma cultura do narcisismo, à espetacularização da vida e à publicização da vida privada a partir da conexão com as redes sociais, trazem nesse cenário uma outra forma de se conectar ao outro, evidenciando que os modos de vinculação, base da organização do grupo familiar, também são importantes de serem pensados nesse processo de transformação da família na atualidade.
Seguindo na temática dos vínculos amorosos o Capítulo 3, com Me chame pelo seu nome discute a história de dois personagens, em meados dos anos 80, e o vínculo afetivo-erótico que desenvolvem ao longo da trama, retratando o conflito entre as pulsões e as normas sociais e demonstrando que quem nos nomeia é o outro.
Pensando nas mudanças ocorridas nas formas de vinculação no contemporâneo, o capítulo 8, revela com o filme Armações do amor (uma comédia romântica), um fenômeno cada vez mais recorrente, denominado ‘ninho cheio’, que diz respeito àqueles filhos que, a despeito da possibilidade de fazê-lo, escolhem não sair da casa dos pais, mesmo quando adultos. A reflexão aqui é sobre essas transformações no vínculo de parentalidade – filiação e suas possíveis consequências para a construção das subjetividades no contemporâneo.
Outra face de tais mudanças mostra-se no capítulo 6. Em Blue Valentine, os autores discutem as relações conjugais na contemporaneidade, dando enfoque para o divórcio enquanto construção histórica e vincular, num filme que apresenta a história de um casal desde o início até o fim do relacionamento, escancarando a impossibilidade de mantermos as idealizações vivas diante de um relacionamento longo, bem como as consequência do divórcio para a parentalidade.
Seguindo nesta temática, no Capítulo 7, a partir de As coisas impossíveis do amor discute a temática do recasamento, em especial no que diz respeito ao vínculo madrasta-enteado: seus impasses e suas influências sociais referentes à história vincular. Discute-se também o imaginário social em torno da madrasta, o conflito de lealdade vivido pelo filho e, por fim, a importância do apoio dos pais do enteado para o estabelecimento do vínculo com a madrasta, no qual perpassam conflitos da conjugalidade e da parentalidade.
A temática da parentalidade é enfatizada no decorrer do livro, como no capítulo 2, que trata de vínculos de filiação, a partir principalmente das contribuições de D. W. Winnicot. Isto se dá partindo das memórias do personagem Salvador, do filme de Almodóvar Dor e Glória. O longa apresenta de forma sensível a relação mãefilho, que parece buscar ressignificação através da narrativa marcada por lembranças do passado.
No capítulo 5, alicerçado na narrativa de ficção científica de Black Mirror – Arkangel articula-se a parentalidade com o narcisismo. A história se inicia quando a mãe perde a filha pequena, Sara, no parquinho e implanta um programa capaz de rastreá-la e limitar sua visão, desencadeando questionamentos também sobre a tecnologia no exercício das funções parentais.
Ainda pensando nas transformações contemporâneas da parentalidade, o capítulo 9 aborda, diante da narrativa dramática Tully, a vida de uma mãe após o nascimento do terceiro filho, realçando suas dificuldades no puerpério já que não conta com o suporte da função paterna. Destaca, assim, a crescente fragilização da função paterna, fenômeno contemporâneo, bem como suas consequências subjetivas na organização da dinâmica familiar.
Com o Capítulo 11, Projeto Florida, nos vemos convidados a olhar do ponto de vista de uma criança para um vínculo mãe-filha que ocorre num mundo em contraste com a magia dos parques da Disney, escancarando as dificuldades da construção da maternidade num contexto de vulnerabilidade social, refletindo sobre as possibilidades de intervenção com estas famílias de forma menos estigmatizada e moralizante.
Por fim, no capítulo 10, com O Rei leão, clássica animação infantil refilmada em liveaction em 2019, as autoras fazem um paralelo com o Complexo de Édipo proposto por Freud a partir da tragédia de Sófocles, destacando a transmissão psíquica e os pactos inconscientes que estão envolvidos na trama.
Esperamos que a leitura deste livro possa despertar no público, o interesse e a compreensão de algumas vicissitudes que atravessam o cenário vincular no contemporâneo, através de filmes que demonstram com muita sensibilidade, os vínculos amorosos e familiares.
Agradecemos à querida Ana Cláudia Bortolozzi Maia, pelo convite para compor esse volume, e a Leilane Raquel Spadotto de Carvalho por todo o apoio à organização do mesmo. Afinal, a vida é tecida nos bons encontros!
Ano de lançamento | 2020 |
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ISBN | 978-65-86101-24-9 |
ISBN [e-book] | 978-65-86101-25-6 |
Número de páginas | 217 |
Organização | Bruna Bartolozzi Maia, Mary Yoko Okamoto |
Formato |