Meu vô é mesmo um grande sábio: prosa poética

Este livro, como bem define o professor Márton Tamás Gémes (UVA), é uma coletânea de memórias-poemas.

O poeta  prioriza, na sua prosa, a evocação da segunda infância, um exercício, por vezes, difícil, angustiador e inquietante de olhar intimista.

Para maior fidelidade à  época pueril, recorre a desvios da língua-padrão e registra, através da reescrita fonética do léxico regional, formas arcaicas da língua materna, um recurso estilístico para tentar recriar a atmosfera familiar dos anos 60, no interior cearense.

Os nomes próprios (familiares) são reescritos estilística e foneticamente e as memórias do sítio Aceno foram hiperbolizadas e despudoradamente inventadas por uma autobiografia poética.

Na primeira parte do livro, o autor mostra que seu avô materno exerceu forte influência na sua formação deontológica, imersa num sistema de valores e atitudes próprios da doutrina cristã, que muito contribuiu para a desconstrução de suas formas de ser, pensar e estar no mundo.

Na segunda parte,  o poeta preza e despreza as reminiscências do sítio Aceno.

Na terceira parte, volta-se, entediado, ao ambiente rupestre e hostil do sítio Aceno.

Na quarta parte, o poeta revela sua profunda relação com a morte, uma experiência deflagradora da consciência mítica do homem.

A prosa poética, ambientada no lugarejo O Aceno, em Iguatu, acena para a denúncia da opressão sofrida pelos habitantes rurais, o que pode causar no leitor um efeito de angústia e insofrimento ou levá-lo à reflexão e interpretação sobre como se deu o processo de (des)constituição das camadas pobres (e escravas) na região sul do Ceará e como viveram, vivem e desvivem ainda suas comunidades remanescentes.