Mulheres em quarentena
Organização: Francisca Lailsa Ribeiro Pinto, Kátia Cristina Cavalcante de Oliveira
PREFÁCIO
Certa vez, questionada quanto ao que era poesia e ser poeta, cheguei à conclusão de que poesia para mim e, em especial, o processo criativo do fazer poético era catarse. Dar vazão ao que estava represado, restando-me depois uma sensação de alívio, de libertação, de cura, de reconquista da consciência enfim. Reconheço esse processo catártico também na experiência de apreciar a poesia (nem sempre em forma de poema!) de outrem e, sem dúvidas, a leitura de Mulheres em Quarentena fez-se de um jeito forte, bonito e instigante também por ter encontrado nos escritos de tantas e diversas outras mulheres a captura e tradução de sentimentos, momentos ou pensamentos que me circundaram a vida no último período.
O mergulho nestes escritos me fizera pensar que, sobretudo para quem, como eu, faz do sertão local de vida, trabalho e moradia, poesia talvez seja isso: um delicioso banho de açude, para o qual as mulheres reunidas aqui neste livro, com seus escritos, tão bem souberam mobilizar-me. Escritos nascidos em dias de muitas dores e que, por isso mesmo, nos confrontam com feridas abertas – objetivas e subjetivas – que certamente levarão tempo para cicatrizarem, na vida individual e coletiva.
Mas, para além das dores, há delícias também expressas nos registros do existir e do seu cultivo. Mulheres em Quarentena é um livro de descoberta, reinvenção e potência. Suas linhas são profundamente diversas, em temas, estilos, percursos e horizontes. Em comum, destaco especialmente a força que as palavras dessas mulheres portam, chamando-nos à resistência incessante.
Em uma nudez sem precedentes, elas expõem sensibilidades, criatividades e experiências cotidianas de um modo a me fazer crer que leitores e leitoras de todos os recantos do país certamente encontrarão nestes escritos muito com o que se identificar. O que tocou a essas mulheres poderá tocar ainda a tantas outras que somente posso desejar que este livro se faça então lugar de encontro e construção da identidade entre nós e os nossos.
No mais, resta-me reforçar a urgência de atentarmos para a produção cultural que está para muito além das capitais do país e dos grandes centros urbanos. Já não se pode ignorar a presença e proliferação das vozes femininas e feministas nos mais diversos rincões do Brasil e a heterogeneidade que as caracterizam.
Quebra silêncios e rompe com os estereótipos do que uma sociedade marcadamente patriarcal espera da literatura produzida por mulheres. Não tem “ganhado” mais espaço, tem conquistado mesmo. Assim como quem entra empurrando a porta com os dois pés e megafone em punho. Porque isso tem se dado a partir de intensos processos de auto organização das mulheres e da ocupação (ou mesmo criação) de espaços independentes para difusão das preciosidades literárias produzidas.
Um brinde às organizadoras do livro pela delicadeza e fortaleza da iniciativa e às autoras que, atendendo com desvelo a este chamado, nos entregam a possibilidade de uma experiência literária encharcada de sentidos!!!
Clariça Ribeiro
Sertão da Paraíba, às vésperas da viagem para reencontro do colo de mãe após 1 ano, 7 meses e 16 dias de isolamento imposto pela pandemia do SARS-Cov-2 (coranavírus) e movida por ardente desejo de derrota do projeto político genocida do bolsonarismo e tudo o que este tem arrancado da gente e dilacerado, por dentro e por fora…
Ano de lançamento | 2022 |
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Número de páginas | 137 |
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ISBN | 978-65-5869-634-6 |
ISBN [e-book] | 978-65-5869-846-3 |
Organização | Francisca Lailsa Ribeiro Pinto, Kátia Cristina Cavalcante de Oliveira |