Pegadas das imagens na imaginação geográfica pesquisas, experimentações e práticas educativas

Organização: Flaviana Gasparotti Nunes, Gisele Girardi, Wenceslao Machado de Oliveira Junior

PEGADAS DAS IMAGENS NA IMAGINAÇÃO GEOGRÁFICA: MARCAS DA/NA REDE

Gisele Girardi
Wenceslao Machado de Oliveira Junior
Flaviana Gasparotti Nunes

O que está pegando? (Ana Maria Preve)

Rede é rede mesmo de pescar:
tem buraco pra vazar,
tem fio pra se segurar,
nó pra te prender.

(Marisa Valladares)

Enfrentar as forças que bloqueiam não é se contrapor a algo,
mas sim buscar estabelecer certos combates àquilo que impede
o pensamento de variar, de derivar, de delirar em outras direções
que poderiam vir a ser potentes para se inventar
outras maneiras de habitar o mundo.
Os combates da rede se situam no campo das imagens,
no campo do (conceito de) espaço e no campo da educação.

(Wenceslao Oliveira Junior)

As frases acima foram proferidas durante a primeira reunião de trabalho da Rede Internacional de Pesquisa “Imagens, Geografias e Educação”, realizada em 2012 na Universidade Federal da Grande Dourados, que objetivava avaliar o andamento do projeto homônimo, cujo financiamento do CNPq (processo 477376/2011-8) criou as condições de efetivação de pesquisas em diferentes instituições envolvidas e, por conseguinte, de consolidação da rede.

Estes três dizeres são e foram muito significativos e marcaram a Rede. Quando Ana Maria Preve perguntava “O que está pegando?”, chamava a atenção para o fato de que o modo como nos deixamos afetar pelos problemas é também parte do problema. Instigava-nos a atentar para o que as imagens intensificavam, mais do que aquilo que meramente davam a ver, a mergulhar fundo até encontrar o incômodo, encontrar o que pegava.

Para desmanchar o medo do mergulho, Marisa Valladares trouxe a ideia de que a Rede poderia funcionar como rede de pesca, que permite segurar, prender e vazar: contém o aporte/amparo/apoio, o coletivo e a autonomia inventiva. Trouxe também a ideia de que a Rede poderia ser um meio para pegar o que estava pegando, para (nos) tornar sensíveis as forças que intensificavam algumas imagens geográficas e educativas.

Wenceslao Oliveira Jr. traduziu o meio em que mergulhávamos com e como rede por combates, sempre ressaltando não se tratar de combates ao/à, mas sim de combates com.

“1. Combate no campo das imagens: assumindo a inerente dimensão educativa e subjetivadora que as imagens têm em si mesmas (assim como qualquer objeto da cultura) nos voltamos a fazer experiências e proposições de como poderíamos e podemos lidar com as imagens de outras maneiras de modo a desacostumar, a nós mesmos e aos professores e alunos de maneira geral, os sentidos e significados que damos a elas. Por exemplo: buscamos fazer a fotografia e as obras audiovisuais escaparem do sentido habitual de documento do real, de prova factual-verídica da existência de algo, de neutralidade capaz de nos dar a ver a realidade em si mesma, considerando, sobretudo, que a forma de mostrar este algo é também parte dos sentidos e significados que se expressam numa certa imagem. […] a principal ação educativa (subjetivadora) de uma imagem é nos dizer como devemos experimentar a imagem, nos expormos a ela, como imagem.

  1. Combate no campo do (conceito de) espaço: assumindo que o pensamento espacial geográfico tem sido, de certa maneira, aprisionado numa concepção redutora do que seja o espaço: como algo extensivo, sobre o qual se dispõem as coisas; como algo que se dá fora das imagens, as quais simplesmente o capturariam/ registrariam, sem que ele ganhasse existência também como/nas/através das imagens. Para nós, o espaço é tomado como algo expresso nas obras – mapas, fotografias, vídeos… – e não como algo ali representado. Espaço como algo que se configura na intensidade da vida (das/nas imagens) e não como uma superfície sobre a qual a vida se dá. Espaço como composições eventuais de trajetórias-forças coetâneas, humanas e inumanas, que negociam poderes-relações a cada momento-lugar, estando todas elas sempre em devir, abertas para o porvir, para outras composições espaciais que se façam existir
  2. Combate no campo da educação: que pode ser realizado sobre/com as forças-trajetórias inumanas que compõem a educação contemporânea (tanto escolar como não escolar) ao criarmos ou lidarmos com imagens que fogem dos sentidos e lugares culturais já estabelecidos para elas (seja dentro ou fora dos percursos escolares), uma vez que, ao forçarmos o aparecimento de outras formas imagéticas em atividades educativas, estamos forçando também os professores e alunos a terem que lidar com as imagens (as novas e as já institucionalizadas) a partir de outras possibilidades de pensamento e criação, fazendo com que as imagens (seus usos, sentidos, significados, expressividades…) entrem em devir”.[1]

Observando a trajetória da Rede, do início de sua consolidação até agora, é bem claro que estas três linhas – o que pega, fazer rede e combate com – compuseram nosso ritornelo, o fio da cançãozinha com que saímos de casa[2]. E foi com isto que inventamos, produzimos, expandimos, tensionamos, processos cujos resultados podem ser acompanhados em nosso site www.geoimagens.net. Foi com esse trio de linhas que deixamos nossas pegadas no percurso conjunto e coletivo que realizamos desde 2009. E mesmo antes disso…

Neste período em que nos enredamos, realizamos cinco colóquios internacionais intitulados “A educação pelas imagens e suas geografias” 3 ; produzimos os anais destes colóquios; organizamos 11 números temáticos ou dossiês em periódicos qualificados de Geografia e de Educação; publicamos 4 livros. Este é o quinto. Estas produções por vezes abarcaram todos os polos da Rede, por vezes foram estruturadas por afinidades das questões que estavam em pesquisa no momento, e, também, por vezes derivaram de atividades coletivas. Em quase todas estas publicações também estiveram presentes convidados e convidadas de fora da Rede. Fazer rede com o Fora, com as forças – pessoas, pensamentos, sensações, imagens, geo-grafias, educações… – que já nos atravessavam, mas ainda não constituíam a Rede.

Neste abrir-se para (o) fora, a Rede tem feito um grande esforço para que sua produção seja disponível em meios eletrônicos e de acesso gratuito.

Boas leituras!

Notas

[1] 1Oliveira Junior, W. M. (2013). Combates e experimentações: singularidades do comum. In: Ferraz, C. B. & Nunes, F. G. (Org.). Imagens, Geografias e Educação – intenções, dispersões e articulações. 1ed. Dourados: Editora da UFGD, pp. 303-314. 2Em referência ao capítulo “1837 – Acerca do Ritornello” In: Deleuze, G. &

[2] Em referência ao capítulo “1837 – Acerca do Ritornello” In: Deleuze, G. & Guattari, F.. (1997). Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, pp. 115-170.

Ano de lançamento

2022

Formato

ISBN [e-book]

978-65-5869-833-3

ISBN

978-65-5869-832-6

Número de páginas

296

Organização

Flaviana Gasparotti Nunes, Gisele Girardi, Wenceslao Machado de Oliveira Junior