Prática de análise linguística nas aulas de língua portuguesa

Rodrigo Acosta Pereira, Terezinha da Conceição Costa-Hübes

AS PRIMEIRAS PALAVRAS NA TECITURA DE FIOS DIALÓGICOS: O QUE ABORDAMOS NESTE LIVRO?AS PRIMEIRAS PALAVRAS NA TECITURA DE FIOS DIALÓGICOS: O QUE ABORDAMOS NESTE LIVRO?

Rodrigo Acosta Pereira
Terezinha da Conceição Costa-Hübes

Ao apresentarmos as primeiras palavras que engendram esta rede textual organizada em forma de coletânea, buscamos amparo em Volóchinov (2017 [1929]) por compartilharmos da ideia de que “Na palavra se realizam os inúmeros fios ideológicos que penetram todas as áreas da comunicação social” (VOLÓCHINOV, 2017 [1929], p. 106). É por meio da palavra que enunciamos nossa vida, defendemos nossos valores, propagamos nossas ideologias, apresentamos nossas verdades e socializamos conhecimentos. Consequentemente, nossas palavras não são neutras; ao contrário, estão sempre “carregadas de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial.” (BAKHTIN, 2014 [1975], p. 95). Todavia, somente reagimos àquelas que, de alguma forma, se dirigem a nós, despertam nosso interesse, chamam nossa atenção devido às suas ressonâncias ideológicas e valorativas.

Com base nesse pressuposto, o que pretendemos, nesta obra, é colocar na arena de embates as palavras PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA (doravante, PAL), considerando se tratar de um conteúdo temático relevante para o ensino de Língua Portuguesa, principalmente na Educação Básica. Logo, esse é o tema que une os fios dialógicos, promovendo um amplo e inconcluso diálogo entre um capítulo e outro, sem a pretensão de ser harmônico ou simétrico, uma vez quem “Os contextos […] estão em estado de interação e embate tenso e ininterrupto” (VOLÓCHINOV, 2017 [1929], p. 197).

A proposta de organizar uma coletânea voltada à Prática de análise linguística nas aulas de língua portuguesa nasce dentro do Projeto de Pesquisa Interinstitucional Estudos dialógicos da linguagem: contribuições para pesquisas em Linguística Aplicada nos contextos escolares e não-escolares1 e estende-se para além dele, uma vez que envolve pesquisadores de diferentes instituições, os quais têm se dedicado, nas últimas décadas, a pesquisas sobre a PAL no ensino de Língua Portuguesa. Se, como diz Bakhtin, “a nossa própria ideia nasce e se forma no processo de interação e luta com os pensamentos dos outros” (BAKHTIN, 2010 [1979], p. 298), entendemos que a opção pela publicação de um livro em forma de coletânea se justifica por promover esse diálogo entre colegas pesquisadores de diferentes instituições que debruçam sobre o mesmo tema e apresentam preocupações comuns no campo da Linguística Aplicada.

Um aspecto comum que une os autores-pesquisadores presentes nesta obra é o fato de sustentarem suas pesquisas na Concepção Dialógica de Linguagem, calcada nos escritos do Círculo de Bakhtin. Nesse suporte, a PAL é compreendida como um fenômeno interacional que propicia a constituição do sujeito via língua(gem). Por meio das interações que estabelecem com o(s) outro(s), os sujeitos (re)significam a língua(gem), estabelecendo uma corrente dialógica através dos enunciados produzidos, nos quais manifestam seus posicionamentos axiológico-valorativos. E, para isso, fazem escolhas linguístico-discursivas em função do projeto enunciativo-discursivo. Logo, se queremos, no ensino de LP, analisar/refletir dialogicamente o/sobre emprego/uso da língua(gem), precisamos considerar as coerções do cronotopo, da esfera de atividade humana, do gênero do discurso, enfim, do contexto no qual o enunciado se inscreve, lembrando que tais escolhas o impregnam de tons valorativos e ideológicos que “expressa[m] a situação histórica concreta que gerou o enunciado” (VOLÓCHINOV, 2017 [1929], p. 228).

É essa compreensão que pretendemos alargar em cada capítulo, fundando as reflexões tanto no campo teórico como no campo prático, de modo que contemple um percurso histórico da proposta de PAL, fundamentos epistemológicos e teóricometodológicos da abordagem dialógica que defendemos, reflexões que se voltam para a prática de análise linguística/semiótica na BNCC, além de algumas elaborações didáticas sustentadas no viés dialógico. Com esse propósito, organizamos a obra em quatro partes que se unem a partir do fio condutor que é a prática de análise linguística de base dialógica.

Ano de lançamento

2021

ISBN [e-book]

978-65-5869-343-7

Número de páginas

531

Organização

Rodrigo Acosta Pereira, Terezinha da Conceição Costa-Hübes

Formato